Chance de integração
17 de abril de 2009O temário da 5ª Cúpula das Américas, que se realiza de 17 a 19 de abril de 2009 em Trinidad e Tobago, inclui desde as novas políticas energéticas e suas repercussões ambientais e econômicas até o combate ao crime organizado e ao tráfico de drogas.
Constam também da pauta a migração interregional e a redução das remessas de dinheiro dos trabalhadores migrantes à América Latina e Caribe. Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), essas remessas alcançaram um volume recorde superior a 69 bilhões de dólares em 2008, para, no entanto, diminuírem consideravelmente com a chegada da recessão.
Entretanto são outros pontos da agenda que monopolizam a atenção internacional, antes mesmo do início do encontro: a política do novo governo estadunidense diante da América Latina, uma possível suspensão do embargo contra Cuba e o inevitável tópico da crise financeira global.
De olho nos EUA
"Os países latino-americanos prestarão muita atenção no que disser [Barack] Obama, e como o dirá", adiantou Klaus Bodemer, ex-diretor do Instituto de Estudos Latino-Americanos (ILAS, do inglês) de Hamburgo.
"Também a Europa está interessada em saber se os Estados Unidos têm uma nova política para com a América Latina, ou se pelo menos pretendem tê-la, pois durante a administração de George W. Bush ela não existiu", acrescenta o especialista nas áreas de globalização e integração regional.
A posição do novo governo dos EUA em relação a Cuba gera grande expectativa também na Europa. "O embargo será prorrogado ou ele será encerrado?", pergunta Bodemer em tom retórico. "Embora não creia que Obama vá fazer declarações espetaculares a respeito, um pronunciamento sobre o tema terá notável valor simbólico."
A Cúpula das Américas é um encontro organizado pela Organização dos Estados Americanos (OEA). Dele participam todas as nações do continente, exceto Cuba, expulsa do grêmio em 1962.
Esperando o FMI e o Banco Mundial
Chegar a acordos para sair da recessão o quanto antes possível é outro objetivo inadiável. Muitos na América Latina contam com empréstimos e créditos a serem concedidos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial para fazer frente ao impacto da crise sobre a região.
Afinal de contas, as medidas decretadas pelo G20 na cúpula de Londres, em 2 de abril último, preveem a duplicação das verbas do FMI a curto prazo, com o fim de estabilizar os países em desenvolvimento e fortalecer a economia global.
Porém essa esperança se vê ameaçada pelo temor de que os países europeus – cujos representantes monopolizam a maioria dos cargos de diretoria no FMI e no Banco Mundial – terminem recebendo a maior parte dos auxílios financeiros com maior presteza. Deste modo, os olhares estão agora fixados no BID e no aumento do capital dessa instituição, um objetivo nada fácil de alcançar.
O professor Hartmut Sangmeister, da Faculdade de Economia e Ciências Sociais da Universidade de Heidelberg, considera fundado esse temor. Entretanto, "no BID, os latino-americanos estão em maioria e o volume de empréstimos dessa instituição é maior do que o dos créditos do Banco Mundial", ressalva.
Unidade utópica
O comércio e as finanças são apenas duas das áreas em que conviria à América Latina expor seus interesses em uníssono. Porém, na opinião de Sangmeister, o antiquado sonho de uma verdadeira unidade pan-hispânica parece ainda mais utópico em tempos conturbados como os atuais.
"Não percebo que haja uma noção de metas comuns latino-americanas. E agora que Chávez e seus aliados acentuam a divisão ideológica do subcontinente, muito menos", assinala o catedrático de Heidelberg.
"Os países menos influentes confiam muito pouco no Brasil e no Chile, como demonstram as eternas discussões em torno da União das Nações Sul-Americanas. Lula se diz porta-voz da América Latina, porém de fato o Brasil caminha só e defende seus interesses nacionais mesmo no contexto do Mercosul. De um lado, se ergue um bloco de nações bolivarianas, do outro, o dos países com acesso ao Pacífico... na América Latina não há consenso."
Hora de falar em uníssono
Além de confirmar as reservas de Sangmeister, Klaus Bodemer chama a atenção para o fato de ser esta a primeira Cúpula das Américas a se realizar no Caribe.
"E os países de língua inglesa – que se têm visto marginalizados nos últimos 15 anos e não representaram nenhum papel nas últimas cúpulas – vão assegurar-se de que nesta oportunidade também eles se beneficiem da solidariedade proclamada pelos EUA e pelos países latino-americanos."
Entretanto, apesar de todas as diferenças e "conflitos tácitos" no Hemisfério Sul, o ex-diretor do ILAS está seguro de que a atual cúpula resultará numa nova firmeza para a região, em matéria de integração.
"O projeto da Alca [Área de Livre Comércio das Américas] ficou enterrado na conferência passada, porém este ano se realizarão várias reuniões para transcender o tópico dos acordos bilaterais e abordar o tema da cooperação em escala hemisférica. Os países da região procurarão falar com uma única voz."
Segundo Bodemer, "a facção que promove uma 'integração alternativa' – uma integração entre os povos — certamente tomará a palavra, mas é pouco provável que seja esta a prioridade da maioria dos participantes. A outra facção, liderada por um Lula moderado, apostará para que a América Latina se mantenha unida, porém aberta aos Estados Unidos, Europa e Ásia".
E o "fator Chávez?" "Já passou a conjuntura favorável a Chávez. Hugo Chávez está preocupado com a queda dos preços do petróleo e o perigo de perder popularidade em seu país. O político que tem – e conservará – as rédeas nas mãos na América Latina é Lula", conclui Bodemer.
Autor: Evan Romero-Castillo
Revisão: Roselaine Wandscheer