Xenofobia cresce
22 de agosto de 2007O caso de oito indianos agredidos e perseguidos por cerca de 50 jovens alemães em uma festa popular na praça central da pequena localidade de Mügeln, no Leste Alemão, reacendeu o debate sobre a violência de extrema direita no país. Os jovens invadiram a pizzaria na qual as vítimas procuraram abrigo.
Para o Conselho Central dos Judeus na Alemanha, trata-se de um caso de falência política, que torna necessária a denominação de áreas de alto risco, as chamadas "no-go areas"."É preciso advertir estrangeiros ou pessoas facilmente identificáveis como tais a não se estabelecer em determinadas regiões e cidades da ex-Alemanha Oriental", explica Stephan Kramer, secretário-geral da instituição. "Ontem não-brancos, hoje estrangeiros, amanhã gays e lésbicas ou talvez judeus", adverte.
Segundo ele, a divulgação das zonas de risco seria adequada "diante da similaridade dos casos e das reações sempre iguais dos políticos, sem que haja uma mudança perceptível de estratégia na luta contra a xenofobia".
A embaixadora da Índia na Alemanha, Meera Shankar, exigiu uma rápida investigação dos ataques em Mügeln em nome das relações teuto-indianas. "Esperamos que os culpados sejam encontrados logo", disse ao jornal Berliner Zeitung.
No entanto, a busca por testemunhas em Mügeln prossegue com lentidão, já que, segundo a porta-voz da polícia da região, Ilka Peter, alguém que registre uma denúncia terá que continuar vivendo com essa pessoa na mesma cidade durante anos.
Redistribuição de poderes
Em Berlim, aumentam as críticas ao prefeito de Mügeln, que exclui qualquer motivação xenófoba das agressões. Para o ministro Wolfgang Tiefensee, cuja pasta detém a responsabilidade pelo programa Aufbau Ost, para a reconstrução dos estados do Leste, esse é exatamente o caminho errado. Seria necessário reunir os fatos, antes de se excluir qualquer possibilidade.
O Conselho Central dos Judeus argumenta que seria preciso redistribuir as responsabilidades no governo federal para poder combater de forma mais eficiente o extremismo de direita. Kramer sugere que a coordenação da luta contra a xenofobia seja transferida do Ministério da Família para o Ministério do Interior, pois este teria "a experiência e o conhecimento necessários para lidar com o tema". Para Kramer, "o Ministério da Família está sobrecarregado".
Xenofobia aumentou
Segundo Cornelia Habisch, da Central Estadual de Educação Política da Saxônia-Anhalt, a auto-confiança de organizações de extrema-direita vem crescendo. No último ano e meio, criou-se uma série de grupos de ação que visam principalmente o público jovem, com a iniciativa de organizar festas cujo caráter político é dissimulado.
Embora seja um dos estados alemães com a menor parcela de estrangeiros na população (1,9%), na comparação nacional a Saxônia-Anhalt registra a maior ocorrência de crimes de fundo extremista (5 para cada 100 mil habitantes). Habisch salienta, no entanto, que a xenofobia existe tanto no Leste quando no Oeste do país.
De acordo com um estudo da Fundação Friedrich Ebert, ligada ao Partido Social Democrata (SPD), 35% dos entrevistados no Oeste do país acreditam que estrangeiros vêm à Alemanha apenas para tirar proveito do sistema social. No Leste, esse número sobe para 44%.
Segundo Habisch, uma das razões disso poderia estar relacionada à história da República Democrática Alemã (RDA). "No último ano, constatamos que existe uma grande conexão entre o enaltecimento da RDA e a exaltação de idéias autoritárias de direita", conta.
Segundo o secretário do Interior da Saxônia-Anhalt, Holger Hövelmann, "o extremismo de direita há tempos não é mais apenas um fenômeno marginal de nossa sociedade, mas um desafio central de todos nós. Ignoradas em grande parte pela opinião pública, foram criadas estruturas que colocam em jogo nossa liberdade democrática. Aos poucos, o extremismo de direita passa a se inserir em nosso dia-a-dia."