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'Cuba autoexcluída'

5 de junho de 2009

País de Fidel se colocou em posição difícil ao recusar readmissão no sistema interamericano. Politólogos explicam por que o passo era previsível. E não excluem reaproximação e fim de embargos num futuro próximo.

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Difícil caminho de voltaFoto: picture-alliance / dpa

A assembleia geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), realizada na cidade hondurenha de São Pedro Sula, se encerrou com um saldo histórico: a anulação da sanção pela qual Cuba foi expulsa do órgão interamericano em 1962.

Vários países latino-americanos empreenderam uma campanha pela readmissão imediata de Cuba na OEA. Os Estados Unidos pressionaram no sentido de que uma resolução final incluísse o melhoramento dos padrões de direitos humanos e de participação democrática na ilha caribenha.

A Bolívia, Equador, Nicarágua e Venezuela rechaçaram essa pretensão, aproveitando para lembrar os anos de intervencionismo político estadunidense na região e a tendência da OEA de se calar a respeito. Por fim, os EUA aceitaram que a resolução incluísse apenas uma versão etenuada de suas exigências.

Recusa previsível

Dimitri Medwedew bei Raul Castro in Kuba
Raúl Castro (dir., aqui ao lado de Dimitri Medvedev) é a 'nova Cuba'Foto: picture-alliance/ dpa

Após todos os esforços, muitos observam desconcertados o fato de Cuba ter declinado do convite e rejeitado se integrar na organização interamericana. Esta não é, no entanto, a opinião de Claudia Zilla, politóloga especializada na América Latina e pesquisadora do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP).

Ela lembra que Fidel Castro já havia expressado seu desinteresse nesse sentido, logo que o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, concordou em readmitir o país.

"Na Cuba pós-Fidel, o importante para a estabilidade do regime é manter as alas cerradas. Qualquer movimento que ponha em risco a homogeneidade no interior da elite deve ser evitado. E creio que uma proximidade excessiva das instituições onde também estão representados os EUA pode gerar expectativas que criariam atritos e certas divergências internas."

É por isso que Cuba vai refletir e ponderar muito bem os riscos, antes de arriscar qualquer aproximação com essas instituições, comenta Zilla.

Vitória ambivalente

Bert Hoffmann, perito em desenvolvimento político e social de Cuba e do Caribe no Instituto de Estudos Latino-Americanos do GIGA, em Hamburgo, vê de forma semelhante a situação do governo em Havana.

"Para Cuba, o fim da sanção da OEA é um êxito ambivalente. Por um lado, fica claro que o apoio diplomático latino-americano atingiu um clímax. Do ponto de vista histórico, é um apoio espetacular. Por outro lado, agora cabe a Cuba reagir, o que coloca o governo numa posição incômoda. Agora Cuba é um país 'autoexcluído'."

A entrada na OEA impõe compromissos, acrescenta Hoffmann. Fidel Castro não deseja ver seu país numa organização onde os norte-americanos têm tanto peso, nem estar obrigado a acatar um documento como Carta da OEA.

"Os segmentos intransigentes da liderança cubana ainda consideram a OEA uma espécie de armadilha. A organização exigirá a assinatura da Carta, e Cuba se verá obrigada a fazer concessões. Esse é o medo que se tem, embora a Carta seja muito flexível – não é uma 'lei dura'. Então, não se trata apenas de uma questão ideológica; isso também faz parte da estratégia de conservação de poder."

Campo para surpresas

Reiseerleichterungen für Exil-Kubaner
Embargo econômico marcou a ilha durante décadasFoto: AP

Resta saber se a mudança de atitude da OEA será aliada ao fim do embargo que os EUA usaram até agora como medida de pressão socioeconômica contra o governo castrista.

"Eu não diria que nos Estados Unidos estejam dadas as condições para que se possa anular o embargo. No entanto, tampouco se pode descartar uma possível suspensão num futuro próximo, sob o governo de Barack Obama", comenta Zilla.

"Afinal de contas, há alguns anos ninguém havia acreditado na possibilidade de se suspender a sanção contra Cuba dentro da OEA. O que acaba de ocorrer nessa organização foi muito mais além do que alguns prognosticaram."

Autor: Evan Romero-Castillo
Revisão: Simone Lopes