Concurso para empresas que apóiem famílias
9 de abril de 2005Beate Werhahn não precisa de despertador para acordar: sua filha Charlotte, de dois anos, se incumbe da função. Todo dia, às seis da manhã, a diretora do departamento social de uma consultoria de Berlim começa o dia brincando com a filha, antes de tomar café da manhã e levá-la para a creche.
No trabalho, Beate tem a possibilidade de organizar seus horários como lhe convier. Em alguns dias, ela sai às três da tarde para ir buscar a filha. Mas, caso tenha que trabalhar até mais tarde, tem a segurança de que Charlotte ficará em boas mãos, pois a creche também se adapta aos horários de pais que trabalham.
Beate encontrou a creche através da agência Familienservice, que tem um contrato com a firma dela e ajuda os funcionários a conciliar trabalho e responsabilidades familiares em seu cotidiano.
"Para mim, isso ajudou muito, pois só tive dois meses entre a oferta de emprego e o início do trabalho. Em geral, para conseguir vaga numa creche, você tem que esperar nove meses ou até um ano. Portanto, foi essencial ter a Familienservice intervindo como agente", explica Werhahn.
Graças ao apoio da sua empresa, Beate conseguiu encontrar um equilíbrio entre família e emprego. Mas não são todas as profissionais qualificadas para o mercado de trabalho que conquistam isso na Alemanha. Cerca de 40% das mulheres com terceiro grau completo desistem de ter filhos. Este é apenas um dos aspectos que contribuem para a queda da taxa de natalidade e o conseqüente envelhecimento da população alemã.
Pressão social
O sistema educacional também é responsável por esta situação. Afinal, depois de terminar a faculdade e adquirir alguma experiência profissional, a mulher só têm um período de cinco a oito anos para decidir se quer ter filhos ou não.
Mas os valores sociais também são um fator fundamental. Muitas vezes, as mulheres relutam em deixar a carreira de lado por um tempo, com medo de ter que começar tudo do zero, caso retornem ao mercado de trabalho. As que decidem retornar, muitas vezes, se sentem culpadas, como resultado de uma mentalidade cultural que ainda considera más as mães que trabalham.
"Somos os campeões mundiais, em se tratando de não ter filhos", comenta Gisela Erler, da Familienservice. "Muitos países têm taxas de natalidade baixas, mas o fato de tantas pessoas não terem nenhum filho e tantas delas serem altamente qualificadas – isso só mesmo na Alemanha."
Erler sabe que a Familienservice preencheu uma importante lacuna neste sentido – sobretudo para empresas que reconheçam a necessidade de dar apoio a funcionários com filhos, mas por alguma razão não possam solucionar o problema com a criação de uma creche interna, por exemplo.
"As empresas estão começando a entender que a metade de seus funcionários consiste de mulheres jovens, sobretudo em bancos, consultorias e escritório de advocacia", diz Erler. "As firmas também saem perdendo, caso as mulheres decidam sair do emprego para cuidar da família – isso sai caro e não faz o menor sentido."
Incentivo do governo
Para ajudar a reverter este quadro, a Ministra da Família, Renate Schmidt, abriu um concurso para eleger os empregadores mais solidários. Mais de 360 empresas entraram na competição. Entre as 35 firmas finalistas de diversos setores, as vencedoras serão anunciadas em maio. "Fiquei satisfeita com o alto número de participantes e a riqueza de idéias que as empresas alemãs têm para se tornarem mais solidárias às famílias", declarou a ministra.
Beate Werhahn lamenta uma "perda de valores" familiares na sociedade alemã, mas acredita que isso vai se reverter. Ela diz que ter filho foi o melhor que ela podia fazer por sua carreira, pois hoje ela se considera uma pessoa mais realizada. E a felicidade – lembra Gisela Erler, da Familienservice – não deve ser subestimada como fator econômico. "Chefes experientes sabem que quem leva uma vida mais equilibrada com sua família é mais feliz e mais produtivo do que um workaholic..."