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Como os filhos de imigrantes aprendem alemão

(ms)22 de outubro de 2002

A Associação de Trabalho Pedagógico com Crianças de Famílias de Imigrantes recebeu um prêmio pelo método com que ensina aos baixinhos o aprendizado do idioma alemão.

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Crianças que falam alemão têm menos dificuldades para aprender a ler e escrever no idiomaFoto: AP

A Alemanha é um país de imigrantes, embora alguns políticos teimem em não reconhecer. Há décadas que a Alemanha abriga imigrantes de todas as partes do mundo. Apesar disso, existem pouquíssimos cursos de alemão para estrangeiros no país. São as instituições particulares que tomaram conta do setor e que costumam implementar trabalhos pioneiros.

Um exemplo é a Associação de Trabalho Pedagógico com Crianças de Famílias de Imigrantes (Verein zur pädagogischen Arbeit mit Kindern aus Zuwandererfamilien), conhecida como VPAK, que há mais de 20 anos ministra aulas de alemão para adultos e crianças. Pelo seu método exemplar, a associação recebeu o Prêmio de Fomento do Idioma Alemão, em 19 de outubro.

Monika Dittrich, da Deutsche Welle, visitou um projeto mantido pela associação. Trata-se de uma creche localizada nas proximidades da estação central de trens da cidade de Osnabrück. Das crianças que vivem no bairro, 70% são filhos de imigrantes. Em casa elas falam russo, turco ou albanês. A maioria entende pouco alemão. O objetivo da VPAK é mudar este quadro ensinando o idioma na fase de pré-alfabetização.

Mais do que junção de palavras

Alexander, Natalie e Christine, por exemplo, estão aprendendo alemão sentados em uma pequena mesa redonda com a educadora, que tira de dentro de uma cestinha diversas figuras de animais e vai falando frases simples como "leões rugem", "gansos grasnam alto". A tarefa das crianças é afixar as figurinhas em um mural após repetir as palavras.

A brincadeira incute um processo subliminar de aprendizado do idioma. As crianças aprendem não apenas palavras novas mas também assimilam a estrutura do idioma alemão. O material deste método foi desenvolvido, entre outros, pela pedagoga Doris Tophinke.

"Costumamos pensar que a palavra é uma simples unidade, o que não é verdade. Falar não é uma junção de palavras com sentido e sim uma estrutura rítmica. Quando escrevemos, separamos as palavras. Porém, essa separação não existe na língua falada", explicou Tophinke.

Exatamente por isso, as crianças que ainda não foram alfabetizadas captam o idioma estrangeiro como um todo e não como uma sequência de palavras isoladas. No curso ministrado na creche de Osnabrück, os baixinhos aprendem a escutar a estrutura do idioma alemão. Depois de um tempo, são capazes de separar os palavras, identificar os fonemas e falar no ritmo natural da língua alemã. Este é um passo importante para o futuro aprendizado da leitura e escrita.

Experiência de mais de duas décadas

A VPAK não restringe sua atuação somente na creche de Osnabrück. Há mais de 20 anos esta associação alemã privada está voltada ao ensino do alemão para filhos de imigrantes. Ela ministra cursos especiais de alfabetização, oferece acompanhamento para as tarefas escolares e desenvolve projetos de apoio ao ensino particular para alunos mais velhos.

A pedagoga Tophinke realiza cursos de aperfeiçoamento para educadoras. Afinal, só quem tem conhecimento teórico sobre o aprendizado de um segundo idioma pode realmente ajudar as crianças estrangeiras a falar o alemão. Nos últimos vinte anos, mais de dez mil filhos de imigrantes foram atendidos pela VPAK.

Falta engajamento do Estado

O sucesso da associação reflete, entretanto, uma triste realidade: o descaso com que o assunto é tratado por políticos e pelas escolas, conforme esclareceu a presidente da VPAK, Christa Röber-Siekmeyer: "A existência da associação é quase uma prova de que o Estado não leva a sério seu compromisso com este setor da educação. O que nós fazemos é tarefa básica do governo. É ele que tem a obrigação de propiciar o melhor apoio para que todas as crianças desenvolvam seu potencial".

Christa Röber-Siekmeyer afirmou ainda que muitos filhos de estrangeiros acabam sendo discriminados por falta de um curso apropriado de alemão. Crianças inteligentes vão parar em escolas especiais só porque não dominam o idioma.

Mudança na formação profissional

Para minimizar o problema, o ideal seria oferecer cursos na fase de pré-alfabetização sem esquecer de também instruir os educadores para a tarefa. "Gostaria muito que o curso de magistério orientasse os futuros professores sobre o significado de ensinar o alemão para crianças que têm outra língua materna", revelou Röber-Siekmeyer.

No próximo ano, Alexander, Natalie e Christine vão para a escola. Como os três russos estão acompanhando o curso da VAPK na creche que freqüentam, com certeza não terão grandes dificuldades para serem alfabetizados. Eles já entendem bastante alemão e conseguem captar a estrutura das palavras nas frases.