Vai passar
10 de agosto de 2011Apesar do pânico mundial gerado com a crise na Europa e nos Estados Unidos, turbulências na economia com reflexos nas bolsas de investimentos não são novidade. Quedas e especulações financeiras existem desde que o dinheiro passou a fazer parte das relações comerciais.
Um dos primeiros registros de crise financeira data do século 17, quando houve a chamada crise das tulipas na Holanda. Grandes interesses e ganância levaram à pobreza milhares de holandeses que apostaram suas economias em bulbos de tulipa.
Werner Abelshauser, especialista em história da economia global e professor na Universidade de Bielefeld, acredita que crises mundiais, inclusive recentes mas já superadas, acabam sendo esquecidas com o passar dos anos. "Em 1990 houve a crise do Japão, que agora caiu no esquecimento. Depois houve o colapso dos modelos suecos na crise financeira de 1991/92. Alguns anos mais tarde tivemos a crise asiática, que atingiu os tigres e novos tigres asiáticos", lembra o professor. "Em seguida houve mais uma crise japonesa e, na virada do século, a crise 'pontocom', da internet".
Para o especialista, a atual crise financeira que envolve as maiores economias do mundo será apenas mais uma, mas de impacto global. "Um reflexo da globalização", explica Abelshauser, por causa das interligações dos mercados financeiros –, o que segundo o especialista não é um fenômeno clássico deste século. O professor relembra o boom sem precedentes da expansão de créditos e aberturas de empresas em 1873, que levou um dos maiores bancos europeus em Viena a suspender seus negócios na bolsa de valores, com consequências mundiais.
"Desde que entramos na globalização, já no século 19, há crashs em centros financeiros. O de Viena, em 1873, desencadeou o de Berlim, que levou ao crash de Nova York. Isso mostra que este efeito dominó já é conhecido", avalia o professor.
Atuação limitada
Pela primeira vez, no entanto, os governos dos países estão envolvidos na crise dos mercados. E sua capacidade de atuação está limitada devido aos seus altos endividamentos. Ele ressalta que a crise do mercado financeiro em 2008 foi controlada pelas nações envolvidas, que resgataram seus bancos. "Com isso, os países ficaram expostos e acabaram aumentando vertiginosamente suas dívidas".
Abelshauer acredita que a crise se encontra atualmente em um segundo patamar, no qual os próprios Estados se veem sob desconfiança dos investidores. "Agora, o problema é que os países não podem intervir com tanta facilidade pois não dispõem mais da mesma credibilidade de 2008, 2009", ressalta.
O fato de Estados não poderem mais agir como salvadores porque eles próprios estão envolvidos em problemas financeiros é um reflexo da inacreditável dinâmica que se desenvolveu nos mercados financeiros nas últimas décadas, explica o professor.
Para o especialista, é preciso frear os mercados através do estabelecimento de limites para negociações especulativas. E se não houver um comprometimento dos mercados neste sentido, aí entram os governos, sugere.
"Em 1980, no encontro econômico do G7 em Veneza, já houve uma sugestão assim do então chanceler federal alemão Helmut Schmidt. Ele advertiu para a ameaça representada pelo crescente capital errante no mercado mundial. Por isso, sugeriu que o G7 tomasse medidas para controlar estes capitais", conta Abelshauer. "Então foi criada uma comissão e tudo foi novamente esquecido porque os americanos e britânicos, cujo modelo de negócio é justamente esse, resistiram com veemência".
Perdas volumosas
Nas recentes turbulências, os mercados de ações perderam mais de 2,5 trilhões de dólares em apenas uma semana – uma soma gigantesca. Mas isso também não é novidade, afirma o professor. Ele lembra que, em 19 de outubro de 1987, o Dow Jones, índice da bolsa norte-americana, registrou, em um dia, a maior perda de sua história – 22% –, devido a uma falha no sistema de computação. Hoje, o dia que ficou conhecido como a "Segunda-feira Negra" está praticamente esquecido.
Autora: Monika Lohmüller (ms)
Revisão: Roselaine Wandscheer