Congregação católica admite abusos de 175 menores
22 de dezembro de 2019Pelo menos 175 menores foram vítimas de abuso sexual cometidos por membros dos Legionários de Cristo entre 1941 e 2019, 60 deles pelo próprio fundador da entidade, Marcial Maciel Degollado, de acordo com um relatório interno da poderosa congregação católica divulgado neste sábado (21/12).
Os abusos foram cometidos por 33 religiosos, sacerdotes e diáconos, conforme o relatório elaborado pela Comissão de casos de abuso de menores do passado e atenção às pessoas envolvidas, e que abrange casos ocorridos desde a fundação da congregação, em 1941, até 16 de dezembro deste ano.
"Em sua grande maioria, as vítimas eram crianças adolescentes entre 11 e 16 anos", detalha o relatório, divulgado no site ceroabusos.org.
O documento foi publicado após o papa Francisco ter eliminado nesta semana o segredo pontifício para as denúncias de abusos sexuais, um pedido das vítimas visando garantir maior transparência diante de uma série de escândalos que abalam a Igreja Católica.
O texto tem importância principalmente pelo fato de o Vaticano ter por décadas refutado todas as acusações de abuso de menores contra Maciel. Muitos afirmam que o atraso do Vaticano a responder às acusações era resultado da ligação do fundador dos Legionários com o papa João Paulo 2°, do qual Maciel era considerado uma pessoa próxima.
As primeiras acusações públicas contra Maciel apareceram nos anos 90. O Vaticano não reagiu a elas até 2006, quando o então Papa Bento 16 determinou que ele se retirasse para uma vida de "oração e arrependimento".
Natural do México, Maciel morreu em 2008 aos 87 anos. Além de suas tendências pedófilas, ele também tinha três filhos com ao menos duas mulheres diferentes, fruto de uma "vida dupla".
A congregação, fundada em 1941 por Maciel, argumenta que, com 45 das vítimas, houve progresso em um processo de "reparação e reconciliação", embora reconheça haver necessidade de se facilitar esse processo para as demais.
O relatório indica que, dos 33 padres que cometeram abusos, além de Maciel, cinco estão mortos, oito não são mais padres, um deixou a congregação e 18 ainda fazem parte da entidade, mas estão afastados de trabalhos públicos ou que envolvem contato com menores.
"Cadeias de abuso"
Dos 33 padres que cometeram abusos, 14 deles foram, eles mesmos, vítimas na Congregação, o que evidencia, segundo o informe, a existência de "cadeias de abuso" onde "a vítima de um legionário, ao longo dos anos, se convertia, por sua vez, em agressor".
"Nesse sentido, é emblemático que 111 dos menores abusados na Congregação tenham sido vítimas do padre Maciel, de uma de suas vítimas ou de uma vítima das suas vítimas", afirma o texto.
A comissão, criada em 20 de junho pelo superior geral dos Legionários de Cristo, padre Eduardo Robles-Gil, afirmou que "não pretende que seu estudo tenha sido capaz de descobrir todos os casos", uma vez que estes ocorrem de maneira oculta, as denúncias das vítimas podem levar anos e as informações são incompletas.
"É provável que haja mais casos de abuso do que os relatados no relatório, e as estatísticas precisarão ser atualizadas periodicamente", alerta.
Os Legionários de Cristo, que têm centros educacionais em vários países, se distanciaram de seu fundador Maciel, um agressor sexual que já foi protegido pelo Vaticano e cujo nome hoje é hoje totalmente desacreditado.
MD/afp/dpa/kna
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