Comunidade internacional reage a operação para depor Maduro
30 de abril de 2019Após o líder oposicionista e autoproclamado presidente interino da Venezuela Juan Guaidó anunciar ter o apoio de militares e convocar o povo venezuelano para derrubar o presidente Nicolás Maduro, líderes internacionais se manifestaram sobre a situação na Venezuela.
"Hoje o presidente interino Juan Guaidó anunciou o início da Operação Liberdade. O governo do EUA apoia plenamente os venezuelanos em sua busca por liberdade e democracia. A democracia não pode ser derrotada", escreveu no Twitter o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo.
Horas depois do posicionamento de Pompeo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, expressou apoio aos opositores. "Estou acompanhado a situação na Venezuela de perto. Os Estados Unidos está ao lado do povo venezuelano e de sua liberdade", escreveu em sua conta no Twitter.
Em um pronunciamento na Casa Branca, o conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Bolton, afirmou que espera que a revolta derrube Maduro e disse que o incidente não pode ser chamado de golpe, pois Guaidó já foi reconhecido como presidente legítimo pelos EUA e outros países.
Bolton se recusou a falar sobre uma possível ação militar americana e afirmou apenas que, para a Casa Branca, todas as opções estão na mesa. O conselheiro disse ainda que os três assessores de Maduro que supostamente prometeram à oposição uma transição pacífica precisam cumprir o compromisso assumido.
De acordo com Bolton, o ministro da Defesa venezuelano, Vladímir Padrino, o presidente do Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela, Maikel Moreno, e o comandante da Guarda de Honra Presidencial, Iván Rafael Hernández, teriam dito que Maduro precisava desistir do poder.
No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro convocou uma reunião de emergência para discutir a situação da Venezuela. "O Brasil acompanha com bastante atenção a situação na Venezuela e reafirma o seu apoio na transição democrática que se processa no país vizinho. O Brasil está ao lado do povo da Venezuela, do presidente Juan Guaidó e da liberdade dos venezuelanos", escreveu no Twitter.
Em entrevista à emissora de televisão Bandeirantes, Bolsonaro afirmou que as chances de o Brasil participar de uma intervenção militar na Venezuela é praticamente nula. "A hipótese de nós participarmos de forma mesmo indireta de uma intervenção armada é muito difícil, não vou dizer que é zero, mas é próxima de zero", disse.
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, afirmou ser "positivo que haja um movimento de militares que reconhecem a constitucionalidade do presidente Juan Guaidó".
O Grupo de Lima, composto por dez países latino-americanos e pelo Canadá, reafirmou o apoio a Guaidó e exigiu que a vida dos parlamentares da Assembleia Nacional, de maioria opositora, seja respeitada. Em comunicado, o grupo pediu que as Forças Armadas venezuelanas apoiem o líder opositor para "que possa começar a transição democrática, a normalização constitucional e a reconstrução econômica e social" do país
Dirigindo-se à comunidade internacional, o Grupo de Lima apela para seja seguida "com atenção a evolução dos acontecimentos" e pede apoio "às legítimas aspirações do povo venezuelano de voltar a viver em democracia e liberdade, sem a opressão do regime ilegítimo e ditatorial de Nicolás Maduro".
O Grupo de Lima foi criado em 2017 por iniciativa do governo do Peru para denunciar a ruptura da ordem democrática na Venezuela, na ocasião da criação da polêmica Assembleia Constituinte e de uma onda de violentas manifestações que causaram dezenas de mortes.
O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, disse que aprova o apoio de militares da Venezuela ao autoproclamado presidente interino Guaidó. "Parabenizamos o apoio dos militares à Constituição e ao presidente interino da Venezuela. É necessário o mais pleno apoio ao processo de transição democrática de forma pacífica", afirmou Almagro. Outros países sul-americanos, como Argentina, Chile e Peru, emitiram declarações semelhantes.
A União Europeia (UE) comunicou que acompanha os desdobramentos na Venezuela, que rejeita qualquer intervenção militar e reiterou sua petição por novas eleições. O presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, escreveu em seu Twitter que "hoje marca um momento histórico para o regresso à democracia e à liberdade na Venezuela".
O governo espanhol defendeu "um processo democrático pacífico" no país latino-americano. "Desejamos com todas as forças que não ocorra um derramamento de sangue", disse a porta-voz do governo espanhol, Isabel Celaá, que acrescentou que o Executivo espanhol segue com o apoio a Guaidó por acreditar que ele seja a pessoa adequada para liderar a transformação política da Venezuela.
O ministro do Exterior da Espanha, Josep Borrell, afirmou que a Venezuela vive um "momento crítico" e que "não está claro qual é a posição das distintas unidades do Exército" venezuelano. Borrell disse que "ambos os lados estão convocando seus partidários" depois que "parte do Exército realizou uma operação de força como a liberação de Leopoldo López."
Ainda na Espanha, o embaixador da Venezuela no país, Mario Isea, descreveu a libertação de López como um "evento" em consequência de um "movimento civil e militar", que, segundo ele, "já está controlado".Isea afirmou que a Venezuela "é um regime democrático, mas que há uma oposição muito violenta com o apoio internacional para desestabilizar com a intenção, em face do fracasso de todas as suas ações, de chamar a atenção de qualquer forma".
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu aos chavistas e aos apoiadores de Guaidó que "evitem qualquer tipo de violência e deem passos imediatos" para que o país volte a ter calma. Guterres, através de seu porta-voz, Stéphane Dujarric, disse que está acompanhando os últimos eventos "muito de perto" e "com preocupação" e se ofereceu para mediar a situação, caso haja interesse de ambas as partes.
Já aliados de Maduro, criticaram o que chamaram de tentativa de golpe. A Rússia acusou o opositor de fomentar a violência e defendeu o diálogo. Em comunicado, o Ministério do Exterior russo afirmou que é importante evitar o derramamento de sangue e informou que o presidente Vladimir Putin se reuniu com seu conselho de segurança para discutir a situação.
"A oposição radical na Venezuela voltou a usar métodos pesados de confrontação", destaca o ministério russo. "Os problemas que a Venezuela enfrenta devem ser resolvidos por meio de negociações responsáveis e sem pré-condições", acrescenta o comunicado.
O presidente boliviano, Evo Morales, acusou os Estados Unidos de estarem provocando violência e mortes na Venezuela e pediu que a líderes latino-americanos que condenem o golpe promovido por Guaidó.
O ministro do Exterior de Cuba, Bruno Rodriguez, expressou seu apoio a Maduro e exigiu que os EUA "impeçam as agressões contra a paz".
Entre as nações que não reconheceram Guaidó, o México demonstrou preocupação com a escalada da violência e reiterou sua disposição em buscar uma solução pacífica para o impasse venezuelano. O presidente mexicano, Andres Manuel Lopez Obrador, afirmou que acredita na não-intervenção e no diálogo.
PV/CN/efe/lusa/afp/dpa
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