Crise favorece populismo no Sudeste Europeu
25 de maio de 2012No início desta semana, a Sérvia elegeu como presidente Tomislav Nikolic, conhecido anteriormente como extremista e crítico da Europa. Embora ele tenha prometido manter o país no rumo da União Europeia (UE), o escritor e jornalista Sasa Ilic, residente em Belgrado, tem dúvidas sobre a credibilidade do político.
"No final, a política de Nikolic dará continuidade à posição que assumiu até agora. Isso é comprovado por seu passado como membro da guarda voluntária do líder ultranacionalista sérvio Vojislav Seselj. Ele participou de operações militares na Croácia e se engajou por Ratko Mladic e uma Grande Sérvia", explicou o jornalista.
Nacionalismo albanês: estrelas no Facebook
Ilic criticou, todavia, também o atual presidente pró-europeu Boris Tadic, que nunca se mostrou disposto a fazer concessões sobre a questão do Kosovo. A Sérvia ainda se recusa a reconhecer a independência de sua antiga província. Com essa posição, explica Ilic, Tadic manteve acordados sentimentos nacionalistas.
Segundo o jornalista, há muito tempo intelectuais sérvios advertiam que essa política levaria a sociedade do país a uma guinada para a direita. Ilic, editor-chefe da publicação crítica Beton, está entre os poucos sérvios que aceitam a independência do Kosovo e buscam uma aproximação com os albaneses.
Em muitos países do Sudeste Europeu, as promessas feitas por movimentos populistas alcançam dimensões quase fantásticas.
Na Albânia, a recém-criada Aliança Vermelho-Preto (Aleanca Kuqezi) pretende distribuir passaportes albaneses para todos os cidadãos de etnia albanesa no Kosovo, Macedônia, Sérvia do Sul e Montenegro, e tenta impor um protecionismo econômico pan-albanês. Objetivos semelhantes são perseguidos pelo movimento kosovar "Vetëvendosja" (Autodeterminação), que atualmente também tem representação no Parlamento nacional.
Antigos ressentimentos
Ambos os movimentos gozam de grande simpatia entre os jovens albaneses, graças ao uso bastante eficaz das redes sociais na web, afirmou Stephanie Schwandner-Sievers, da Universidade Roehampton, em Londres. "De repente, o nacionalismo pan-albanês tornou-se jovem, bonito e atraente, e muitas vezes é promovido agressivamente através de meios modernos", disse a especialista sobre a Albânia.
Dentro de poucos meses, na Albânia, a Aliança Vermelho-Preto conseguiu mais de 80 mil fãs no Facebook. Em contrapartida, o Partido Socialista, o maior da oposição, tem apenas pouco mais de 29 mil seguidores no Facebook.
A importância da internet para o ganho de popularidade por extremistas é evidenciada também pela ascensão na Hungria do Partido Jobbik, considerado de ultradireita e que participa do governo já há dois anos.
"O partido estabeleceu-se nos meios de comunicação com o tema da criminalidade da etnia nômade rom", explicou Aron Buzogany, pesquisador da Escola Superior de Administração em Speyer, na Alemanha. Ele enfatiza que o Jobbik se aproveitou de ressentimentos há muito presentes na sociedade húngara.
Impotência da mídia
Elementos míticos e ênfase à unidade da nação: essas características do húngaro Jobbik também são encontradas em outros movimentos populistas no sudeste da Europa. A estudiosa do islamismo Armina Omerika, da Universidade de Bochum, observa o fato de elementos étnico-nacionalistas também se tornarem cada vez mais importantes para os muçulmanos neofundamentalistas na Bósnia e Herzegovina.
Embora agentes salafistas tenham pregado até agora sempre a ideia do Islã universal, eles se desenvolveram nos últimos tempos como importantes defensores de discursos étnico-nacionalistas. "O antes odiado Mustafa Ceric, principal representante dos muçulmanos bósnios, é agora reverenciado por eles como grande filho da nação 'bosniak'", disse Armina Omerika.
Frequentemente as mídias também são impotentes quando se trata de retórica nacionalista. Por exemplo, elas não encontraram uma forma de lidar com a extrema direita do partido grego Chrysi Avgi (Amanhecer Dourado), lamenta a jornalista do diário Neue Zürcher Zeitung Elena Panagiotidis. "Eles aparecem com frequência nos canais da manhã e da noite e muitas vezes se tem a impressão de que são os porta-vozes do Chrysi Avgi que conduzem os apresentadores, e não o contrário."
Movimentos populistas têm algo em comum: "A política de identidade, em cujo centro se encontra o povo, considerado como uma unidade homogênea e repleta de atributos de cunho moral. Tal política se volta normalmente contra uma elite corrupta", explicou o politólogo austríaco Werner Bauer.
"Alemanha não está livre de populismo"
Partidos extremistas deixam suas marcas em todo o cenário político, adverte Heinz-Jürgen Axt, professor na Universidade de Duisburg-Essen: "Quanto maior a influência de partidos extremistas, maior a tentação de partidos estabelecidos se servirem do curral eleitoral de extremistas".
Também nas eleições presidenciais francesas puderam ser observadas tentativas do conservador Nicolas Sarkozy de resgatar alguns dos temas populistas de seu rival de extrema direita Jean-Marie Le Pen, explicou Axt.
Heinz-Jürgen Axt, vice-presidente da Associação do Sudeste da Europa, rejeita uma campanha eleitoral levada à frente com slogans populistas: "Devem-se procurar soluções, em vez de se fazer promessas irrealizáveis".
Enquanto a situação econômica dos cidadãos vai bem, os ressentimentos permanecem escondidos. Mas é grande o risco de que os populistas venham a lucrar com a próxima crise, fato contra o qual a Alemanha não está protegida, adverte Axt, com vista à atual política do euro. "A política alemã deve explicar aos cidadãos por que é necessário o apoio financeiro á Grécia, Portugal, Espanha e Itália." Somente através da educação e informação pode-se impedir que "temas como mentalidade de doador e transferência financeira sejam instrumentalizados por movimentos populistas na Alemanha".
Autora: Anila Shuka (ca)
Revisão: Augusto Valente