Covid-19 aumenta risco de distúrbios psíquicos?
12 de novembro de 2020Cerca de um ano após a chegada do novo coronavírus, sabe-se que o agressivo patógeno não ataca só os pulmões e as vias respiratórias, mas também pode afetar severamente o coração, vasos sanguíneos, nervos, rins e a pele.
Causou impacto em julho a notícia de neurologistas britânicos de que, mesmo em pacientes com sintomas leves ou recuperados, o Sars-Cov-2 podia desencadear graves danos no cérebro e no sistema nervoso central, com frequência diagnosticados tarde demais e provocando psicoses, paralisias e derrames.
Agora, um estudo do Oxford Health Biomedical Research Centre, publicado na revista especializada Lancet Psychiatry, indica que contrair covid-19 também pode causar problemas psíquicos em um entre cinco pacientes. Sobretudo o isolamento é grande responsável por ataques de pânico, depressões e insônia.
Para essa pesquisa em grande escala, os cientistas analisaram, juntamente com a rede de saúde TriNetX, cerca de 70 milhões de fichas médicas anonimizadas dos Estados Unidos. Entre elas encontravam-se as de 62 mil pacientes de covid-19 com quadro clínico mediano.
Examinou-se se eles haviam apresentado problemas psíquicos nas duas semanas a três meses seguintes à constatação da doença respiratória. Para 18,1% a resposta foi positiva, e em 5,8% dos casos tratou-se do primeiro diagnóstico de uma doença psíquica.
Diversos fatores não considerados
A fim de confirmar se os distúrbios tinham relação direta com a covid-19, os dados foram também comparados com os de seis outras doenças, no mesmo prazo: gripe, outras infecções respiratórias e de pele, cálculos biliares e cálculos urinários e fraturas ósseas. Nesses casos, contudo, só 2,5,% a 3,4% apresentaram moléstias psíquicas.
"Esse achado foi inesperado e precisa ser examinado. Neste ínterim, os distúrbios psiquiátricos devem ser incluídos na lista dos fatores de risco para a covid-19", comentou um dos autores do estudo, Max Taquet, do National Institute for Health Research do Reino Unido.
Ao mesmo tempo, porém, os pesquisadores britânicos alertam contra o perigo de superestimar a análise de dossiês de saúde eletrônicos, pois ainda não há explicação conclusiva para algumas peculiaridades – como o aparente acréscimo de 65% de risco de contágio com o coronavírus entre os portadores de doenças psíquicas.
Além disso, diagnosticou-se duas vezes mais demência entre os pacientes de covid-19 no prazo de três meses do que entre outros indivíduos. Porém isso não significa necessariamente que o vírus tem efeito direto sobre o cérebro, podendo apenas decorrer do fato de que se realizaram mais exames médicos, relativiza Paul Harrison, professor de psiquiatria da Universidade de Oxford.
Além disso, não foram levados em consideração o sexo ou idade dos pacientes, se fumavam ou consumiam drogas – fatores que também elevam o risco de distúrbios psiquiátricos. Ficaram igualmente de fora os aspectos socioeconômicos e o estresse provocado pela pandemia.
No entanto é sabido que o risco de desenvolver doenças é mais alto para os cidadãos de classes menos privilegiadas socioeconomicamente, os quais também padecem com maior frequência de enfermidades psíquicas. Somente nos próximos anos se poderá avaliar até que ponto o novo coronavírus realmente é a causa direta de danos duradouros ou de distúrbios psíquicos.