Continuidade transatlântica e "uma série de problemas"
11 de janeiro de 2006DW-WORLD: Críticos afirmam que as relações transatlânticas sofreram durante o governo do ex-chanceler Gerhard Schröder. A visita Angela Merkel a Washington, na sexta-feira (13/01), poderia ser uma importante oportunidade para melhorar as relações diplomáticas. Que mudanças podemos esperar?
Karsten Voigt: Houve de fato uma imediata desilusão no contexto da guerra do Iraque. Mas, logo depois, as relações melhoraram, ainda durante o governo passado, como se pôde notar na visita do presidente Bush a Mainz.
Agora, entretanto, após as eleições parlamentares alemãs, as relações deverão se aprofundar e melhorar ainda mais. Esta é a intenção dos dois lados, tanto dos americanos quanto dos alemães. E isso com certeza será visível na forma de tratamento (protocolo), no tom da conversa.
Mas, além disso, naturalmente também serão sondados novos campos de interesses mútuos. Interesses comuns há com relação à questão do Irã: neste aspecto, quer-se evitar de todas as maneiras que o Irã disponha de armas atômicas. Também há um interesse alemão em que a situação no Iraque se estabilize e a democracia consiga se firmar no país. E, no final das contas, também existe o interesse alemão em fomentar a democracia em outras partes do mundo.
O senhor falou de um novo tom nas relações transatlânticas. Isso quer dizer que agora vamos ouvir mais esse novo tom ao invés de observar uma nova política do governo alemão?
Na política há uma continuidade. O governo anterior também era favorável ao fortalecimento da Europa e, ao mesmo tempo, empenhava-se por boas relações transatlânticas. Este também é o objetivo do novo governo. Mas é evidente que Washington, depois dos conflitos com o ex-chanceler Schröder, agora vá ao encontro de Merkel com uma expectativa positiva.
Ou seja, espera-se que ela não só ideologicamente, por sua convicção, seja favorável às relações transatlânticas, mas também que, por sua socialização na ex-Alemanha Oriental, valorize de forma especial o engajamento dos americanos pela reunificação alemã e pela liberdade. Isso vai acabar sendo assim.
O senhor acredita que Merkel também conseguirá corresponder às expectativas de Washington em relação à sua visita?
Eu acredito que tanto na Casa Branca quanto na Departamento de Estado se conhece a situação na Alemanha. Conhece-se os partidos e as lideranças políticas, entre elas Merkel. Lá as expectativas são realistas. Mas resta ainda uma série de problemas.
O fato de a Alemanha já estar tão engajada – nos Bálcãs, no Afeganistão, em outras partes do mundo –, apesar de sua capacidade militar tão restrita, faz com que, mesmo que houvesse a vontade politica, o que não é o caso, seria impossível por uma questão de recursos enviar contingentes de soldados ou tropas para o Iraque. Por isso, não se quer em Washington colocar essa questão como exigência a Merkel.
Merkel foi censurada no passado por ter sido pouco crítica com relação aos Estados Unidos. No último final de semana, entretanto, ela surpreendeu muitos com uma crítica severa à prisão norte-americana de Guantánamo. Ela anunciou também que irá abordar a questão com o presidente Bush. Aparentemente, a chanceler não terá papas na língua para tratar de determinados temas, que o governo americano talvez prefira nem levantar, como as reformas da ONU ou os vôos secretos da CIA. O presidente Bush deve estar preparado para uma disputa?
Acho que o termo disputa não está correto. Aqui se trata simplesmente de que há um consenso alemão com relação à concepção que se tem da prisão e de determinados métodos de combate ao terrorismo internacional. Mas este tipo de debate é legítimo em sociedades democráticas. Nos anos 70, também tivemos discussões de caráter controverso, quando tínhamos um terrorismo alemão.
O que estará no centro das conversações em Washington?
Acredito que serão abordados toda a gama de temas das relações bi e multilaterais. Haverá muito tempo para isso, tanto nas conversas informais quanto nos encontros oficiais. Em termos bilaterais, temos poucos problemas. Na maior parte, trata-se de como a Alemanha e os Estados Unidos podem trabalhar conjuntamente para solucionar problemas europeus, assim como nos Bálcãs.
Ou ainda o que os governos pensam sobre a Rússia e a Ucrânia, como vêem o Oriente Médio, como avaliam o problema do Irã e as escandalosas declarações do governo iraniano sobre Israel, mas também os esforços de Teerã para justificar seu armamento nuclear, e de que maneira os dois países podem combater efetivamente este objetivo do Irã.