Crítica elogia livro de Günter Grass sobre passado da Alemanha
7 de fevereiro de 2002Com seu novo livro, o autor Günter Grass recupera a graça da crítica alemã: Im Krebsgang (Em passo de caranguejo) é uma novela sobre a catástrofe do Wilhelm Gustloff. Este navio foi afundado por um submarino soviético, em 30 de janeiro de 1945, quando levava nove mil refugiados alemães, militares e civis. Mas, acima de tudo, trata-se de uma narrativa sobre o recalque do passado e suas nefastas conseqüências. A obra de 216 páginas teve seu lançamento na terça-feira (5) e, segundo a Editora Steidl, de Göttingen, já foram vendidas licenças para tradução em dez idiomas.
Ao contrário de seu controvertido romance Um campo vasto, de 1995, aqui Grass velejou ao sabor do espírito atual. Segundo o crítico literário do jornal Frankfurter Rundschau, o escritor "beneficiou-se da boa hora histórica", pois só agora o momento é oportuno "para o povo dos agressores lembrar-se, em luto coletivo, de seus próprios mortos". Além disso, o autor da chamada "Trilogia de Danzig" (O tambor, Gato e rato e Anos de cão) pôde agora completar uma tarefa que ficara em aberto: afinal o Wilhelm Gustloff partiu justamente do porto de Danzig (atualmente Gdansk, Polônia), esta cidade-pivô da Segunda Guerra Mundial.
Elogios rasgados
A imprensa acumula adjetivos para o laureado com o Prêmio Nobel de Literatura, sugerindo potência e frescor juvenil . Segundo o Frankfurter Allgemeine Zeitung, Grass dedica-se a seu tema "com força insuspeitada e um belo impulso, com capacidade de convencimento e energia criativa". E Harald Jähner, do Berliner Zeitung, levanta a hipótese de que, em Krebsgang, Grass preste contas não apenas com a reavaliação oficial do passado alemão, mas com seu próprio desenvolvimento literário.
A nova obra conseguiu até mesmo converter o mais espetacular opositor de Um campo vasto: o crítico superstar Marcel , que foi capa da revista Der Spiegel, numa foto em que rasgava o volume de mais de 600 páginas. Agora, em seu novo programa de televisão, o colérico literato declarou que Krebsgang "pertence ao melhor e mais comovente que a literatura alemã de anos recentes tem para oferecer". E não para por aí: "composição sofisticada", "leitura altamente envolvente". Ao ler certos trechos, ele teve lágrimas nos olhos: "Quando uma narrativa me leva às lágrimas, então é boa, é grande literatura", conclui o crítico.
Novas tarefas
Em declarações recentes, Günter Grass deixa claro que considera virada uma página da história da Alemanha, o que implica novas tarefas e prioridades. Ele apontou a negligência da comunidade literária em ocupar-se, por exemplo, do êxodo e expulsão dos antigos domínios germânicos ao leste, com o fim da Segunda Guerra. E não deixa de incluir-se na própria crítica. De resto, o tema era tabu na ex-República Democrática Alemã, enquanto no oeste ficava circunscrito às associações de exilados, onde era geralmente marcado por um tom revanchista.
Em entrevista ao semanário Die Woche, Grass defendeu a publicação de uma edição comentada de Mein Kampf, de Adolf Hitler: "É preciso poder ler esta loucura. As palavras de Hitler são sempre muito reveladoras". A divulgação da bíblia do nazismo é proibida na Alemanha desde o final da Segunda Guerra.
O autor considera a democracia de seu país bastante estável para comportar uma confrontação aberta com os extremistas de direita. Por outro lado, opõe-se terminantemente ao processo no Tribunal Constitucional para proibição do partido neonazista NPD. Com isto, "só se criam mártires", justifica Grass.