Conferência em Bonn
12 de junho de 2009A Conferência do Clima em Bonn acabou nesta sexta-feira (12/06) sem que nenhum dos principais países industrializados anunciasse metas de redução dos gases do efeito estufa em níveis considerados seguros para o planeta.
Na avaliação do secretário-geral do Painel de Mudanças Climáticas das Nações Unidas (UNFCCC), Yvo de Boer, o debate avançou em alguns pontos, mas é preciso mais esforço.
"Estamos confiantes que chegaremos a um acordo até o encontro em Copenhague, mas é preciso mais ambição dos países desenvolvidos quando falamos em cortar emissões."
Os 15 dias de debates reuniram representantes de 183 países, além de organizações não-governamentais. Grupos de trabalho da UNFCCC dedicaram-se a dois assuntos específicos: um lida com a ação cooperativa a longo prazo (AWG-LCA), enquanto o outro discute as metas dos países desenvolvidos segundo o Protocolo de Kyoto (AWG-KP).
Preparação para Copenhague
O encontro em Bonn foi o segundo de uma série de cinco debates promovida pela Organização das Nações Unidas, preparando para a Convenção de Copenhague, em dezembro.
O acordo que será assinado na Dinamarca vai estabelecer metas de redução dos poluentes lançados na atmosfera, com prazo para serem cumpridas até 2020. O novo tratado dará sequência ao Protocolo de Kyoto, assinado em 1997.
Segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), é preciso que, até 2020, o mundo reduza as emissões de dióxido de carbono (CO2) entre 25% a 40%, em relação aos níveis de 1990, a fim de evitar o caos climático provocado pelo aquecimento global. As projeções dos cientistas indicam que, se a humanidade não tomar providências urgentes, o planeta pode ficar até 4ºC mais quente até o fim deste século.
Decepção
A expectativa era de que países como Estados Unidos, Austrália, Rússia e Nova Zelândia revelassem o quanto planejam reduzir suas emissões de gases-estufa.
Neste último dia da conferência, Jonathan Pershing, da delegação norte-americana, disse que o governo federal está comprometido a agir, mas ainda não pode assumir números. Os EUA são o segundo maior poluidor do planeta, só perdendo para a China.
No início da semana, o governo do Japão declarou que até 2020 reduzirá suas emissões de CO2 em 15%, com base nos índices de 2005. Segundo os especialistas, o percentual corresponde a uma redução de 8% em relação às emissões de 1990, proporção considerada insuficiente pela comunidade científica.
Ricos sob pressão
Na sessão plenária de encerramento, o Brasil entregou um documento, em nome de outros 37 países em desenvolvimento, exigindo que as nações ricas se comprometam a cortar as emissões em 40%, até 2020. O embaixador da delegação brasileira, Sérgio Serra, disse que o anúncio foi feito no último momento para provocar alguma reação dos países desenvolvidos.
"Precisamos de um acordo ambicioso e realista. Não se pode deixar para tomar essas decisões em Copenhague. Na minha avaliação, essa parte do debate pouco avançou em Bonn."
Países em desenvolvimento, como Brasil e China, não terão que cumprir metas de redução de emissões, como os países ricos. No entanto, o acordo que será assinado no final deste ano prevê que os governos se comprometam a desenvolver a economia de uma forma sustentável para o planeta.
Na avaliação de Serra, a principal missão do Brasil na luta contra o aquecimento global é reduzir o desmatamento. A derrubada da floresta na Amazônia é a maior fonte de gases causadores do efeito estufa no país. "É claro que podemos contribuir em outras áreas também, como o biocombustível", pontuou o embaixador.
Próximos passos
Em agosto, Bonn sedia um novo encontro. Os outros debates preliminares para Copenhage serão em Bangkok, no fim de setembro, e em Barcelona, em novembro.
Até lá, os grupos de trabalham terão que transformar as 230 páginas de texto redigidas em Bonn num documento que demonstre o compromisso de todos os países participantes a evitar que a Terra se transforme no cenário tenebroso projetado pelos cientistas.
Autor: Nádia Pontes
Revisão: Augusto Valente