Sob o signo do Cáucaso
30 de setembro de 2008Nesta terça-feira (30/09) iniciou-se o sétimo dos Diálogos de São Petersburgo. O fórum, criado pelo ex-presidente da Rússia Vladimir Putin e pelo ex-chanceler federal da Alemanha Gerhard Schröder, visa fomentar o intercâmbio entre as sociedades civis alemã e russa.
Nos anos anteriores, dois dias de conversações entre os dirigentes dos dois países acompanharam os encontros entre os representantes da sociedade civil. Entretanto, o recente conflito no Cáucaso esfriou as relações bilaterais, e a premiê Angela Merkel apenas prestará uma breve visita protocolar ao presidente Dimitri Medvedev.
Divisor de águas
Quando os organizadores do Diálogo de São Petersburgo definiram, em junho último, os temas para o atual encontro, as relações teuto-russas encontravam-se sob o signo do recomeço. Como declarou o recém-eleito presidente Medvedev: a Rússia retornava do frio.
Durante a mais recente cúpula entre Moscou e a União Européia (UE) fora negociado um novo acordo de parceria. E por fim o ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, confirmava: os tempos da Guerra Fria se foram, a Rússia não constitui qualquer ameaça. Assim, a pauta do Diálogo de 2008 incluía uma "parceria de modernização" entre os dois países.
Agora, quatro meses mais tarde, tudo é diferente. O comportamento russo durante o conflito armado na Ossétia do Sul assustou tanto seus vizinhos imediatos quanto o Ocidente. A UE congelou as negociações sobre o acordo de parceria. Por isso, Merkel se limitará a uma visita-relâmpago a Moscou.
Mantido interesse mútuo em parceria
Não há dúvida: o conflito no Cáucaso paira sobre São Petersburgo. Lothar de Maizière, que preside os colóquios, é explícito: "Não podemos nos esquivar do tema Geórgia e Rússia, nem queremos. Queremos definir que possibilidades há – no nível da sociedade civil – para regular, acertar e, justamente, permanecer em diálogo, sem apelar para outras formas de interação. Os tempos da Guerra Fria nos mostraram que quando se silencia, nada é esclarecido, e a coisa se torna cada vez mais perigosa."
Assim, se dará ênfase à forma como o conflito no Cáucaso afetou a relação Rússia-UE. Contudo Dimitri Suslov, do think tank russo Conselho de Política Exterior e de Defesa, não crê que o tema central – parceria em tempos de globalização – perderá em relevância.
"Pelo contrário, justamente os últimos acontecimentos mostraram que tanto a Rússia como a Europa estão interessadas numa parceria. A Rússia porque uma cooperação com a UE – e sobretudo com a Alemanha – pode proteger o país do isolamento, em face da piora das relações com os EUA. A UE está interessada porque nestas difíceis circunstâncias o diálogo representa a chance de se estabelecer como força política autônoma."
Antes do conflito no Cáucaso, a Rússia percebia a União Européia como extensão do braço dos Estados Unidos. Mas após os esforços de mediação de Steinmeier e, mais tarde, do presidente francês Nicolas Sarkozy, Moscou teve que reconhecer: a UE é um ator político autônomo, que em tempos difíceis também tem a capacidade de solver conflitos internos.