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Crítica objetiva ou ódio represado?

Burkhard Müller-Ullrich (av)10 de janeiro de 2004

O fiasco dos inspetores de armamentos no Iraque reavivou a avalanche de críticas impiedosas aos EUA na imprensa alemã. Um encontro jornalístico na Baviera ocupou-se desse fenômeno. A Deutsche Welle esteve lá.

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Imprensa alemã não perdoa os EUA pela guerra no IraqueFoto: AP

Bem ao fim do encontro, no venerável Hotel Elmau, em pleno inverno da Baviera, um senhor com sotaque norte-americano pediu a palavra, e não teve papas na língua: "Faz um mês, cancelei minha assinatura do Süddeutsche Zeitung, que mantinha há 30 anos. Na qualidade de americano que gosta de viver na Alemanha, não queria ter que detestar os alemães, por ler as repetidas tiradas de ódio nesse jornal."

O desabafo não deixou de sacudir o eminente círculo de participantes, que até então insistira em contemporizar. Uma imagem negativa dos EUA? Dever de cronista! Afinal de contas, há tantos fatos negativos a noticiar. As tendências negativas da maioria dos comentários? Não são fabricadas pelos jornais, asseguraram os editores, mas sim partem do seio da sociedade. Um argumento tocante, que exime os redatores de qualquer responsabilidade sobre o que escrevem, por ser nada além de uma ressonância do que sente o povo.

Além disso, não haveria a menor pressão ideológica em nossa imprensa tão democrática. Basta folheá-la com toda a atenção, e se encontrará também artigos como o de Stefan Kornelius do Süddeutsche Zeitung: "Tivemos discussões altamente emocionais na redação. E suponho que o mesmo ocorreu no Frankfurter Allgemeine. Chegamos a gritar uns com os outros. Entre os cronistas e a redação de Política houve tensões como jamais vi."

Note-se que Kornelius é um declarado conhecedor e simpatizante dos norte-americanos. Assim, é compreensível sua reação irritada, quando o apresentador e chefe da redação de cultura do magazine Focus, Stephan Sattler, revelou a verdadeira face da onda de anti-americanismo na imprensa alemã: jornalismo de ressentimento.

Confusão cumulativa

Também o editor do Frankfurter, Frank Schirrmacher, rebateu com veemência a crítica de Sattler : "O senhor acha mesmo de espantar que meu jornal censure os Estados Unidos da América, quando estes iniciam uma guerra, mesmo contra a deliberação das Nações Unidas?"

Pelo menos a partir deste momento, se faria necessária uma base empírica para definir qual é o verdadeiro alvo dos debates: crítica, difamação ou tiradas de ódio? E em que grau?

O jornalista Robert von Rimscha, do Tagesspiegel, analisou o anti-americanismo galopante como uma resposta paradoxal às necessidades de adaptação ao mundo: à medida em que a realidade na Alemanha se torna irreversivelmente mais americana, maior é o impulso de negar essa aproximação forçada: "'Mas nós não queremos ser como os Estados Unidos!' Isto é ponto pacífico na Alemanha, todos, sem exceção, partilham deste ponto de vista: 'Mas não queremos ser como os Estados Unidos.'"