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Curta brasileiro participa de mostra dedicada a público jovem na Berlinale

Marco Sanchez9 de fevereiro de 2014

Curta-metragem de Giuliana Monteiro é o único filme brasileiro selecionado para a seção Generation. Outro destaque da mostra é o filme "God Help the Girl", dirigido por Stuart Murdoch, do grupo pop Belle and Sebastian.

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Foto: Maike Nakano

A história de um menino brasileiro em busca de seus sonhos e um musical onde jovens tentam achar o seu caminho através do amor por livros, filmes e pela música pop são os destaques da seção Generation, dedicada a filmes com temática jovem e infantil, na Berlinale, o Festival de Cinema de Berlim.

Essa seção teve sua abertura na noite de sexta-feira (07/02) com a estreia europeia do filme God Help the Girl, do líder da banda escocesa Belle and Sebastian. O nome do projeto, que começou há uma década, remonta ao grupo musical formado por Murdoch, que conta com diversas vocalistas convidadas. A banda God Help the Girl lançou um álbum e um EP em 2009.

O outro destaque da mostra é o curta-metragem brasileiro Eu não digo adeus, digo até logo. Dirigido por Giuliana Monteiro, o filme mostra o universo e os sonhos do menino Antônio (interpretado por Caio Henrique da Silva), que vive em uma comunidade de beira de estrada, na constante espera pelo pai e seu caminhão vermelho.

Musica pop como redenção

Desde o primeiro disco do Belle and Sebastian em 1996, Stuart Murdoch se firmou como um dos maiores cronistas do cotidiano de pessoas comuns, que sonham com uma vida que conhecem apenas dos livros, filmes e da mágica mistura de acordes e poesia que é a música pop.

Com a sua banda Belle and Sebastian, ele não só retratou os sensíveis desajustados de Glasgow, mas também criou todo um universo pictórico e sonoro de uma doce melancolia. Murdoch construiu uma legião de fãs e uma consistente carreira.

Berlinale 2014 Filmszene God Help the Girl
Em 'God Help the Girl', jovens tentam achar o seu caminho, através da arteFoto: FINDLAY PRODUCTIONS LIMITED 2012

"Estava em turnê e sai para correr uma manhã. Enquanto corria, escutei uma melodia, que era como um rádio na minha cabeça. Era uma mulher cantando. Foi a primeira vez que ouvia uma voz feminina na minha cabeça. Voltei para o hotel e escrevi uma música, depois outra, e essa voz se transformou em uma personagem", disse Murdoch depois da exibição do filme em Berlim.

Quando o Belle and Sebastian entrou de férias em 2006, o músico decidiu escrever um roteiro. Assim, a personagem Eve começou a tomar forma e ganhar vida.

Em uma atipicamente ensolarada Glasgow, Eve (Emily Browning) é uma jovem lutando contra a anorexia. Através de sua paixão pela música, ela se aproxima de James (Olly Alexander) e Cassie (Hannah Murray). Entre amores, descobertas e aventuras de verão, eles formam uma banda e lutam contra as dificuldades da vida.

Aprendendo a sonhar

Já o curta de Giuliana Monteiro se utiliza da fantasia como forma de escapismo para a falta de perspectiva que atinge as comunidades pobres brasileiras.

"Viajo muito de carro pelo Brasil, desde pequena. É algo que gosto muito de fazer, sempre tive paixão pela estrada. Em uma viagem por Minas Gerais, passei por muitas dessas comunidades de beira de estrada. Fiquei curiosa na relação que essas pessoas têm com o tempo e como elas administram a vida em um lugar de passagem", disse a diretora em entrevista à DW Brasil.

Berlinale 2014 Filmszene Eu não digo adeus, digo até logo
'Eu não digo adeus, digo até logo': fantasia como forma de escapismoFoto: Maike Nakano

Essa curiosidade começou a tomar forma de roteiro depois que Monteiro conversou com um menino que vendia flores pelos bares da noite paulistana. "Ele falava como o pai era importante para ele. Depois de um tempo de conversa, ele disse que não conhecia o pai. Isso me inspirou a escrever sobre um menino que queria conhecer uma figura que ele criou em sua cabeça", explicou.

Assim nasceu a história de Antônio, um menino de 11 anos que vive em um local de passagem, sempre à espera do pai que, segundo a mãe de Antônio, dirige um caminhão vermelho.

A diretora passou um mês viajando pelas estradas de Minas Gerais e São Paulo e encontrou a locação ideal em Córrego da Foice, na periferia da cidade mineira de Gonçalves. A tarefa de encontrar um ator para viver Antônio também não foi tão fácil.

"Testamos mais de 150 crianças em São Paulo, estava com medo de colocar um filme inteiro nas costas de uma criança sem experiência, mas achava que esse menino estava lá, na beira da estrada, andando descalço", contou Monteiro.

Realização pessoal e profissional

A equipe fez um teste de elenco em Gonçalves. "O Caio é um pouco pequeno, o que não me convenceu à primeira vista. Fizemos um teste para ver se ele conseguiria dirigir um caminhão, somado a uma paixão por carros, me pareceu crível que ele pudesse dirigir. Ele é muito esperto e talentoso. Tenho um carinho muito grande por ele", afirmou.

A grande responsabilidade sobre o menino fez com que tudo no filme fosse direcionado e moldado para ele, assim a diretora conseguiu extrair o máximo não só do personagem, mas também da locação. "Não queria desconectá-lo daquele universo em que ele estava tão presente."

Eu não digo adeus, digo até logo não foi apenas uma realização profissional, mas também pessoal para Monteiro, que criou uma relação, não só com o jovem ator, mas também com toda aquela comunidade.

"Investir e inspirar essas pessoas, que têm um cotidiano tão duro, foi além do filme. Não quero abandonar essas pessoas. Sempre que vou ao Brasil vou visitá-los e quero fazer a estreia do filme no Brasil, lá na comunidade", revelou a diretora, que atualmente estuda em Nova York.