1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Cristiane é a primeira brasileira na Bundesliga

Alexandre Schossler17 de abril de 2005

Cristiane, a artilheira da seleção medalha de prata nas Olimpíadas de Atenas, é a sensação do Turbine Potsdam na temporada de 2005.

https://p.dw.com/p/6W4o
Cristiane marcou cinco gols em 12 jogosFoto: dpa Zentralbild

As saudades da família, do calor e da comida brasileira não têm impedido a atacante Cristiane Rozeira de Souza Silva, 19 anos, de marcar na Alemanha os gols que lhe asseguraram a artilharia nos Jogos Olímpicos de Atenas. A paulista de Osasco é a "arma secreta" do Turbine Potsdam, atual campeão alemão de futebol feminino, e costuma entrar no segundo tempo dos jogos. Em 12 partidas, foram cinco gols, um deles logo na estréia.

Cristiane está no Turbine desde 5 de fevereiro. Ela tem a companhia de outra jogadora brasileira, a paulistana Paula Silva Santos, 23 anos, também contratada da equipe de Potsdam, mas ainda não inscrita pelo clube para disputar os torneios e campeonatos do primeiro semestre. Ambas dividem um apartamento na cidade, que fica a menos de meia hora de carro de Berlim.

Saudade da família e da comida brasileira

Para as duas jogadoras, a fase de adaptação à Alemanha ainda não está superada. A saudade da família é a primeira lembrança. "Sinto muito falta deles", afirma Cristiane, para quem dois meses na Alemanha já é "tempo demais". Logo em seguida vem a comida. Elas tentam compensar a falta do tradicional feijão com arroz indo a restaurantes brasileiros na vizinha Berlim ou cozinhando em casa – os jantares no apartamento das brasileiras já são famosos entre as jogadoras do Turbine.

Mas ambas abrem uma exceção para uma já tradicional comida alemã: o döner kebab, uma espécie de bauru turco feito com carne de frango ou cordeiro, salada mista e molho. Cristiane e Paula já têm até o seu dönerladen favorito, no centro de Potsdam, onde são recebidas com abraços pelo dono e sua família.

Chuteiras na sauna

O inverno também trouxe problemas para as duas brasileiras, que chegaram à Alemanha durante as baixas temperaturas de fevereiro e encararam um início de março com muita neve. O clima anormal para os padrões brasileiros fez Cristiane vestir calças térmicas e luvas durante os treinos. "Ela só não entrava de touca porque não podia", brinca Paula.

Outro artifício de Cristiane era colocar as chuteiras para esquentar na sauna antes dos jogos, uma tentativa desesperada de evitar que os dedos do pé congelassem assim que a atacante entrasse em campo. O resultado não era muito animador: depois de cinco minutos de jogo, todo o calor já havia desaparecido dos calçados.

Técnico durão

O Turbine Potsdam é há mais de 30 anos treinado por Bernd Schröder, conhecido pelo seu estilo durão, daqueles que não param no banco durante os jogos e estão sempre gesticulando e gritando com as jogadoras. Os primeiros contatos com o estilo de Schröder assustaram as jogadoras brasileiras e geraram situações engraçadas.

Rozeira de Souza Silva - Christiane bei 1. FFC Turbine Potsdam
Frio e treinos pesados: obstáculos na adaptação da brasileiraFoto: dpa Zentralbild

“Nos primeiros treinos, ele gritava laufen (correr) e todas começavam a correr. Aí ele gritava schnell (rápido) e só nós duas nos apressávamos. As outras nem davam mais bola para ele e ficavam rindo de nós. Elas se divertiam conosco no começo...", conta Paula. "Laufen e schnell foram as primeiras palavras que nós aprendemos em alemão", lembra Cristiane.

Ela também reserva muitos elogios para o técnico da seleção brasileira de futebol feminino nos Jogos Olímpicos, René Simões. "Ele foi o melhor treinador que eu já encontrei na minha vida, não sei se um dia eu terei outro melhor. O René é dez e eu sempre vou tirar o chapéu para ele", afirma.

Jogo rápido

Cristiane notou diferenças entre o futebol do Turbine e o que ela conheceu no São Bernardo e no Juventus, clubes paulistas que defendeu antes de se mudar para a Alemanha. A principal é o estilo de jogo rápido e ofensivo do time alemão, no qual as jogadoras dão no máximo dois toques na bola. No Brasil, a tendência é segurar a bola e tentar o drible.

"Às vezes complica um pouco, eu quero dar um drible a mais, mas tenho que entrar no ritmo delas." O estilo alemão nem sempre se impõe. "Querendo ou não, acabo colocando um pouco do futebol brasileiro no jogo", explica.

Ela optou pelo Turbine depois de ter sido contactada pelo clube no final dos Jogos de Atenas. As outras propostas vieram do Lyon, da França, e de duas equipes suecas. Mas só os alemães ofereceram uma viagem para ela conhecer o estádio e a infra-estrutura de Potsdam.

E passaram a ligar todos os dias. O Turbine também colocou à disposição da artilheira apartamento e carro, além da possibilidade de ela trazer um familiar. Cristiane acabou optando por convidar a amiga Paula, com quem joga há mais de seis anos.

"Na Alemanha, os jogadores brasileiros ficam oito semanas ou oito anos", foi a frase que as brasileiras ouviram do novo treinador ao se apresentarem. A resposta veio exatas oito semanas depois. Cristiane marcou três dos quatro gols do Turbine na goleada sobre o Wolfsburg, em jogo válido pela Bundesliga.