1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
SociedadeAfeganistão

Como o veto a salões de beleza afeta as mulheres afegãs

6 de julho de 2023

Decreto do Talibã é a mais recente de uma série de medidas que têm afastado as afegãs da vida pública. Com o fechamento de todos os salões femininos do país, mais de 50 mil mulheres deverão ficar desempregadas.

https://p.dw.com/p/4TWGf
Esteticistas maquiam clientes em salão de beleza de Cabul, no Afeganistão, em foto de 25 de abril de 2021.
Para muitas afegãs, salões de beleza são uma das poucas possibilidades de fonte de rendaFoto: Rahmat Gul/AP/picture alliance

Todos os salões de beleza e cabeleireiros para mulheres no Afeganistão terão que fechar. A decisão, anunciada pelo Talibã na última terça-feira (04/07), não foi acompanhada de nenhuma justificativa. O porta-voz do Ministério da Moral, Mohammad Sidik Akif Mahajar, limitou-se apenas a confirmar a proibição promulgada por decreto.

Segundo a Câmara de Comércio de Cabul, mais de 50 mil mulheres no país deverão ficar desempregadas com a nova medida. "Existem atualmente cerca de 12 mil salões de beleza femininos operando no Afeganistão", disse à DW Abdul Latif Salehi, diretor do órgão. Agora, esses estabelecimentos têm até 26 de julho para fechar suas portas.

Para muitas afegãs, os salões de beleza são uma das poucas formas de ganhar dinheiro. Um exemplo é Fatemeh: "Após a morte de meu irmão em um ataque suicida em Cabul, tornei-me a provedora de uma família de cinco", conta ela à DW. "Agora fico muito preocupada com o que acontecerá comigo e com minha família quando o salão fechar."

Crise humanitária

O Afeganistão vive atualmente um dos piores desastres humanitários do mundo. Segundo as Nações Unidas, dois terços da população não têm o suficiente para comer, e quase um milhão de crianças sofrem de desnutrição aguda.

Além disso, devido a flagrantes violações dos direitos humanos e das mulheres, a comunidade internacional não reconhece o domínio talibã no Afeganistão, levando à cessação de grande parte da ajuda internacional ao país. Apesar disso, o Talibã continua emitindo novas proibições, as quais afetam sobretudo as mulheres.

Meninas afegãs em sala de aula de escola religiosa em Cabul, Afeganistão, em foto de 11 de agosto de 2022.
A partir da sexta série, meninas só podem frequentar escolas religiosasFoto: Ebrahim Noroozi/AP/picture alliance

Laleh, uma cabeleireira de Herat, pede ao Talibã que reconsidere sua decisão. Em entrevista à DW, ela diz que segue todos os regulamentos e regras e que não viola a lei da sharia. "Peço ao Talibã que não restrinja ainda mais os direitos das mulheres e não transforme nossas vidas num inferno", diz ela em tom de desespero.

No ano passado, o Ministério da Moral e da Virtude talibã emitiu um comunicado pedindo a todos os salões de beleza femininos que preparassem suas clientes antes de aplicar a maquiagem, de forma que elas pudessem também rezar na sequência. As clientes tinham, portanto, que primeiro lavar o rosto e as mãos com água antes de serem maquiadas ou terem seu cabelo cortado.

"Não entendo a misoginia do Talibã"

Mulheres como Nasrin estão agora revoltadas com o Talibã. "Não entendo a misoginia do Talibã", disse a cabeleireira, que administra um salão de beleza em Cabul há anos. "Por que as mulheres não deveriam ter o direito de cortar o cabelo? Por Deus, estamos fartos de viver nessas condições. Fizemos tudo o que eles pediram. Eles recebem inclusive impostos do meu salão. Apesar disso, eles ainda querem nos barrar."

Desde que tomou o poder em agosto de 2021, após a retirada apressada das tropas internacionais, o Talibã tem expulsado as mulheres cada vez mais da vida pública. Primeiro, desapareceram das ruas cartazes e fotos de mulheres. Salões de beleza femininos também tiveram que pintar suas vitrines de preto ou cobri-las com cortinas, entre outras restrições gradualmente anunciadas. Hoje, as mulheres não podem trabalhar para organizações humanitárias nem frequentar universidades e escolas secundárias.

Nasrin conta que, em seu salão, trabalham dez estudantes privadas do direito à educação. Se ela tiver que fechar o estabelecimento, todas ficarão desempregadas.