Cristina Kirchner é vista pela primeira vez após atentado
3 de setembro de 2022A vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, apareceu em público nesta sexta-feira (02/09) pela primeira vez após a tentativa de assassinato sofrida na noite de quinta-feira.
Ela saiu de sua casa no bairro da Recoleta, em Buenos Aires, em frente à qual foi ameaçada com uma arma de fogo horas antes. A vice-presidente não fez declarações, mas cumprimentou animadamente seus apoiadores antes de entrar em um veículo preto com seus seguranças.
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, que condenou o grave incidente e decretou esta sexta-feira como feriado para que os cidadãos possam expressar "em paz" sua rejeição à violência, havia visitado a vice-presidente mais cedo por cerca de 50 minutos.
Na noite de quinta-feira, um homem de nacionalidade brasileira apontou uma arma para o rosto de Cristina Kirchner, em meio à vigília permanente de simpatizantes kirchneristas que, desde 22 de agosto, se instalou ao lado da casa da ex-presidente (2007-2015). Não houve disparo, pois, segunda a polícia, a arma teria falhado.
Também nesta sexta-feira, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil emitiu uma nota condenando "o injustificável ato de agressão" contra Kirchner. "O Brasil repudia toda e qualquer forma de violência com motivação política e reitera seu invariável respaldo à irmã nação Argentina", diz o comunicado do Itamaraty.
Vários líderes latinos prestaram solidariedade a Kirchner. Após um longo silêncio, na tarde desta sexta-feira, Bolsonaro se pronunciou e lembrou a facada que sofreu durante a campanha eleitoral de 2018.
"Eu lamento. Agora, quando eu levei a facada, teve gente que vibrou por aí. Lamento, já tem gente que quer botar na minha conta esse problema. E o agressor ali, ainda bem que não sabia mexer com arma. Se soubesse, teria sucesso no intento."
Mais cedo, o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva escreveu no Twitter: "Toda a minha solidariedade à companheira Cristina Kirchner, vítima de um fascista criminoso que não sabe respeitar divergências e a diversidade. A Cristina é uma mulher que merece o respeito de qualquer democrata no mundo. Graças a Deus ela escapou ilesa."
Como foi o atentado
Autoridades argentinas identificaram o autor do crime, que foi preso, como o brasileiro Fernando Andrés Sabag Montiel, de 35 anos. Nascido em São Paulo, filho de um argentino e uma chilena, ele tem residência na Argentina desde 1993. Em março de 2021, ele foi detido ao portar uma faca de 35 centímetros no bairro La Paternal, em Buenos Aires, onde vive.
De acordo com informações da Polícia Federal da Argentina à imprensa, Montiel portava uma pistola Bersa 380, calibre 32 e de fabricação argentina, carregada com cinco balas. De acordo com as imagens, o brasileiro – que usava uma touca preta e uma máscara facial – chamou a atenção dos apoiadores da ex-presidente e foi agarrado no meio da multidão.
Ao ser flagrado, Montiel tentou fugir, mas foi agarrado pela camisa perto do prédio onde a ex-presidente mora. Ele foi preso e levado para uma delegacia na cidade de Buenos Aires.
Segundo o jornal La Nación, Montiel seguia diversos perfis ligados a grupos radicais e de ódio, assim como páginas de "ordens maçônicas", de "comunismo satânico" e de ciências ocultas. As redes sociais do brasileiro foram deletadas durante a madrugada.
O Clarín afirma ainda que o brasileiro tem várias tatuagens em seu corpo, algumas que fazem alusão a mitologias vikings e germânicas, incluindo uma no ombro que representa um "Schwarze Sonne" (Sol negro, em alemão), símbolo ligado à filosofia ocultista do nazismo e utilizado pela organização paramilitar nazista Schutzstaffel (SS).
A Argentina vive um período de alta tensão política, e Cristina Kirchner é alvo de um pedido de prisão por parte do Ministério Público no contexto de um julgamento no qual ela é acusada de corrupção na concessão de obras públicas durante seus mandatos como presidente (2007-2015). Desde então, grupos a favor e contra a ex-presidente e atual vice têm se manifestado nas ruas de Buenos Aires.
le (EFE, ots)