Tchecos na presidência européia
17 de dezembro de 2008Deutsche Welle: Em poucos dias, a República Tcheca assume a presidência da União Européia. Quais são suas metas para os seis meses de mandato?
Karel Schwarzenberg: As metas que nos propusemos são conhecidas: primeiramente, promover a boa vizinhança com os países do Leste Europeu. Segundo, queremos levar em frente a integração dos países do oeste dos Bálcãs e, terceiro, ajudar a construir uma Europa sem barreiras. Queremos uma Europa liberal, que não se isole, mas sim enfrente desafios.
Como em presidências anteriores, a nossa também depende de vários aspectos. A crise econômica, por exemplo, não mais se encontra apenas no horizonte, ela já afeta diretamente as economias européias. Temo que a crise ocupará grande parte de nossa presidência nos próximos seis meses.
Há também uma série de problemas de política exterior que podem nos ameaçar. Grosso modo, podem-se traçar várias metas no início de um mandato, mas as circunstâncias podem mudar as prioridades. Acredito que a presidência francesa não previa que suas maiores tarefas seriam a crise no Cáucaso e o início da crise financeira.
Gostaria de saber sobre o futuro do Tratado de Lisboa. A República Tcheca, junto com a Irlanda, foram os únicos países que não aprovaram o documento.
Infelizmente isso é verdade. A ratificação do Tratado de Lisboa está atrasada, devido ao processo frente ao Tribunal Constitucional de Praga e pelas discussões no parlamento. Porém, parto do princípio que acontecerá nas próximas seis semanas.
O presidente tcheco Vaclav Klaus é decididamente contra a reforma prevista pelo Tratado de Lisboa. Além disso, Klaus já afirmou que a presidência da UE é algo completamente insignificante. Como o senhor convive e trabalha com um presidente que tem uma atitude tão depreciativa quanto à União Européia?
Veja bem, eu não vivo com ele, mas tenho que demonstrar respeito ao presidente da República, apesar de termos opiniões divergentes. Ele e eu sabemos disso. Tivemos quase dois anos para nos acostumarmos a esta situação. A política exterior da República Tcheca está ditada pelo governo e não pelo presidente. Certas coisas não se podem escolher, como o clima, a família e, também, os chefes de Estado.
Na França, houve especulação pública sobre se a República Tcheca seria capaz de administrar a União Européia em tempos de crise. Tais críticas, partindo do círculo do presidente francês Nicolas Sarkozy, o magoaram?
Não, nem um pouco. Não sou assim tão fácil de magoar. Passei por muitas coisas em minha vida, vi muitas outras também. Vamos ver se farão esse tipo de comentário ao final de nossa presidência. Tenho consciência de que vários pequenos países europeus também tiveram de lidar com comentários similares. Acho que faz parte da conversa fiada que uma presidência envolve, não levo isso a sério.
Você já se referiu ao Presidente Nicolas Sarkozy com muita admiração, ao dizer que ele teria o "espírito de inquietude na política". O quão satisfeito está com os resultados desta inquietação que a França trouxe para UE nos últimos seis meses?
Acredito, no final das contas, que devemos estar muito gratos ao presidente francês. Houve alguns passos, comentários isolados, que não me deixaram particularmente entusiasmado. No entanto, acho que a intervenção enérgica de Sarkozy na crise no Cáucaso é algo por que a Europa deve agradecer, assim como por seus esforços quanto à crise econômica. Ainda teremos de ver se as medidas que ele tomou foram as melhores. Mas isso está além dos meus conhecimentos econômicos. De qualquer forma, foi uma presidência que agiu.
A crise econômica mundial não foi prevista quando a França assumiu o mandato, e agora o senhor vai herdar o problema. Quais são suas expectativas? Quanto o senhor acredita que a crise pode piorar?
Acho que temos de enfrentar a crise com muita, muita seriedade. Gostaria de enfatizar, no entanto, que não devemos entrar em pânico, pois esta seria a pior reação no momento. Não se deve ser jogar fora as comprovadas e confiáveis regras da economia num momento de pânico.
Mas devemos ter consciência de que medidas de emergência, às vezes, são necessárias. Tais medidas e regulamentações devem ser utilizadas com cuidado, mas não permanentemente. Como o gesso, quando se quebra uma perna. Para combater a crise, devemos tomar medidas que não paralisem as atividades econômicas e tenham um alvo determinado.
Uma questão importante para UE sempre foi sua relação com os vizinhos do Leste. Países como a Moldávia e a Ucrânia devem se tornar membros do bloco?
Isso ainda levará muito tempo. Mas acredito que é do nosso grande interesse que essa perspectiva se mantenha viva, pois é um motor para empreender reformas, uma verdadeira motivação. Essa questão tem grande importância para estimular as reformas necessárias, que são do nosso interesse. Ao discutir o tema, esquecemos que a integração dos países do Leste não é somente uma caridade benefício deles, mas sim uma forma de prevenir dificuldades que inevitavelmente teremos.
Que papel tem a Rússia neste conceito de sociedade política? Moscou representa somente um fornecedor estratégico de energia ou faz parte também dessa idéia de parceria política?
A Rússia é e continuará sendo um mundo à parte, com a qual devemos procurar manter uma relação saudável e justa. O que nos preocupa são certas tendências no país, como o retorno a um sistema autoritário. Estamos ansiosos quanto a certas afirmações revisionistas que, de alguma forma, são preocupantes.
O país continua sendo não somente um fornecedor de energia, mas também um parceiro nas discussões relacionadas à segurança e a inumeráveis elementos da política internacional. A Rússia é um parceiro muito necessário, com quem devemos ter diálogo. Mas obviamente não em todas as circunstâncias, pois devemos manter os nossos próprios princípios.