Competitividade ameaçada
27 de agosto de 2010O simples ato de acender uma lâmpada econômica, usar o celular ou dirigir ao carro já implica o uso de produtos de tecnologia de ponta que contêm uma grande quantidade de metais e minerais raros.
Circuitos elétricos modernos, catalisadores de gás de escapamento e imãs, por exemplo, contêm matérias-primas que não são inesgotáveis e já passaram a ser comercializadas com comedimento pelos países que as exploram, como a China, por exemplo.
A União Europeia (UE) apresentou uma lista com 14 matérias-primas que deverão se tornar escassas nos próximos anos. Em novembro, a Comissão Europeia pretende apresentar uma estratégia para assegurar a importação de matérias-primas a longo prazo.
China como fornecedora
Muitas empresas e políticos não sabem que a Europa precisa importar aproximadamente 40 tipos de recursos naturais para garantir a produção de tecnologia de ponta. Aproximadamente 14 deles podem se tornar escassos num futuro próximo, diz Gwenolé Cozigou, encarregado da Comissão Europeia para questões ligadas à matéria-prima.
A maioria desses recursos se encontra apenas na China, outros podem ser negociados a preços razoáveis somente naquele país. Congo, África do Sul e Brasil também têm reservas valiosas.
A China é a praticamente a única provedora dos chamados metais de terras raras. O metal mais raro é o ítrio, usado na produção de laser e ímãs. Segundo a Comissão Europeia, a China passou a cobrar impostos e taxas de exportação mais altas sobre esses recursos raros.
Segundo Gwenolé Cozigou, embora a UE esteja negociando com o governo chinês o comércio de matérias-primas, Pequim anunciou recentemente uma redução de 40% nas exportações desses minérios raros. Isso pressiona os compradores estrangeiros a iniciar o processamento industrial de tais matérias-primas dentro da própria China.
"A China quer desenvolver sua indústria, um objetivo perfeitamente aceitável. Mas se isso, no entanto, violar as regras do comércio, vamos nos opor", declarou Cozigou. A UE, juntamente como os Estados Unidos e o México, já chegou a recorrer a um tribunal arbitral da Organização Mundial de Comércio (OMC).
UE e diplomacia
"Os chineses querem atrair para o país a tecnologia de processamento e elevar, consequentemente, o valor agregado", comenta Hubertus Bardt, especialista em matéria-prima do Instituto de Economia Alemã (IW), sediado em Colônia.
A União Europeia precisa assegurar, por meio de pressão diplomática e negociações comerciais, que a China não explore seu monopólio para além da medida, observa Bardt..
"A ameaça não é tão grande, principalmente porque é do interesse geral manter o livre comércio em outros âmbitos. É claro que é possível ameaçar a China com restrições de importação a seus produtos. Ninguém deseja uma coisa dessas, mesmo porque isso nos prejudicaria. Não é fácil a situação; difícil saber o caminho a seguir. Mas as negociações comerciais com a China prosseguem, assim como o diálogo político sobre temas variados... O importante é sempre abordar esse problema como um ponto urgente", comenta Bardt.
Crescimento da demanda
O vice-Presidente da Comissão Europeia, Antonio Tajani, prevê para os europeus uma concorrência cada vez mais acirrada no mercado de matérias-primas. O fornecimento de recursos naturais, além de fontes de energia como petróleo, gás e carvão, é decisivo para a competitividade da economia europeia como um todo.
A crescente demanda por tecnologia de ponta, baterias e componentes eletrônicos em países emergentes como China, Índia e Brasil deve agravar a situação. "Há diferentes razões que levam ao crescimento da demanda mundial por matéria-prima. Isso se deve ao crescimento dos grandes países emergentes, principalmente a China. E, guardadas as proporções, também Índia e Brasil. Isso, sem falar no desenvolvimento tecnológico – mobilidade elétrica, células solares, lâmpadas que economizam energia. São coisas que requerem mais matérias-primas, e matérias mais escassas, do que a antiga lâmpada", diz Bardt.
Ajuda ao desenvolvimento
Além de prosseguir as negociações comerciais e exercer pressão política, a União Europeia se esforça em fortalecer a cooperação com os países em desenvolvimento detentores de reservas naturais. Conversas nesse sentido já foram iniciadas com a União Africana.
"Não se trata de tornar o fornecimento de matéria-prima uma condição para a ajuda ao desenvolvimento. Mas os países africanos também devem reconhecer que a exploração dos recursos naturais sob condições justas é uma vantagem para seu desenvolvimento", comenta Cozigou. Só assim os investidores da Europa podem ter certeza de que sua participação em negócios de mineração na África realmente vale a pena.
Hubertus Bardt, do Instituto de Economia Alemã, não acredita que seja possível se apropriar da matéria-prima africana numa tradição colonialista. "A Europa se beneficia bem mais quando os países fornecedores têm uma Constituição estável, sistemas de mercado e instituições sólidas. Feitos certos progressos por meio da ajuda ao desenvolvimento, é possível prosseguir os negócios comerciais. É um procedimento totalmente diferente do dos chineses."
A China, segundo observou a Comissão Europeia, tem garantido o acesso a commodities cobiçadas por meio de uma estratégia dominadora, que inclui aquisições de mineradoras, compra de terras e doações a governos africanos. Segundo a avaliação dos especialistas, a concentração da oferta também é problemática. No mundo inteiro, há poucas mineradoras que exploram diretamente matéria-prima.
Busca por substitutos
A União Eupeia quer encorajar os cientistas a encontrar possíveis substitutos para os metais de terras raras, e também para o lítio – elemento bastante usado nas baterias de carros elétricos. O lítio ainda não é escasso, mas a demanda deverá aumentar.
"Atualmente, fala-se muito do lítio e da questão da mobilidade elétrica. Se for possível desenvolver baterias, armazenadores de energia, que não dependam do material, então o problema estará resolvido de uma vez por todas. A busca de matérias-primas substitutivas tem grande potencial. Mas isso requer um enorme salto tecnológico, que não se pode consumar apenas na ponta do lápis", conclui Hubertus Bardt.
Autor: Berndt Riegert (np)
Revisão: Simone Lopes