Cresce disposição de elevar fundo para estabilidade do euro
24 de março de 2012O Mecanismo Europeu de Estabilidade Financeira (MEEF) deverá entrar em vigor em meados de 2012, a fim de evitar que outros países da zona do euro sejam também abalados pela crise de endividamento. Por isso, o MEEF foi simbolicamente apelidado de "muro de proteção contra incêndios", ou firewall. Há meses, a União Europeia vem discutindo a respeito da altura desse muro. A premiê alemã, Angela Merkel, insistia de início que o limite máximo de 500 bilhões de euros como garantia de crédito não fosse ultrapassado.
Durante a última cúpula do bloco, ela conseguiu fazer com que a decisão a respeito do volume do fundo de estabilidade seja tomada até o próximo encontro dos ministros das Finanças da zona do euro, a ser realizado no fim do de março, em Copenhague. "Março tem, como se sabe, 31 dias", afirmou Merkel ao ser questionada a respeito da data da decisão.
Duplicar os fundos de salvação?
A esta altura, praticamente todos os ministros de Finanças dos 17 países da zona do euro duvidam que irão bastar os 500 bilhões de euros do MEEF em garantias de crédito. O comissário da UE para questões monetárias, Olli Rehn, sugeriu recentemente em Bruxelas que o volume do novo fundo de salvação fosse praticamente duplicado. Rehn defende que se some o volume do novo MEEF ao do atual Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), de 440 bilhões de euros, resultando em 940 bilhões de euros de potencial garantia de crédito.
Para a Comissão Europeia, essa é a única forma de defender a Espanha e outras economias frágeis da zona do euro contra as especulações dos mercados financeiros. Isso implica que as garantias de crédito que caberiam à Alemanha conceder certamente ultrapassariam o atual limite de 211 bilhões de euros.
Merkel, por sua vez, gostaria de evitar exatamente isso, visto que essa decisão poderá trazer problemas para ela dentro da própria coalizão de governo. O Partido Liberal Democrático (FDP) e parte da conservadora União Democrata Cristã (CDU), da própria Merkel, rejeitam um aumento das garantias de crédito.
Berlim avalia modelos
Diante disso, o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, desenvolveu preventivamente um plano de aumento cauteloso do fundo de salvação. Schäuble, que ainda em novembro último havia refutado com veemência a ampliação do plano, propõe agora que se conduzam os dois planos de resgate (o velho FEEF e o novo MEEF) simultaneamente, durante algum tempo. Desta forma, o volume de créditos passaria para 600 bilhões de euros, sem que a contribuição alemã aumentasse tanto. A proposta visa, sobretudo, aplacar os parceiros da coalizão de governo em Berlim.
Michael Meister, vice-líder da bancada da CDU no Parlamento, afirmou já estar claro que o fundo de estabilidade terá que ser maior do que se considerava, até agora. Segundo ele, só falta definir o modelo. O Parlamento deverá aprovar a lei do MEEF em maio próximo. Enquanto isso, a oposição social-democrata acusa Merkel de "não cumprir com a palavra".
Pressão de parceiros internacionais
Em meados de abril, durante uma reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI), deverá ser decidido se a instituição também criará um fundo especial para a Europa. Christine Lagarde, diretora-geral do FMI, já acentuou diversas vezes que isso só poderá ocorrer se os próprios europeus contribuírem mais. Segundo ela, a zona do euro deveria primeiro aumentar seu "muro anti- incêndio", antes de ir pedir ajuda aos bombeiros do FMI.
Durante o último encontro dos ministros das Finanças do G20 – grêmio dos mais importantes países industrializados e emergentes – o Secretário do Tesouro norte-americano, Timothy Geithner, afirmou que os europeus não podem contar com o dinheiro do FMI enquanto seus próprios mecanismos de proteção não estiverem acionados na intensidade necessária.
Os chefes de Estado e governo da UE já haviam aprovado a disponibilização, em dezembro último, de 300 bilhões de euros em crédito para o FMI, a serem redirecionado para a Europa. Este plano, contudo, foi aparentemente deixado de lado.
Bombeiro-mor Draghi
O "firewall" mais alto até agora foi erguido por Mario Draghi, diretor do Banco Central Europeu (BCE). Ele emprestou aproximadamente 1 trilhão de euros a juros baixos aos bancos europeus, a fim de evitar um aperto de créditos e tendo em vista incentivar a compra de títulos públicos. "Precisávamos agir", afirmou Draghi em entrevista ao diário alemão Bild. "O pior já passou, embora ainda haja riscos."
Draghi declarou a Alemanha, com seu crescimento econômico e sua cultura da estabilidade, de "exemplo" a ser seguido pelo resto da zona do euro. E deixou-se fotografar com um capacete militar prussiano, simbolizando o suposto apreço alemão pela ordem.
Jens Weidmann, presidente do Banco Central Alemão, criticou, por outro lado, o fluxo dos bancos com a alta liquidez. Ele alertou para o fato de que este mecanismo equivale a um financiamento escondido de dívidas públicas, através da injeção de dinheiro. De acordo com Weidmann, isso pode, por sua vez, causar a desvalorização da moeda, ou seja, o contrário de estabilidade. "Não se podem fazer concessões no que diz respeito à prioridade da meta de estabilização dos preços", declarou, antes de uma reunião em Frankfurt.
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) advertiu a Europa a criar mecanismos mais sólidos de proteção contra possíveis especulações dos mercados financeiros. O secretário-geral da OCDE, Angel Gurria, afirmou ao jornal Handelsblatt: "Precisamos criar uma matriz para todos os muros de proteção. Quanto mais larga e impressionante ela for, mais improvável será que precisemos dela".
Segundo Gurria, o perigo de que a Espanha e Portugal sejam as próximas vítimas da crise financeira não está ainda banido, de forma alguma. A OCDE é formada por 34 nações industrializadas da Europa e da Ásia, além dos EUA e da Austrália.
Autor: Bernd Riegert (sv)
Revisão: Augusto Valente