Conquistando a América Latina
5 de dezembro de 2002Na Alemanha, qualquer consumidor conhece a marca Siemens. Em sua terra natal, o conglomerado alemão fabrica e vende ferros de passar, aspiradores de pó, fogões, geladeiras e computadores, entre tantos produtos de uso doméstico e pessoal. Os brasileiros, porém, estão descobrindo esta outra face do grupo somente a partir deste ano, através dos telefones celulares de tecnologia GSM.
E com que rapidez. Ao associar-se à operadora Oi para a implantação do padrão GSM de telefonia celular, a Siemens não esperava fazer tão bons negócios tão velozmente. Inaugurada em fevereiro com a perspectiva de produzir 600 mil unidades de aparelhos celulares, a fábrica da divisão Information and Communication Mobile (ICM) em Manaus já ultrapassou a marca de um milhão de telefones GSM entregues e deve chegar a 1,2 milhão até o fim do ano, quase tudo destinado ao mercado interno. Com isto, a companhia alemã domina mais de 50% deste segmento da telefonia móvel no Brasil.
O fenômeno não é isolado. Abrange toda a América Latina. "Em um único ano, nossas vendas de celulares quase quadruplicaram na região. Alcançamos assim a fatia de 5,1% dentre todos os padrões tecnológicos", diz Joe Kaeser, da diretoria mundial da Siemens ICM. Assim como no Brasil, a empresa lidera o segmento GSM também na Venezuela e Jamaica.
"Com nossa ampla carteira de produtos, desde telefones simples até sofisticados, estamos bem preparados para o mercado latino-americano. O continente oferece grande potencial de crescimento para telefonia móvel", acrescenta Kaeser. A companhia comercializa no Brasil oito modelos de celulares GSM, três deles de fabricação nacional e os demais importados da Alemanha e da China. Apesar de menos da metade ser produzida no país, 95% dos vendidos têm Manaus como origem. O conglomerado não atua no setor de tecnologia TDMA e CDMA.
Mas a participação alemã vai além dos aparelhinhos nas mãos dos usuários. A Siemens fornece às operadoras e instala os equipamentos da rede. Novos contratos nesta área ajudarão o conglomerado a expandir-se no continente. Um deles é com a Telecom Italia Mobile (TIM), que optou pela tecnologia GSM para sua rede nos estados brasileiros do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Rio Grande do Sul. Mas também na Venezuela, Chile e Belize a companhia alemã está ampliando seus negócios, o que a fez saltar do quinto para o terceiro lugar este ano no ranking mundial de fornecedores de redes móveis.
A boa resposta do mercado latino-americano alimenta o otimismo da matriz em Munique de chegar a 2004 conquistando 25% do mercado regional de telefonia móvel. No segmento GSM, a Siemens ICM já ostenta uma fatia de 26%. O grupo alemão aposta que este padrão passará a prevalecer com o tempo. Em 2006, um terço dos celulares da América Latina deverão estar usando esta tecnologia.
Se as previsões se concretizarem, a fábrica de Manaus terá de ser ampliada, assim como a de Curitiba, destinada aos equipamentos de rede (estações rádio-base, por exemplo). Dinheiro não faltará. Para os próximos três anos, a Siemens planeja investir 700 milhões de dólares na América Latina, cerca de 50% a mais do que no triênio anterior, números certamente de causar inveja nos ex-donos da Ericsson, que haviam previsto, há poucos anos, que além da companhia sueca somente mais dois grandes fabricantes de celulares sobreviveriam à concorrência, e a Siemens não estaria entre eles. Mas foi a sueca Ericsson que não teve fôlego.