Apoio ao Afeganistão
12 de junho de 2008Delegações de 80 países e organizações internacionais se reuniram nesta quinta-feira (12/06), em Paris, para discutir o futuro do Afeganistão, delinear sua reconstrução e, sobretudo, garantir recursos para viabilizá-la: a Conferência Internacional de Apoio ao Afeganistão resultou no anúncio de um total de 14 bilhões de euros de investimentos no país ao longo dos próximos anos.
Maior valor anunciado no evento, 10,2 bilhões de dólares (6,6 bilhões de euros) virão dos Estados Unidos. A Alemanha vai contribuir com 420 milhões de euros, e o Reino Unido, com 714 milhões de euros.
O presidente afegão Hamid Karzai apresentou um extenso plano de desenvolvimento para os próximos cinco anos, que deve custar, segundo suas estimativas, 32 bilhões de euros. O plano define como áreas prioritárias a infra-estrutura, a segurança, a educação e a agricultura.
Na agricultura, por exemplo, Karzai destacou a importância de apoiar o cultivo de outros produtos em substituição à cultura da papoula – base da produção de 90% da heroína no mundo. A segurança continua a ser "o principal desafio" do país, declarou o presidente.
Ajuda internacional precisa ser mais coordenada
De fato, os dois problemas foram a principal tecla pressionada pela comunidade internacional. Em contrapartida aos investimentos anunciados, os participantes cobraram ações duras contra a corrupção e culturas agrícolas que levam à produção de drogas.
Mas a cobrança não foi voltada apenas para o lado afegão: "Precisamos de uma liderança mais forte em Cabul, mas também de um esforço coordenado da ajuda internacional", disse Kai Eide, novo encarregado especial das Nações Unidas para o Afeganistão.
O ministro das Relações Exteriores alemão, Frank-Walter Steinmeier, reconheceu avanços já conquistados no Afeganistão, mas destacou que um simples "continuem assim!" não basta. Segundo o ministro, não se pode perder de vista o objetivo principal: fazer o Afeganistão caminhar com as próprias pernas.
Mais soldados no Afeganistão?
Steinmeier disse que a Alemanha vai se engajar ainda mais na ajuda ao país, tanto em nível político quanto financeiro. O apoio deve ser reforçado ainda no âmbito militar, para promover o treinamento do exército afegão. Mas ele se colocou contra a declaração feita nesta quinta-feira na Alemanha pelo ministro da Defesa do país, Franz Josef Jung: em entrevista à rádio alemã Deutschlandfunk, ele disse que o número de soldados alemães alocados no Afeganistão vai aumentar.
Jung não falou em números, mas especula-se que o contingente militar no país possa subir dos atuais 3,5 mil para entre 4,5 mil e 5 mil homens. Setenta mil soldados estrangeiros atuam junto à ainda frágil força de segurança nacional no Afeganistão para tentar conter combatentes associados ao Talibã.
Co-anfitrião do evento ao lado de Hamid Karzai e do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, o presidente francês Nicolas Sarkozy anunciou que vai enviar mais um batalhão para o treinamento de militares afegãos, além de dobrar a ajuda financeira ao país, que passará para 107 milhões de euros.
Nova fase para o Afeganistão
Desde o início da reconstrução do Afeganistão, arrasado depois de 25 anos de guerras contra inimigos variados, quase 10 bilhões de dólares de ajuda estrangeira já foram investidos no país. Agora, seis anos e meio após a queda do Talibã, Karzai disse que o seu país está entrando numa nova fase.
O presidente afegão citou exemplos de avanços conquistados na fase de reconstrução: hoje, 6 milhões de crianças vão para a escola, e uma entre cada três é menina; 85% da população tem acesso a cuidados médicos básicos, o que se podia dizer de apenas 9% da população seis anos atrás. Mas o país continua contando com e dependendo da ajuda internacional a longo prazo, disse.
"Nossa visão para o futuro do Afeganistão é que seremos um povo que vive em paz e sabe mantê-la. Seremos uma nação unida, tolerante e democrática, com direitos iguais para todos. Teremos uma economia livre de drogas, que garanta condições de vida decentes e proteção social para o nosso povo."
A conferência de Paris é a quarta feita em prol do Afeganistão, depois das de Tóquio, em 2002, Berlim, em 2004, e Londres, em 2006. Segundo um relatório divulgado no fim de março pela Agência de Coordenação da Ajuda ao Afeganistão, porém, dos 16 bilhões de dólares prometidos ao país desde 2001, apenas 10 bilhões foram de fato entregues.