Conferência debate anti-semitismo na Europa
9 de junho de 2005Pouco mais de um ano após a Conferência da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) que condenou em Berlim o anti-semitismo como uma "ameaça à segurança mundial", 29 dos 55 países que pertencem à organização enviaram seus representantes a Córdoba, na Espanha, para discutir mais uma vez o fenômeno. A escolha de Córdoba para sediar o encontro é simbólica, uma vez que a cidade, na Idade Média, foi um centro de convivência pacífica entre cristãos, muçulmanos e judeus.
Ensinar as novas gerações
A idéia que move a conferência da OSCE é mostrar que as diretrizes apontadas em Berlim há 14 meses não deverão ficar na memória apenas como um exercício de retórica. Metas concretas no que diz respeito ao "ensino sobre o Holocausto" – um programa que estabelece a obrigação de levar o assunto às salas de aula – devem ser estabelecidas.
Representantes dos diversos países-membros da OSCE vêem na mediação pedagógica sobre a Shoa a chave contra os preconceitos contra os judeus que alimentam o anti-semitismo. "Precisamos colocar as escolas alemãs de novo em condições de ensinar seus alunos sobre o Holocausto, para que principalmente os jovens saibam: isso nunca mais poderá acontecer", observa Gert Weisskirchen, encarregado do assunto dentro da OSCE.
Exemplo do passado não é suficiente
Embora o conhecimento sobre o tema não torne uma população imune ao fenômeno, como alerta Wolfgang Benz, diretor do Instituto Berlinense de Pesquisa sobre o Anti-Semitismo, em entrevista à DW-WORLD: "Certamente o saber exerce um papel importante neste contexto e pode ser usado em prol da democratização. O Holocausto é, afinal, um exemplo que mostra onde a intolerância em forma de um anti-semitismo levado ao ápice pode acabar. Mas girar toda a discussão apenas em torno disso não acredito que seja adequado. Precisamos ensinar a tolerância às novas gerações de outras formas que não apenas apontando para o genocídio dos judeus. Precisamos estar em condições de fazer com que essas gerações entendam a tolerância como um valor altamente democrático, sem termos que apelar apenas para exemplos históricos de intolerância".
Clima avesso a minorias
Para Simone Veil, ex-presidente do Parlamento Europeu, sobrevivente do Holocausto e presidente da Fundação pela Memória da Shoa, o lado mais negro do anti-semitismo moderno é a negação do que aconteceu durante o nazismo na Alemanha. Segundo Veil, a defesa de tal postura deveria ser considerada um crime e punida em toda a Europa.
Outro ponto preocupante, de acordo com a organização de defesa dos direitos humanos Human Rights First, também presente ao encontro, é o número de ameaças, ofensas e ataques a monumentos ou sinagogas no continente. Fenômenos que são com freqüência ignorados pela opinião pública, mas que na prática do dia-a-dia provocam um clima de mal-estar entre grupos étnicos minoritários vivendo na Europa.
Consciência sobre o perigo
Já na esfera política, "é necessário manter a consciência sobre o perigo do anti-semitismo", alerta Kerstin Müller, parlamentar do Partido Verde e enviada a Córdoba como representante do Ministério alemão das Relações Exteriores. Manter os olhos abertos em relação ao assunto, segundo Müller, é uma tarefa que cabe especialmente à OSCE, pois da organização fazem parte países que não pertencem à União Européia e nos quais o anti-semitismo é hoje mais presente do que nunca. "Além da OSCE não há nenhum outro fórum dentro do qual o assunto possa ser debatido desta forma", completa a parlamentar alemã.
Fenômeno nacional
Para diagnosticar o alcance do anti-semitismo após o ingresso de países do Leste Europeu na UE ainda seria "cedo demais", diz o especialista Benz, diante da impossibilidade de encontrar um denominador comum que caracterize o fenômeno em todos os países da Europa. "O anti-semitismo existe acima de tudo como um fenômeno nacional. O polonês é mais impregnado de um caráter religioso que o francês, que por sua vez é mais secular e faz uso de argumentos racistas. Existe, em primeira linha, um anti-semitismo romeno, um húngaro, um polonês e não um europeu em geral", conclui Benz.