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Cresce o tédio dos jovens com a política

Estelina Farias14 de agosto de 2002

Jovens interessados em política são exceção na Alemanha. Poucos dos 2,5 milhões de jovens aptos a votar pela primeira vez estão motivados para a eleição do Parlamento, em setembro.

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O festival de música tecno em Berlim "Love Parade" é a maior atração para jovens alemãesFoto: AP

O desinteresse dos alemães jovens pela política vem aumentando constantemente nos últimos anos. Mas existem exceções e estas representam 43% da moçada. Os mais engajados preferem organizações antiglobalização em vez de partidos políticos.

Alguns participam de seminários da Associação de Fomento a Ações Políticas, cujos dirigentes gostam de destacar a sua independência em relação aos partidos. Ela costuma convidar jovens escolares e estudantes, durante as férias, para uma semana de seminários.

Se saísse fumaça de suas cabeças durante os debates acirrados, não se veria nada no salão da associação, em Meppen. Em um deles, dez escolares de 15 a 20 anos discutem sobre política ou, mais especificamente, a questão número um da Alemanha: como combater o desemprego?

Toni sugere simplesmente o fim da ajuda social do Estado. Só assim as pessoas seriam motivadas a voltar a trabalhar, acredita ele. Mas o que fariam os que não encontrassem um trabalho?, pergunta Sandra. Ina acha que o governo deveria apoiar as empresas que gerassem postos de trabalho. Anne concorda que o problema não é incentivar as pessoas a trabalhar, mas gerar empregos. Mais de quatro milhões de pessoas ou 9,7% da população apta para o trabalho estão desempregadas.

Missão impossível

Mas é difícil reunir jovens para os seminários políticos, pois os que realmente querem entender o que se passa no mundo são exceção, diz Bettina Wegener. Encontrar pessoas jovens interessadas pelas idéias de Platão, Adam Smith ou Sartre então é uma missão impossível, segundo a moça de 24 anos, que já organizou vários cursos de férias na associação.

"As pessoas que vêm para os nossos seminários são poucas, apesar dos esforços de mobilização e da propaganda feita pela associação. Mas esses poucos se declaram satisfeitos em participar de algo oposto à indiferença que presenciam no cotidiano."

MTV, McDonalds e roupas de grife são muito mais importantes para boa parte dos jovens do que direito fiscal. Para a maioria é indiferente se Gerhard Schröder continuará chefiando o governo ou se seu concorrente Edmund Stoiber sairá vitorioso do pleito no mês que vem.

A apatia da juventude com a política aumenta constantemente. Suas desconfianças em relação aos partidos também cresceu com os escândalos de corrupção e violação de regras de conduta parlamentar.

Eva, de 19 anos, que vai votar pela primeira vez em 22 de setembro, está indecisa como quase 50% dos eleitores alemães: "Estou totalmente perplexa, pois sempre pensei que sabia como votar, que tinha um partido preferido. Mas nesse meio tempo esse partido fez tanta merda que não posso mais votar nele."

Velhos & música tecno

Os partidos propagam mofo e aumentam a indisposição do eleitorado, segundo Eva. O pior para ela e muitos da sua geração é quando políticos idosos participam de atividades juvenis na tentativa de conquistar votos. Como exemplo, Eva lembra a presença do candidato da oposição de centro-direita, Stoiber, numa discoteca.

O senhor grisalho, muito desajeitado entre adolescentes no embalo de música tecno, parece simplesmente ridículo, segundo ela. "Quem quiser conquistar votos dos jovens tem de encontrar outro caminho", completa Bettina Wegener.

Preferência pela antiglobalização

A minoria jovem interessada em política prefere mais outras formas de organização do que os partidos políticos. Especialmente preferida é a antiglobalização Attac, que reúne numerosos grupos na Europa e se destacou pelos protestos que fez em encontros de cúpula da União Européia e do G-8, o grupo de sete países mais industrializados e a Rússia. Para Inna, por exemplo, é indiferente que seja fechada a discoteca do povoado em que mora, porque para ela o maior desafio atual é a globalização.

"Dá um medo terrível ver que a gente só pode ser integrada a esse processo e que não há possibilidades de sair dele", justifica, acrescentando: "dá um medo danado ver que essa diferença gigantesca entre pobres e ricos aumenta cada vez mais e que os países industrializados exploram as nações mais pobres".