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"Controle do avanço do Alzheimer pode estar próximo"

Gabriel Borrud (md)22 de setembro de 2015

Considerado pioneiro dos estudos da doença neurodegenerativa, especialista John Hardy destaca progresso nas pesquisas sobre o mal. Em entrevista à DW, ele diz apostar em drogas antiamiloides, ainda em fase de testes.

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Foto: Colourbox

Professor de neurociência da University College de Londres, o geneticista John Hardy é considerado um dos pioneiros dos estudos que permitiram desvendar a evolução do mal de Alzheimer.

Em entrevista à DW, o especialista afirma que, embora ainda não haja uma cura para a doença, é possível que a medicina encontre em breve tratamentos capazes de desacelerar ou mesmo paralisar o progresso da enfermidade.

"Acho que estamos mais perto de sermos capazes de retardar a doença agora, num futuro previsível, talvez nos próximos cinco anos", prevê.

DW: O Prêmio Hartwig Piepenbrock-DZNE, que o senhor receberá na semana que vem, é apenas o mais recente de uma longa lista de homenagens. O senhor é descrito como "o pioneiro" na pesquisa sobre Alzheimer, talvez até como o homem que solucionou a doença. Isso é verdade? O senhor solucionou a doença de Alzheimer?

Em primeiro lugar, eu segui, é claro, as pessoas que vieram antes de mim e, de fato, uma dessas pessoas é Konrad Beyreuther, um dos homenageados anteriormente com esse mesmo prêmio. Um pioneiro? Mesmo antes de mim havia pioneiros que eu segui. Isso é uma coisa. Solucionamos o mal de Alzheimer? Acho que fornecemos o quadro em que podemos ver como a doença começa e como progride, e isso tem sido muito importante. Eu não me descreveria – e não posso imaginar qualquer outra pessoa me descrevendo assim – como a pessoa que solucionou a doença. Ela ainda não está solucionada.

Porträt - Professor John Hardy
John Hardy é professor da University College de LondresFoto: Rolf Eckel

A luta contra o Alzheimer é mais ou menos uma luta contra a degeneração neuronal. Por que as células cerebrais de pacientes com a doença morrem?

Não sabemos exatamente, mas o que acontece é que placas amiloides [depósitos de proteínas] começam a se constituir em torno dos terminais nervosos dessas células nervosas que estão morrendo. As células nervosas reagem a elas de uma forma que, em primeiro lugar, começam a produzir uma patologia dentro delas – chamada patologia do emaranhado – e, em seguida, eventualmente, isso as mata. Demora algum tempo, mas o amiloide constituído fora das células leva essas células a morrerem. Esse é o problema subjacente. Nós não sabemos qual é a função da proteína amiloide, e isso ainda é um grande buraco no nosso conhecimento.

Para que tipo de avanços suas descobertas contribuíram em relação ao tratamento da doença de Alzheimer?

Em termos do tratamento, acho que elas apontaram o caminho para se desenvolver tratamentos, elas apontaram para drogas antiamiloides como o caminho a seguir. Algumas dessas drogas estão agora em fase de estudo clínico. Existem quatro ou cinco estudos clínicos de drogas antiamiloides no momento. Eu realmente espero que alguns desses estudos sejam bem-sucedidos.

O senhor formulou a hipótese amiloide mais de duas décadas atrás. Até que ponto a pesquisa e o tratamento de Alzheimer progrediram durante esse tempo?

A pesquisa percorreu um longo caminho. Entendemos muito mais sobre a doença agora. Conhecemos mais genes envolvidos na doença, entendemos diferentes funções celulares na doença, por exemplo, entendemos um pouco mais sobre o papel das células da glia na doença, entendemos o processo de morte celular melhor do que antes. Houve muitos progressos na compreensão de Alzheimer. Esse processo ainda não ajudou a mudar as terapias para a doença, mas espero que isso mude em breve.

E no que diz respeito a uma possível descoberta da cura?

Acho que estamos mais perto de sermos capazes de retardar a doença agora. Não acredito que conseguiremos reverter a doença, não dentro do meu período de pesquisa, mas posso nos ver retardando ou parando a doença num futuro previsível, nos próximos cinco anos, eu realmente espero.

O senhor acha que o mundo faz o suficiente para combater a doença?

Não, nós não fazemos o suficiente. Estamos fazendo mais e, na verdade, acho que uma das grandes iniciativas aqui na Alemanha tem sido o DZNE (sigla para Centro Alemão para Doenças Neurodegenerativas), que eu acho que tem transformado a ciência alemã de dez anos para cá, que passou de um lugar um pouco atrasado na pesquisa da doença de Alzheimer a uma real força de liderança na investigação sobre demência. E isso é porque o governo alemão tem tomado iniciativas em relação a financiamento. A Alemanha tem realmente sido uma das principais forças em questão de financiamento. Mas, é claro, é preciso haver mais. Gastamos muito menos em pesquisa de Alzheimer do que o fazemos em pesquisa de câncer e, ainda assim, eles são os dois problemas de tamanho semelhante. E a resposta, é claro, não é gastar menos com a investigação do câncer. A resposta é gastar mais em pesquisa de Alzheimer.

Alzheimer é uma doença debilitante. O senhor tem dedicado o seu trabalho a essa aflição nos últimos 25 anos. O que exatamente o faz continuar?

É uma mistura de motivos – motivos venais e bons. Vamos falar sobre os venais primeiro. Eu adoro uma boa competição. O que amo na pesquisa é a natureza competitiva dela, ser a primeira pessoa a ter uma ideia, a primeira pessoa a fazer uma descoberta. Essas são coisas que me impulsionam. Mas a razão fundamental é ajudar as famílias, especialmente os que eu conheço, que vivem a forma inicial da doença. Eu dou palestras para grupos de pacientes e, claro, queremos tornar a vida deles melhor, para que a próxima geração não sofra com essa doença horrível.