De olho em Cuba
21 de fevereiro de 2008A renúncia de Fidel Castro ao poder em Cuba já desperta o interesse de empresários alemães, para quem a saída do "comandante" significa o surgimento de oportunidades de negócios num país carente de investimentos. Para o advogado Frank Seifert, que desde 1995 assessora empresas alemãs interessadas em investir no país caribenho, a saída de Fidel significa uma virada importante no destino da ilha, ainda que não seja uma surpresa. "Esse passo estava sendo preparado há muito tempo", avalia.
De acordo com o especialista, o que os cubanos mais temem são mudanças radicais e o que eles mais desejam, uma transição suave para a era pós-Fidel, possivelmente sob o comando de Raúl Castro. "A população tem medo de pôr em risco o pouco que possui, caso a mudança seja muito rápida." O temor é compreensível, já que muitos exilados cubanos que vivem na Flórida apenas aguardam pelo momento de requerer seus bens que foram desapropriados.
Abertura econômica
"Do ponto de vista político, não esperamos mudanças, mas contamos com uma maior abertura econômica", avalia o analista Peter Rösler, da associação empresarial Lateinamerika Verein, com sede em Hamburgo.
Os primeiros sinais já são visíveis. Raúl Castro chamou a população para apontar falhas do sistema comunista e sugestões de como melhorá-lo. Também a imprensa, de uma forma aberta e incomum, aborda os problemas da economia cubana.
Seifert também espera mais oportunidades para investidores estrangeiros, incluindo as empresas alemãs. "Cuba é um país com grande carência de investimentos. É também o portão de entrada para o Caribe e tem uma população com elevado grau de escolaridade."
Poucos alemães
O país necessita de investimentos em todos os setores, a infra-estrutura é precária, as instalações industriais estão envelhecidas e a economia é carente de tecnologias modernas. Sejam geradores, sejam motores a diesel: a Alemanha exporta cada vez mais para a ilha. Números do Ministério das Relações Exteriores mostram que, em 2006, empresas alemãs venderam mercadorias no valor de 412 milhões de euros para Cuba.
Além de se adaptar à maneira de ser dos cubanos, quem quiser investir na ilha deve também se ocupar com as suas inúmeras regras e barreiras burocráticas. Conforme uma lei de 1995, uma empresa estrangeira necessita de uma parceira cubana e de uma licença governamental para se instalar e fazer negócios em Cuba. Segundo o governo alemão, existem 236 dessas parcerias.
A maior parte dos investidores vem da Venezuela e da China. De acordo com Seifert, a participação dos alemães é "risível": apenas seis investidores, entre eles a Daimler e o empresário Stefan Messer, que produz gases industriais e é o mais importante investidor alemão em Cuba.
Embargo dos EUA
O número de empresas alemãs interessadas em investir em Cuba é bem maior. O principal empecilho não é a burocracia comunista, mas o bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos. Quem investir em Cuba está se arriscando a ser excluído do mercado americano.
Seifert diz acreditar que o bloqueio americano está com os dias contados. Nesta terça-feira (19/02), mais de cem parlamentares republicanos e democratas apelaram à secretária de Estado Condoleezza Rice para que os Estados Unidos revejam sua posição. Segundo eles, a tentativa de forçar mudanças na ilha caribenha por meio de sanções e do isolamento diplomático – que já duram cinco décadas – fracassou.