Crise na Líbia
26 de fevereiro de 2011Enquanto na Líbia prosseguem os confrontos entre oposicionistas e aliados de Muammar Kadafi, a comunidade internacional se movimenta para determinar sanções contra o país. Em Nova York, o Conselho de Segurança da ONU tem agendada reunião extraordinária para este sábado (26/02) onde discutirá a imposição de sanções contra o governo líbio.
As forças de segurança governamentais deixaram neste sábado o bairro de Tajoura, no subúrbio da capital Trípoli, depois de cinco dias de confrontos com opositores. Os moradores da região afirmaram que tropas abriram fogo contra manifestantes que tentavam marchar de Tajoura até a Praça Verde, no centro da capital, durante a noite. No incidente, foram mortas pelo menos cinco pessoas. Um funeral uma vítima do confronto na manhã de sábado reuniu milhares de pessoas e se tornou mais um protesto contra Kadafi.
Filho de Kadafi: paz voltou à Líbia
Os incidentes em Tajoura contradizem as declarações do filho do ditador, Seif al-Islam Kadafi, na noite de sexta-feira, de que a paz haveria retornado à Líbia. "Se vocês ouvirem fogos de artifício, não confundam com tiros", afirmou, sorrindo, diante de repórteres estrangeiros levados ao país sob intenso controle governamental.
Ele reconheceu que as forças de Kadafi encontraram alguns "problemas" em cidades do oeste do país, como Misrata, a terceira maior da Líbia, mas acrescentou que o exército estaria pronto a negociar. "Espero que não haja mais derramamento de sangue. Amanhã já teremos resolvido o problema", prometeu.
Diplomatas afirmaram que mais de 2 mil pessoas já foram mortas durante os protestos no país. No aeroporto internacional de Tripoli, milhares de trabalhadores estrangeiros desesperados cercaram o portão principal, na tentativa de deixar o país, enquanto a polícia impunha barreiras, impedindo a entrada das pessoas.
"Legitimidade zero"
Depois que o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon cobrou urgência quanto à questão da crise na Líbia, diplomatas da ONU acreditam ser possível o Conselho de Segurança aprovar ainda neste sábado um esboço de resolução pedindo sanções como embargo de armas, de viagens e congelamento de bens dos líderes líbios.
O governo dos Estados Unidos impôs sanções ao governo da Líbia e disse que a legitimidade do líder Muammar Kadafi foi "reduzida a zero". Em resposta à dura repressão do líder líbio contra oposicionistas, o presidente norte-americano, Barack Obama, assinou uma ordem executiva que congela os ativos de Kadafi, sua família e funcionários governamentais de altos escalões, assim como do governo líbio e do banco central do país.
“Estas sanções visam atingir o governo de Kadafi, protegendo os ativos que pertencem ao povo da Líbia”, assegurou Obama em comunicado. "O governo de Muammar Kadafi violou as normas internacionais e a decência comum e deve ser responsabilizado por isso", criticou.
UE decide
Washington anunciou as sanções e também fechou sua embaixada e retirou seus diplomatas do país, depois que uma barca especialmente fretada e um avião com cidadãos norte-americanos deixaram a Líbia na sexta-feira.
O governo de Obama foi criticado pela resposta relativamente moderada até agora às crises nos países árabes. Entretanto, funcionários norte-americanos afirmam que o temor pela segurança de seus cidadãos ditaram o tom ameno de Washington.
Os membros da UE concordaram em sanções como proibição de entrada e bloqueio de contas do clã de Kadafi. Também são planejadas proibições de exportação de armas e de outras mercadorias que possam ser utilizadas para reprimir os protestos no país. As medidas devem ser aprovadas formalmente no começo da próxima semana. Para isso, todos os 27 Estados do bloco devem estar de acordo.
Berlusconi: Kadafi não controla mais o país
O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, afirmou que o líder líbio, Muammar Kadafi, perdeu o controle sobre seu país, e advertiu sobre a crise humanitária que se aproxima. Berlusconi é tido como o maior aliado europeu de Kadafi. "Tenho notícias frescas de há alguns minutos, e parece que, realmente, Kadafi já não controla a situação na Líbia”, afirmou o chefe de governo durante uma reunião política em Roma.
Berlusconi, que foi relativamente suave ao condenar a violência na Líbia, disse que as revoltas populares no norte da África poderiam levar à democracia e à liberdade, mas também dar lugar a "perigosos centros de fundamentalismo islâmico, a poucos quilômetros de nossas costas", assim como a um êxodo em massa de refugiados.
"Por isso, Europa e o Ocidente não podem ficar como espectadores neste processo”, disse. A Itália tem fortes relações comerciais com a Líbia, sua antiga colônia, que fornece cerca de 25% do petróleo e 12% do gás consumido no país.
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o primeiro-ministro britânico, David Cameron, pediram neste sábado por uma rápida tomada de decisão por sanções contra o regime de Muamar Kadafi. Segundo porta-voz do governo alemão, em conversa telefônica os líderes dos dois países concordaram em cooperar de forma estreita para retirar seus cidadãos que ainda estejam no país norte-africano e também apoiar as sanções determinadas pela UE.
MD/afp/rtr/
Revisão: Augusto Valente