Religião
18 de junho de 2007A polêmica envolvendo a construção de uma grande mesquita em Colônia levou centenas de cidadãos favoráveis e contrários ao projeto às ruas do centro da cidade neste sábado (16/07), quando sindicatos, organizações políticas e religiosas convocaram um manifesto em oposição a outro protesto simultâneo do movimento civil Pro-Köln, uma organização direitista.
Segundo a Confederação Alemã de Sindicatos (DGB), o objetivo era emitir "um claro sinal a favor da convivência respeitosa e construtiva e por uma democracia viva". Com isso, os sindicalistas respondem ao uso instrumentalizado da crítica à construção da mesquita para fins populistas por parte de grupos como o Pro-Köln.
De fato, o Pro-Köln aproveitou a ocasião para convidar políticos de direita e extrema direita de outros países europeus, entre eles Heinz-Christian Strache, presidente do Partido Libertário Austríaco (FPÖ), e representantes do partido belga de extrema direita Vlaams Belang.
Planos não são novos
Mas os planos para a construção da mesquita não são novos. Desde 2005, a União Islâmica Turca (Ditib) decidiu, junto à administração municipal de Colônia, construir um centro religioso num terreno de sua propriedade no bairro central de Ehrenfeld, que possui um alto percentual de população de origem estrangeira.
A maior associação islâmica alemã, que responde por outras 870 associações de mesquitas em todo o país, há tempos opera uma pequena mesquita no local. A diferença é que o novo e representativo centro religioso não apenas é dirigido a toda a população muçulmana de Colônia, mas também servirá como mesquita central para toda a região.
O projeto do arquiteto Paul Böhm prevê a construção de uma mesquita com capacidade para receber até 2 mil fiéis, ornada com uma cúpula de 34 metros de altura e dois minaretes de 55 metros de altura. No entanto, Böhm garante que o resultado será "um prédio moderno e internacional, e não a mera imitação da estética oriental".
Alterando o panorama
Os argumentos contrários à construção são os mais variados. Muitos restringem-se a questões técnicas: uns reclamam que o grande afluxo de fiéis afetaria o trânsito na região e que o chamado dos muezins tiraria o sossego. Outros lamentam que a grande cúpula e os minaretes alterariam drasticamente o panorama da cidade.
No entanto, com uma população de mais de quatro milhões de muçulmanos na Alemanha, o problema esconde outro maior: o do desafio da integração cultural. Em Colônia, a polêmica ameaça projetar uma grande sombra na imagem cosmopolita e multicultural que a cidade propaga de si mesma.
Organizações como o movimento Pro-Köln, que rejeitam de maneira especialmente agressiva a construção da mesquita, aproveitam para tirar proveito do medo da população diante do novo e inusitado. Até então, o governo procurou responder com informação e esclarecimento.
Recentemente, o publicista e sobrevivente do Holocausto Ralph Giordano jogou ainda mais lenha na fogueira ao chamar de "pingüins humanos" as mulheres que cobrem o próprio corpo, declarando como "frustrado" o projeto de integração do Islã na Alemanha e tratando a construção da mesquita em Colônia como "um corpo estranho de uma religião minoritária".
Para os críticos de Giordano, suas declarações só servem de incentivo a organizações populistas como o Pro-Köln. De fato, o grupo tentou ganhá-lo para sua campanha, mas o escritor preferiu manter a distância, menosprezando o grupo como uma "variante local do nazismo", formado por gente que, "se pudesse, me colocaria numa câmara de gás". Tal declaração lhe rendeu um processo.
Minoria perpétua?
Mas, bem ao contrário do que pleiteia Giordano, para os cerca de 120 mil muçulmanos que vivem em Colônia, a maioria de origem turca, exatamente essa ausência de espaços adequados para a prática religiosa poderia constituir um enorme obstáculo à integração cultural.
Como lembra o jornal berlinense Die Tageszeitung, o banimento dos ritos islâmicos a pequenas salas em fundos de quintais apenas perpetua o caráter minoritário de religiões não-cristãs na Alemanha. "Práticas culturais ou religiosas forçadas a se expressar nas formas de underground incentivam apenas aquilo que não queremos: uma sociedade que se fecha teimosamente aos benefícios da Constituição."
"Por que não encontrar lugar para uma mesquita em estilo Bauhaus, que seja", continua o jornal. "Com minaretes e cúpula? Descolada, bonita, apresentável, suntuosa. Brilhante, convidativa, que desperta a curiosidade?"