Meio ambiente rende
22 de setembro de 2009Diante da mais grave crise econômica dos últimos 80 anos, uma decisão significativa foi tomada em meados de 2009, na cidade italiana de Áquila: os 16 países com as maiores emissões de gases causadores do efeito-estufa se comprometeram a tomar as medidas necessárias para impedir que a temperatura do planeta aumente mais de 2ºC em comparação com os valores pré-industriais.
Isso não parece grande coisa, mas para os países industrializados representa uma reversão econômica radical. Afinal, para que a meta dos 2ºC seja atingida, a Alemanha – por exemplo – deverá suspender completamente suas emissões de gás carbônico até 2030.
Produção moderna é verde
Isso significa que o abastecimento de energia e inúmeros processos de produção deverão passar por grandes mudanças. E será que justamente num momento em que a Alemanha também está tendo dificuldade para superar os efeitos da crise econômica, a proteção ao clima deveria se tornar uma prioridade? Essa é uma questão com a qual o ministro alemão do Meio Ambiente, Sigmar Gabriel, vem sendo confrontado nas últimas semanas.
Algumas metas nesse sentido são: tornar mais eficientes os processos de produção, reduzir o consumo de energia e explorar mais as fontes renováveis. "Isto é o que já estão fazendo os alemães e os americanos, o que pretendem fazer os indianos e chineses: aproveitar a proteção do clima em todo o mundo para mobilizar a economia, mas na direção certa", declarou Gabriel, em entrevista à Deutsche Welle.
Nem todas as medidas são ecologicamente viáveis
No entanto, já se perdeu a primeira chance de pôr isso em prática. Afinal, entre os inúmeros programas conjunturais lançados para conter os efeitos da crise, apenas uma pequena parte pode ser considerada ecológica.
Os melhores nesse ponto ainda são os sul-coreanos e os chineses. Seul destina mais de 80% de seus recursos conjunturais a projetos ecológicos; Pequim, cerca de um terço. Isso é o que consta de um estudo do banco britânico HSBC.
Na Alemanha e nos EUA, as coisas são diferentes. Apenas aproximadamente 15% dos recursos para recuperação da conjuntura são investidos em melhorias ecológicas. No caso dos EUA, é preciso ressalvar que os recursos investidos em projetos ambientais continuam sendo astronômicos mesmo assim; afinal, o programa conjuntural de Washington soma 970 bilhões de dólares.
Por outro lado, os bônus oferecidos pelo governo aos cidadãos dispostos a se desfazer de seus carros antigos e comprar novos não merecem ser chamados de ecológicos, pois os carros-zero a serem adquiridos não seguem necessariamente nenhuma prescrição ambiental.
Indústria alemã se considera verde
Na Alemanha, a proteção do clima também é vista como uma chance para as empresas locais que já lideram o mercado mundial com tecnologias ambientais. Será que agora é o melhor ou o pior momento de investir na proteção ao clima? O presidente da Confederação da Indústria Alemã (BDI), Hans-Peter Keitel, acha que agora é a hora certa. O BDI propaga, com toda a convicção, que a indústria alemã presta a principal contribuição para solucionar problemas ambientais em todo o mundo.
A proteção ao clima é o motor de crescimento do século 21. Ambientalistas denunciam, no entanto, que certas empresas só estão utilizando isso como fachada. Afinal, as prescrições ambientais geralmente acarretam grandes encargos financeiros para as firmas.
Um exemplo disso é o comércio dos direitos de emissão de CO2, que hoje são distribuídos gratuitamente, mas deverão passar a ser vendidos a partir de 2013. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica de Colônia, quando todos os setores passarem a ter que comprar integralmente seus direitos de emissão, a partir de 2027, as despesas com o comércio de emissões deverão somar quase 10 bilhões de euros (tomando como base um preço reduzido de 40 euros por tonelada).
"Esses custos provêm do leilão, embora com isso ainda não se tenha economizado nem uma tonelada de CO2", comenta Michael Hüther, diretor do instituto.
Controverso comércio de emissões
Enquanto esses certificados continuarem a ser distribuídos gratuitamente em outras partes do mundo, as empresas alemãs estarão em desvantagem na competição internacional. Assim, a indústria alemã passa a enfrentar um eterno dilema entre ecologia e economia.
Martin Wansleben, diretor da Câmara Alemã de Indústria e Comércio (DIHK), teme que a proteção ao clima seja instrumentalizada como mecanismo para extorquir dinheiro do empresariado. Para ele, não faz o menor sentido retirar dinheiro das empresas para depois esperar que façam grandes investimentos. "O dinheiro tem que permanecer nas empresas, a fim de lhes garantir uma margem de investimento em novos produtos e procedimentos", declarou Wansleben.
Mas, à parte dessa discussão, a grave crise financeira acabou favorecendo a proteção do clima. Nos 15 países fundadores da União Europeia, as emissões de CO2 diminuíram cerca de 1,3% no ano passado em relação ao valor registrado em 2007. Isso se deve em grande parte à recessão. Neste ano, esse índice deverá se manter ou até melhorar, considerando a dramática queda na produção.
Autor: Henrik Böhme (sl)
Revisão: Augusto Valente