Letargia climática
11 de junho de 2010A Conferência das Nações Unidas sobre o Clima terminou em Bonn nesta sexta-feira (11/06) sem resultados conclusivos e acompanhada por críticas – em parte, severas – de ambientalistas e políticos.
Mais de 4.500 especialistas de 182 países se encontraram na cidade renana para preparar a cúpula sobre mudanças climáticas em Cancún, México. Esta visa um novo acordo climático mundial sucessor ao Protocolo de Kyoto, o qual deixará de vigorar em 2012.
Do documento conclusivo de 20 páginas apresentado em Bonn constam os posicionamentos dos participantes e sugestões de metas. Não se trata de um texto para negociações, mas sim de uma base para as futuras conversações. "Como todo o mundo, nós temos problemas" com esse texto, admitiu o delegado da África do Sul, Alf Wills. Mas pelo menos o documento seria "um ponto de partida", ressalvou.
O esboço projeta que as emissões nacionais e globais de gases responsáveis pelo efeito-estufa alcançarão seu ápice em 2020. A partir daí, as emissões globais deverão reduzir-se em, pelo menos, 50% a 85% em relação a 1990. Dos países industrializados, espera-se uma diminuição bem mais pronunciada, entre 80% e 95%. O documento aponta, ainda, a necessidade de que até 2020 essas nações limitem em 25% a 40% suas emissões de gases-estufa, sem contudo estipular o ano a ser tomado como base de comparação.
"Letargia", "paralisia", "pega-varetas"
A organização ambientalista Germanwatch declarou-se otimista, comentando que, "em nível técnico", as negociações em Bonn teriam aberto o caminho para avanços na proteção internacional do clima. Agora, a bola estaria no campo da política. "O G20 estabelecerá um sinal para os progressos no clima? A União Europeia aceitará uma meta de redução de 30% até 2020?", indaga a ONG.
Em contrapartida, o Partido Verde alemão criticou a "letargia reinante", enquanto o A Esquerda falou de uma "paralisia por choque" no processo climático da ONU, assim como de uma "estratégia de pega-varetas", ou seja: quem se mover primeiro, perde.
Já a associação ambientalista BUND atestou uma conferência "quase sem resultados", cuja conclusão negligenciaria não só as necessidades atuais para a proteção do clima, como "as justificadas expectativas das gerações futuras".
O fiasco de Copenhague
Até o encontro de Cancún, de 29 de novembro a 10 de dezembro próximos, ainda estão programadas duas rodadas de negociações, a primeira novamente em Bonn (sede do Painel de Mudanças Climáticas das Nações Unidas – UNFCCC), e a segunda em Pequim, China.
Na cúpula climática do ano passado, em Copenhague, os participantes somente conseguiram acordar uma meta vaga, de reduzir o aquecimento global em 2ºC em relação à era pré-industrial. Após esse fiasco, consideram-se extremamente distantes as chances de que Cancún resulte num novo tratado para a proteção climática global. Nem mesmo se descarta inteiramente uma prorrogação do Protocolo de Kyoto para além de 2012.
AV/ap/afp/dpa
Revisão: Roselaine Wandscheer