Crise ucraniana afeta turismo na Rússia
24 de outubro de 2014Uma densa névoa embaça a vista da suíte presidencial, novinha em folha. Apenas umas poucas pessoas cruzam a Praça Vermelha de Moscou, em passo acelerado, sobre a lama de neve que se formou no chão. São raros os grupos de turistas neste mês de outubro.
No antigo Hotel Moskva, porém, o clima é de otimismo. A partir do dia 24 entra aqui em funcionamento o cinco estrelas Four Seasons – embora cada vez menos turistas visitem a capital russa. "No momento, é preciso mesmo pescar em diversos tanques", diz o gerente do hotel, Max Musto. Ele segue apostando no mercado europeu, mas atualmente sua equipe de vendas está em ação sobretudo na China.
No meio do chique novo distrito financeiro Moskva City, abriu as portas no início deste mês o primeiro albergue do mundo situado num arranha-céu. No entanto, em vez de mochileiros europeus, no estabelecimento localizado no 43º andar do Imperia Tower, diplomatas e empresários é que desfrutam a vista panorâmica da cidade.
"Contávamos receber principalmente executivos, mas não esperávamos que fossem tantos assim", conta Roman Drozdenko, de 25 anos, um dos três jovens fundadores do high-level hostel.
Entre seus hóspedes está, por exemplo, Alexei. De camiseta colorida e calças curtas, o empresário da província russa toma tranquilo seu chá, enquanto contempla Moscou pela enorme janela da cozinha comunitária do estabelecimento. É a primeira vez que ele se hospeda num albergue, e vê vantagens: "A gente não fica sozinho à noite." Mais tarde, pratos e talheres darão lugar a jogos de tabuleiro sobre a toalha cor-de-laranja.
Mais Ásia, menos Europa
A debilitada economia nacional e o conflito na Ucrânia afetaram de maneira significativa o turismo da Rússia. Vem ocorrendo um deslocamento de foco, como o presidente Vladimir Putin já anunciara para a economia: mais Ásia, menos Europa.
Na primeira metade deste ano, os chineses foram os que mais desembarcaram em Moscou, tomando o lugar que há anos cabia aos alemães. Estes parecem estar agora inseguros, devido ao noticiário negativo sobre o país.
No primeiro semestre de 2014, a capital russa recebeu cerca de 6% menos turistas alemães do que no ano anterior. No caso dos americanos, essa queda é mais do que o dobro, registra a prefeitura da metrópole. A Federação Russa de Hotelaria e Gastronomia chega a falar em 50% menos turistas europeus neste ano, e as perspectivas para os meses de outono e inverno são más.
Respondendo por menos de 3% do PIB nacional, o setor de turismo ainda é pequeno na Rússia. Contudo, até a crise na península da Crimeia, no início do ano, ele vinha crescendo continuamente. O governo apoia o setor há alguns anos com programas de incentivo, além de expandir a ainda quase inexistente infraestrutura, sobretudo em Moscou. Este ano foram instaladas algumas placas de rua não apenas em cirílico, mas também em alfabeto latino. Nas plataformas do metrô, porém, é inútil procurar pela versão transliterada dos nomes das estações.
"Muita gente não conhece a Rússia"
O enfraquecimento do mercado turístico já provocou uma queda dos preços das diárias de hotéis na Rússia e procuram-se novos funcionários com conhecimento das línguas chinesa e coreana. Apesar da crise, Roman Drozdenko diz não temer pelo futuro de seu hostel nas alturas.
"Quem tem seu próprio negócio não precisa se preocupar com o mercado", assegura. E as primeiras semanas de funcionamento parecem lhe dar razão: para novembro praticamente não há mais quartos disponíveis.
Max Musto também está otimista. "Dê uma saída às três da manhã: as pessoas estão dançando e fazendo festa por aqui. O problema é que muita gente não conhece a Rússia." Muitos só pensam no conflito da Rússia com a Ucrânia, reclama o hoteleiro, e olha pela janela do grande salão de baile de seu estabelecimento. Na rua, embaixo de guarda-chuvas coloridos, um grupo de turistas fotografa o arranha-céu. São todos orientais.