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Crítica e público redescobrem o cinema alemão

mw17 de dezembro de 2003

Não fossem os lançamentos alemães, os distribuidores de filmes fechariam 2003 em franca decadência. Na reta final, eles contam ainda com Nemo e Frodo para conter a queda do faturamento.

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"Good bye, Lenin", o maior sucesso alemão no anoFoto: AP

Cada vez menos pessoas freqüentam os cinemas e o faturamento do setor segue em queda. Nesse sentido, este ano não vai terminar diferente dos anteriores. No entanto, os distribuidores e exibidores chegam ao fim de 2003 com a constatação de que os filmes alemães estão novamente em alta. Não fossem eles, a curva descendente seria ainda mais abrupta.

De acordo com o Instituto de Fomento ao Filme, o número de freqüentadores caiu de 126,1 milhões em 2001 para 116,1 milhões no ano passado, com perspectiva de ficar em 102 milhões em 2003. Já o faturamento teve retração de 692,9 milhões de euros para 673,6 milhões, devendo agora mal chegar a 584,1 milhões. Ou seja, uma perda de 12% a 13% nos últimos 12 meses. O instituto registra, entretanto, um aumento do público de filmes alemães, o que, comparado à queda geral, faz a fatia do cinema nacional subir de 12% para 14%.

Findet Nemo: ein neuer Animationsfilm des Trickfimstudios Pixar
"Procurando Nemo" já foi visto por mais de cinco milhões de pessoasFoto: DPA

Os cálculos já incluem as estimativas com os lançamentos de fim de ano Procurando Nemo (em cartaz desde novembro, já com mais de cinco milhões de espectadores, segundo propaganda dos distribuidores) e O Senhor dos Anéis – Parte 3 (a partir desta quinta-feira, 18, em circuito comercial). O segundo filme da trilogia, lançado às vésperas do Natal de 2002, atraiu mais de seis milhões de pessoas antes do fim daquele ano. Os distribuidores torcem para a repetição do fenômeno com a batalha final.

Sucessos nacionais

Dentre os filmes nacionais de maior bilheteria destacam-se Good bye, Lenin, de Wolfgang Beckers, lançado em fevereiro e já visto na Alemanha por 6,3 milhões de pessoas, e Das Wunder von Bern (O Milagre de Berna), de Sönke Wortmann, cujo público já ultrapassou 3 milhões desde o lançamento, em outubro. As duas obras abordam histórias de gente comum em meio a acontecimentos históricos: no primeiro caso, a queda do Muro de Berlim e a reunificação alemã; no segundo, a primeira conquista de um mundial de futebol pela Alemanha.

Nirgendwo in Afrika
"Sem lugar na África": Oscar de Melhor Filme de Língua EstrangeiraFoto: AP

A esses sucessos somam-se ainda a refilmagem de Das fliegende Klassenzimmer (A sala de aula voadora), baseada em clássico juvenil de Erich Kästner, assistida por 1,8 milhão de pessoas desde janeiro, e Sem lugar na África (Nirgendwo in Afrika), de Caroline Link, premiado com o Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira e que soma desde seu lançamento 1,6 milhão de espectadores na Alemanha.

Não só o público alemão tem valorizado mais as produções nacionais. A crítica também vem reconhecendo os méritos da atual safra. "O cinema alemão está tentando não copiar mais Hollywood, mas se voltar a temas mais próximos às pessoas entre a Ilha de Rügen e o Lago de Constança do que brigas de gangues em Los Angeles e intelectuais neuróticos em Nova York", escreveu Wolfgang Hübner, da agência de notícias AP.

Talvez por isso o público tenha prestigiado também Lutero, uma produção hollywoodiana, mas com financiamento alemão e sobre um importante episódio da história do país.

O ranking semanal dos filmes mais vistos reflete também a nova tendência. No início de novembro, ele apresentava nove obras alemãs entre os 20 primeiros lugares. Um mês antes, chegou a haver cinco entre os dez líderes. Entre os mais recentes sucessos estão o desenho animado satírico Werner – gekotz wird später (Werner – Vomitar fica para depois) e o infantil Till Eulenspiegel. Ambos já superaram produções similares do outro lado do Atlântico, como Leitão – O filme e Simbad – A lenda dos sete mares.

As razões da perda de público

Neuer Werner-Film
Apesar do título, a sátira adulta "Werner - Vomitar fica para depois" atraiu muitos aos cinemas.Foto: AP

Distribuidores e exibidores colecionam argumentos para justificar a perda de público na conta geral de 2003. Andreas Kramer, secretário-geral da Confederação de Cinemas Alemães, refere-se ao ensolarado verão como desastroso para as salas de exibição, apesar do ar condicionado. O público preferiu curtir sol e céu azul a enfiar-se em ambientes escuros com películas monótonas. Além disso, os cinemas não teriam sido poupados da crise de consumo. Somente em julho, houve queda de um terço na freqüência.

Johannes Klingsporn, diretor executivo da Federação dos Distribuidores de Filmes, identifica ainda uma causa nova: a pirataria. A prática de copiar DVDs e de baixar versões do filme pela internet vem se popularizando. O Instituto de Fomento ao Filme calcula que, de janeiro a agosto, quase 44 milhões de filmes foram copiados ilegalmente.

A crise, entretanto, não atinge igualmente todos os exibidores. Há salas que não têm de que reclamar. Os mais afetados são os maiores. Nos últimos anos, redes como Kieft & Kieft (Cinestar) e Cinemaxx investiram na construção de grandes complexos com muitas salas, naturalmente fora dos centros das grandes cidades, por razão de espaço. Eles contavam que o público acompanharia o deslocamento dos paraísos da sétima arte. Equivocaram-se.