Como a pandemia dificultou o aborto seguro
12 de julho de 2020Segundo a organização de direitos das mulheres Womenonweb, o acesso ao aborto seguro tornou-se mais difícil desde o início da pandemia do novo coronavírus. "É uma pena. Justamente quando as mulheres mais precisam de apoio, alguns países dificultam o aborto com medidas autoritárias ou censuram a rede", diz Hazal Atay, da organização
A Womenonweb foi fundada em 2006 e tem sede no Canadá. Ela oferece aconselhamento médico pela internet a mulheres que engravidaram involuntariamente e envia medicação para abortar. "Em muitos países, equipes médicas e hospitais estão ocupados com a covid-19, e as instalações para aborto estão fechadas ou têm funcionalidade limitada", explica Atay.
Segundo o Google Analytics, cerca de dois milhões de mulheres visitam o site womenonweb.org a cada mês. O site está disponível em 22 idiomas. O Brasil ocupa o primeiro lugar na lista de procedência dos cliques, seguido por México, Tailândia, Indonésia, Polônia e Estados Unidos. A Alemanha ocupa a 17ª posição.
A plataforma é direcionada principalmente para mulheres em países onde o aborto é proibido ou possível apenas em condições restritas. Em alguns países, como Arábia Saudita e Turquia, o acesso está bloqueado, segundo a organização.
Já o bloqueio na Espanha é recente. O Ministério da Saúde espanhol justificou a medida dizendo que a venda pela internet de remédios abortivos não é permitida no país. "A Agência Espanhola de Medicamentos e Produtos Sanitários não pode assumir riscos para medicamentos cuja origem desconhece, que não são aprovados na Espanha e que não são ingeridos sob supervisão médica", afirma.
O ministério observa que "os serviços da Womenonweb são de grande valor" em países onde as mulheres não podem interromper a gravidez legalmente, o que não seria o caso na Espanha, onde os abortos são permitidos nos primeiros três meses de gestação.
A droga para abortar têm os ingredientes ativos mifepristona e misoprostol. De acordo com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a conduta médica de abortos, estabelecida em 2018, "uma gravidez pode ser interrompida até a 12ª semana pela gestante de forma autônoma, através da combinação dos dois ingredientes ativos, mesmo sem supervisão médica direta".
"Os comprimidos estão na lista de medicamentos essenciais da OMS", afirma Mara Clarke, fundadora da Abortion Support Network, uma rede do Reino Unido de apoio ao aborto. A organização possibilita a mulheres de países europeus onde o aborto é proibido, como Malta e Polônia, viajar para países com legislação liberal.
"As restrições devido à pandemia aumentaram o pânico de mulheres com gravidez indesejada", disse ela em entrevista à revista alemã Der Spiegel. Segundo Clarke, o número de telefonemas mensais de Malta dobrou desde que as fronteiras foram fechadas. Muitas mulheres estão preocupadas com o fato de não receberem as pílulas para aborto pelo correio.
Na Alemanha, mulheres com gravidez involuntária também parecem aproveitar a pandemia para praticar aborto medicamentoso em casa. Pelo menos é o que indicam as frequentes visitas ao site da womenonweb. "Só podemos fazer suposições sobre os motivos disso", diz Atay. "Talvez seja a insuficiência de informações sobre aborto, talvez o medo da estigmatização, ou a falta de um seguro de saúde ou de permissão de residência."
Regine Wlassitschau, da entidade alemã de aconselhamento Pro Familia, suspeita que sejam mulheres "que não querem aparecer no contexto do sistema de saúde". Na Womenonweb, as mulheres são aconselhadas online por uma médica na Holanda. "Há muita responsabilidade nas mãos das médicas", diz Wlassitschau.
O ministério alemão para Assuntos de Família ressalta que não há uma cooperação ou um acordo com a womenonweb. Questionado pela DW, um porta-voz deixou claro que "o chamado 'uso doméstico', em que medicamentos são adquiridos por prescrição na farmácia e tomados com suporte telemedicinal, não é permitido na Alemanha".
Após 15 anos de experiência, a womenonweb é pragmática. Devido ao bloqueio do seu site em muitos países, foi acionada a ONG parceira womanonwaves, para que as mulheres continuem tendo acesso a informações sobre aborto.
A organização fundada em 1999 pela médica holandesa Rebecca Gomperts ficou conhecida com abortos praticados em navios fretados em águas internacionais. Em seu site estão listados novos endereços para os numerosos sites bloqueados.
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