Criador do design industrial, movimento alemão ganha mostra em SP
22 de abril de 2014Fundado em 1907, o Deutscher Werkbund, uma associação de arquitetos, artistas e empresários, tinha por objetivo melhorar a qualidade dos produtos industriais. Segundo Martin Gegner, responsável por trazer a exposição ao Brasil, o movimento foi o primeiro a pensar no desenho industrial e em uma identidade corporativa.
"Não existia antes a profissão de designer industrial e o Werkbund tinha a preocupação de formar esses profissionais. Além disso, foram inovadores ao propor unidade e harmonia no design corporativo, criando uma identidade, presente da logo aos produtos", explica Gegner, que também é professor visitante da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e diretor do escritório do DAAD em São Paulo.
Segundo ele, o Deutscher Werkbund surgiu também para aumentar a competitividade alemã no mercado internacional. "Como a Alemanha se industrializou mais tarde em comparação com França e Inglaterra, não era capaz de produzir com baixo custo. Então a solução era fazer melhor, com mais qualidade e design".
Influência no Brasil
Deise, Ângela e Ingrid, estudantes do primeiro semestre de Arquitetura da Universidade Paulista (UNIP), estão entre os visitantes da mostra. Para elas, a exposição ajuda a entender o conteúdo das aulas na universidade. A visita, afirmam, foi incentivada por uma professora da disciplina História da Arquitetura. "É bem interessante, não conhecia o movimento, mas já tinha visto os objetos antes", comenta Ingrid, de 17 anos.
Gegner diz que a reação de Ingrid é comum. "As pessoas conhecem os produtos, mas não associam ao Werkbund. Porque não é uma escola, com um estilo único, nem uma grife".
Para Gegner, o Deutscher Werkbund, apesar de muito influente no design e arquitetura internacionais, nem sempre é reconhecido por seu trabalho. No Brasil, a associação é famosa apenas em círculos especializados. "A influência do Werkbund no país não é tão direta. Por isso, o objetivo da exposição é também tornar essa influência mais visível."
Gegner defende que, por ser uma associação, o Werkbund estava constantemente discutindo seus direcionamentos formais e políticos. "O Werkbund não tinha um estilo, era uma ideia mais ampla. Ao contrário do Bauhaus [importante escola alemã de design e arquitetura do século 20], cujos conceitos eram bem definidos pelos mestres". O professor argumenta que o Bauhaus, um dos frutos do Deutscher Werkbund, tinha um "bom marketing", o que também contribuiu para tornar a escola mais célebre.
Além disso, Gegner ressalta que o trabalho do Deutscher Werkbund é mais facilmente reconhecido pela produção das empresas que faziam parte da associação. "O Werkbund era um importante centro de debate e os artistas levavam essas ideias para as indústrias. Peter Behrens, por exemplo, trabalhava para a empresa AEG, maior do que a Siemens e a General Electrics na época, influenciando o design e a produção de eletrodomésticos mundialmente".
Guerras
As guerras marcaram a história do Deutscher Werkbund. A primeira mostra do trabalho da associação, realizada na cidade de Colônia, em 16 de maio de 1914, teve que ser interrompida com a Primeira Guerra Mundial.
No pós-guerra, segundo Gegner, o Deutscher Werkbund se dividiu. "Parte da sociedade estava ligada ao império, ao nacionalismo e à autocracia. Esse segmento logo gerou o movimento nazista. Do outro lado, parte da sociedade alimentava ideias democráticas, socialistas e internacionalistas".
Durante o regime nazista, o Deutscher Werkbund foi fechado e só voltou a funcionar após o fim da Segunda Guerra Mundial. "Os nacional-socialistas tinham as suas próprias ideias sobre arquitetura e design, eles eram totalmente antimodernistas. Até mesmo os membros do Werkbund que tentaram se alinhar foram considerados pouco radicais. Para os nacional-socialistas, o Werkbund foi ambivalente demais. E os nazistas não gostavam de ambivalências".
Presente
Depois da Segunda Guerra Mundial, a associação voltou a ser inovadora. Em 1959, o Deutscher Werkbund assumiu um posicionamento de proteção do meio ambiente, em um momento em que questões ecológicas estavam pouco presentes no debate público. Posteriormente, nos anos 80, contribuiu para questionar o desperdício e priorizar a participação no planejamento das cidades.
Apesar do papel de vanguarda, segundo Gegner, hoje a associação vive um momento difícil. "Não se pode negar que o Werkbund está em crise. Faltam grandes nomes. A associação não tem mais a influência nacional e internacional que tinha. O auge foi mesmo a época anterior à Segunda Guerra".
A exposição
A mostra é parte da Temporada Alemanha+Brasil 2013-2014 e organizada pelo Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD) e pela Universidade Técnica de Munique.
A exposição é gratuita e fica em cartaz até 18 de maio no Centro Cultural São Paulo.