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Covid-19 matou três vezes mais que o registrado, diz OMS

5 de maio de 2022

Estudo mais abrangente já realizado sobre os números da pandemia revela discrepâncias em relação aos dados oficiais divulgados pelos países. Segundo a OMS, quase 15 milhões morreram no mundo devido ao coronavírus.

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Duas mulheres choram em frente a cruz em uma cova em cemitério de Manaus
Número de mortes associadas à covid-19 é maior do que as contagens oficiais devido à subnotificação e outros fatoresFoto: Bruno Kelly/REUTERS

Quase três vezes mais pessoas morreram em todo o mundo em decorrência da covid-19 do que mostram os dados oficiais. A conclusão está em um novo relatório elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), considerado a análise mais abrangente já realizada sobre os números reais da pandemia.

Segundo o relatório divulgado nesta quinta-feira (05/05), cerca de 14,9 milhões de pessoas morreram no mundo em decorrência do coronavírus, direta ou indiretamente.

Esse total corresponde ao excesso de mortalidade entre janeiro de 2020 e dezembro de 2021, e mede a diferença entre as mortes globais e uma projeção do que teria ocorrido se a pandemia não tivesse surgido. Essa avaliação se baseou em números de anos anteriores e inclui pacientes que não tiveram acesso a cuidados de saúde, já que os recursos estava concentrados na luta contra o coronavírus.

Os novos dados da OMS acrescentam 9,4 milhões de mortes às que estavam registradas como associadas diretamente à covid-19. A entidade avalia como mortes indiretamente associadas à doença as que ocorreram devido ao impacto da pandemia nos sistemas de saúde e na sociedade, assim como as que resultaram de outras doenças para as quais as pessoas não conseguiram prevenção ou tratamento devido à sobrecarga nos sistemas de saúde.

Os dados sobre o excesso de mortalidade também levam em conta as mortes que foram evitadas durante a pandemia, como, por exemplo, em razão do menor risco de mortes no trânsito devido aos lockdowns em muitos países.

Os números são ainda mais altos do que as contagens oficiais, porque em muitos países houve subnotificação das mortes, em razão de falhas nos registros e da baixa testagem da população. A OMS calcula que, antes mesmo da pandemia, seis em cada dez mortes não eram devidamente registradas.

Índia registra maiores discrepâncias

Segundo a OMS, quase a metade das mortes que ainda não haviam sido contabilizadas ocorreu na Índia. O relatório sugere que o país registrou 4,7 milhões de óbitos associados à covid-19, principalmente entre maio e junho de 2021. O governo indiano, porém, afirma que ocorreram 480 mil mortes ligadas ao coronavírus entre janeiro de 2020 e dezembro de 2021. 

Segundo o relatório, 84% das mortes em excesso ocorreram no sudeste da Ásia, Europa e América, com 68% dos óbitos concentrados em 20 países, incluindo Brasil, Índia, Rússia, Alemanha, Itália e Indonésia.

Mais de 80% das mortes em excesso aconteceram em países de renda média-baixa ou média-alta. Nos países com rendimentos mais altos, o excesso de mortalidade atingiu 15%, e nos países de baixa renda, 4%. Mais homens (57%) do que mulheres (43%) morreram direta ou indiretamente em razão da pandemia.

O painel da OMS responsável pelo relatório é formado por especialistas internacionais que trabalharam por meses nos dados coletados, utilizando uma combinação de informações regionais e nacionais, assim como modelos estatísticos, para calcular os totais onde os dados estavam incompletos – uma metodologia criticada pela Índia.

Contudo, outras avaliações independentes também estimam que o número de mortes na Índia seria bem maior do que o divulgado pelo governo. Estudos diferentes também chegaram a conclusões semelhantes às da OMS em relação às mortes globais, com números bem acima das estatísticas oficiais.

O diretor geral da OMS, Tedros Adhanon Ghebreyesus, destacou que os números revelados pelo estudo demonstram a importância de investimentos nos sistemas de saúde, para que os serviços sejam capazes de funcionar adequadamente durante as crises sanitárias.

rc (Reuters, Lusa, AP)