Condoleezza Rice: malabarismo entre ação militar e diplomacia
4 de fevereiro de 2005
A nova secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, iniciou sua viagem inaugural aos países aliados da Europa nesta sexta-feira (04/02) com visitas a Londres e a Berlim.
"A Alemanha e os Estados Unidos irão abrir um novo capítulo em suas relações", disse a secretária norte-americana de Estado após seu encontro com o chanceler federal alemão, Gerhard Schröder. É preciso aproveitar esta chance histórica para encontrar uma solução pacífica no conflito nuclear com o Irã, acrescentou Rice, garantindo que os Estados Unidos apóiam os esforços da Alemanha, Grã-Bretanha e França na busca por uma solução diplomática. "O Irã, por seu lado, tem de cumprir seus compromissos e tornar público seu programa nuclear", completou.
Engajamento alemão no Iraque e no AfeganistãoO chefe do governo alemão ofereceu à enviada de George W. Bush um engajamento ainda maior no treinamento de forças iraquianas de segurança e na reconstrução da infra-estrutura do Iraque. Prometeu, além disso, que a Alemanha continuará seus esforços pela estabilidade no Afeganistão.
Outro tema de Rice em Berlim foi a planejada visita do presidente norte-americano, George W. Bush, à Alemanha, no próximo dia 23. Com a reeleição do presidente Bush nos Estados Unidos, em novembro passado, houve quem prognosticasse um prolongamento por mais quatro anos da crise nas relações entre a Alemanha e os EUA. O que vem ocorrendo, no entanto, é um retorno de ambas as partes ao pragmatismo político.
A mudança na política de Washington pôde ser constatada através de inúmeros sinais amigáveis nas últimas semanas. Em janeiro, o ministro alemão das Relações Exteriores, Joschka Fischer, foi recebido com demonstrativa afabilidade pela Casa Branca. E, poucos depois, o ministro alemão do Interior, Otto Schily, foi surpreendido por um inesperado convite do presidente George W. Bush, durante uma visita a Washington. Agora, Condoleezza Rice incluiu Berlim em segundo lugar na sua agenda de visitas, logo após o Reino Unido, principal aliado na invasão do Iraque.
Opções limitadas
Segundo Ingo Peters, especialista em política de segurança da Universidade Livre de Berlim, a ligeira mudança na posição de Washington em relação à Alemanha é decorrente sobretudo do "desastre no Iraque". Até mesmo os chamados "falcões" – a linha dura no governo americano – vêem as opções de ação dos EUA no Iraque entretanto como extremamente limitadas.
Os Estados Unidos e a Europa, especialmente a Alemanha, dão prioridades distintas à luta contra o terrorismo internacional. Nos dois lados do Atlântico parece retornar, contudo, a convicção de que uma estreita cooperação é indispensável.
Um relatório do Congresso americano, publicado no final de 2004, chegou mesmo a afirmar a existência de um papel complementar entre as políticas antiterror dos Estados Unidos e da Alemanha. Enquanto Washington se caracteriza por uma atitude enérgica e de ameaça de intervenção militar, Berlim busca desenvolver recursos mais brandos, pela via diplomática. O tom do relato do Congresso não é de crítica à Alemanha. Ao contrário, elogia explicitamente a política alemã de ajuda ao desenvolvimento e o engajamento da Alemanha no Afeganistão.
Diplomacia em vez de intervenção
Tal divisão tácita de trabalho parece confirmada pelas primeiras declarações da secretária de Estado em solo europeu. "Quem está isolado é o Irã, não os EUA". Com estas palavras, Condoleezza Rice deixou clara a sua posição, logo no início da sua visita inaugural em Londres, a primeira estação da sua viagem.
A nova chefe da diplomacia americana atacou o Irã com duras palavras, mas procurou tranqüilizar os europeus. Declarou que uma eventual intervenção militar "não está em debate no momento". Ainda existem muitos recursos diplomáticos a serem esgotados para convencer o Irã, acrescentou. Ou seja: a mesma posição que vem sendo defendida pelo governo de Berlim.
A secretária de Estado acusou o governo iraniano de dar apoio ao terrorismo, de estar trabalhando na construção de armas nucleares e de tentar eliminar a democracia no Iraque e no Afeganistão. Rice refutou, contudo, a crítica de que a política americana em relação ao Irã não teria o apoio dos aliados europeus, afirmando existir muito pouca diferença entre americanos e europeus no tratamento da questão.
Isso foi confirmado também pelo ministro britânico das Relações Exteriores, Jack Straw, segundo o qual a Grã-Bretanha não pretende, de nenhuma maneira, intervir militarmente no Irã.