Como integrar os refugiados no mercado de trabalho alemão
13 de outubro de 2015O empresário Markus Staib, dono de uma padaria com 400 funcionários na cidade de Ulm, é alguém que pensa no futuro. E, como ele mesmo diz, está empenhado em fazer o melhor com a chegada de cada vez mais refugiados à Alemanha.
No início de setembro, ele empregou três aprendizes: um da Somália, outro da Eritreia e um do Paquistão. Staib se diz satisfeito: "Eles são muito dedicados, até porque são mais velhos do que os aprendizes que costumamos ter, que têm entre 16 e 18 anos. O mais jovem entre os refugiados já tem 25 anos, isso é outra maturidade".
Há anos Staib enfrenta dificuldade para preencher todas as vagas de aprendiz da padaria. Um plano para trazer estagiários de países do sul da União Europeia – com elevado índice de desemprego entre os jovens –, fracassou, apesar do apoio da Câmara de Comércio de Ulm.
Aí surgiu a ideia de preencher as vagas com refugiados. Foi uma boa solução, afirma Staib, cinco semanas após o início da experiência. "Isso parece bom demais para ser verdade, mas a verdade é que estamos positivamente surpresos e gostamos de trabalhar com eles."
Só que enquanto na padaria os novatos podem se comunicar com gestos ou usando algumas frases em inglês, nos cursos profissionalizantes, o desafio é bem maior – e Staib sabe disso. "Nesse quesito já prevemos algumas dificuldades, pois se trata de conhecimento teórico, de prestar atenção e, sobretudo, de entender o que é ensinado. Isso será mais difícil que o trabalho prático na padaria", comenta. Por isso, cada aprendiz estrangeiro será acompanhado por um aprendiz alemão, que pode ajudá-lo.
Solução 3 + 2
A motivação dos refugiados que estão na Alemanha há um ano e até agora não podiam trabalhar impressionou o padeiro de Ulm: "Muitas vezes, os jovens da Alemanha não dão mais valor àquilo que lhes é oferecido. Como os refugiados vêm de países em que não há tantas possibilidades, eles dão mais valor para essa oportunidade de formação. Nesse sentido, nós fazemos algo por eles, e eles, por nós".
É crescente o número de donos de empresas que, assim como Staib, têm aberto novos caminhos profissionais para os requerentes de asilo. No contrato dos três estrangeiros consta que os refugiados farão um curso de aprendizagem de três anos em sua padaria. Para isso, eles devem se apresentar no escritório de imigração a cada seis meses e confirmar que ainda fazem o treinamento.
A essa altura da crise os políticos também já entenderam que deve haver uma maior segurança jurídica para os aprendizes e seus empregadores. É a chamada solução "3 + 2", que garante que os alunos não serão deportados em seus três anos de estudo e também, pelo menos, até dois anos após a conclusão. "Para mim, é natural que nós não devemos apenas ensinar essas pessoasuma profissão, mas também oferecer oportunidades após o treinamento. É a ideia de que não teremos somente aprendizes agora, mas trabalhadores bem treinados mais para frente", diz Staib.
Muitas empresas de Ulm que exigem trabalho braçal estão desesperadamente à procura de jovens talentos. Só na Câmara do Comércio da cidade – uma das 53 câmaras na Alemanha e responsável pelo distrito de Alb-Donau, com cerca de 200 mil habitantes –, segundo Staib, mil vagas de aprendiz não foram ocupadas. "Se somarmos as vagas preenchidas em todas as câmaras da Alemanha, vamos ver que não dá nem 1,5 milhão", calcula Staib. "Mas acho que temos muitas chances e não podemos deixar passar".
Caminho difícil
O cientista político Dietrich Tränhardt lida, há muitos anos, com a integração dos imigrantes. Como Staib, ele também tem uma abordagem pragmática: "As pessoas que vêm até nós estão muito dispostas a trabalhar. Elas já querem resolver tudo, mas leva um tempo até conseguirem de fato uma oportunidade. Um dos motivos é o conhecimento precário da língua, e a segunda razão é a burocracia alemã", diz Thränhardt.
Para o pesquisador, é fundamental que os refugiados consigam encontrar emprego rapidamente – não apenas porque isso aliviaria financeiramente a sociedade. "O trabalho confere autoestima e um lugar na sociedade, ajudando na integração. Por isso, a proibição para trabalhar deve cair, isso é totalmente contraprodutivo."
É muito longa também a espera até os refugiados saberem se o pedido de asilo foi aprovado e terem uma perspectiva de residência permanente. Além disso, o Serviço Federal de Migração e Refugiados (BAMF, na sigla em alemão), que tem "falhado totalmente", na avaliação de Thränhardts, precisa se reorganizar e, desde o início, ter a integração do refugiado no mercado de trabalho como missão central. O plano do novo chefe do BAMF, Frank-Jürgen Weise, de trazer milhares de funcionários das Agências de Emprego para trabalhar no escritório, na opinião de Thränhardts, vai na direção certa.
O pesquisador sabe, porém, que entre as centenas de milhares de refugiados que chegam, poucos possuem as qualificações que o mercado alemão procura. "No geral, os imigrantes que vieram como requerentes de asilo para a Alemanha estão entre os grupos de renda mais baixa no mercado de trabalho", diz o relatório atual do Instituto para Pesquisa de Emprego e Mercado de Trabalho (IAB) alemão.
Para mudar isso permanentemente, é preciso investir pesado em educação e na integração rápida ao mercado de trabalho, enfatiza Dietrich Thränhardt. "Precisamos de mais professores, de mais educadores no jardim de infância. Esse é um problema puramente quantitativo, precisamos de uma grande ação nos cursos de língua alemã, uma série de coisas precisa acontecer. Depois, as autoridades federais devem cumprir os seus deveres ".