Cúpula EUA-África reúne 50 chefes de Estado em Washington
4 de agosto de 2014Pela primeira vez, Washington receberá tantos chefes africanos de Estado e de governo de uma só vez. Nesta segunda-feira (04/08), 50 líderes de diversos países da África serão recepcionados pelo presidente americano, Barack Obama, para a Cúpula EUA-África. Obama convocou o encontro há um ano, durante uma visita à Cidade do Cabo, na África do Sul, com o objetivo de "abrir um novo capítulo na história das relações entre os americanos e os africanos".
A mídia americana vem discutindo há bastante tempo o forte interesse dos Estados Unidos na África. Frequentemente, a concorrência entre empresas chinesas e indianas na região é mencionada. E, como elas estão investindo na África, os EUA também querem marcar presença por lá, a fim de que o país possa estimular suas empresas nacionais a se instalarem no continente. Para muitos observadores, a Cúpula EUA-África é uma prova desse foco mais forte no continente africano.
Linda Thomas-Greenfiel, do escritório do Departamento de Estado americano na África, contesta. "Não se trata de um realinhamento em direção à África", afirmou a ex-embaixadora. "Temos embaixadas em quase todos os países africanos, nossas relações ultrapassam gerações. A cúpula será apenas mais um passo para firmar ainda mais essa ligação, que já é bastante forte."
Para o encontro, foram convidados todos os chefes de governo de países que mantêm boas relações comerciais com os Estados Unidos. Na lista de excluídos está, por exemplo, o presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, cujo país sofre sanções do Ocidente há mais de dez anos.
Entre os sem convite estão ainda a Eritreia, o Sudão e a República Centro-Africana. Na semana passada, os presidentes de Serra Leoa e da Libéria cancelaram suas participações no encontro por causa da atual epidemia do ebola em seus países.
Negócios e investimentos
O surto do ebola deve entrar na pauta do encontro, assim como o combate a grupos islâmicos que atuam na África, como o Boko Haram, na Nigéria. O principal assunto que deve tomar conta das discussões, porém, será mesmo comércio e investimentos.
O fórum sobre business, do qual devem participar mais de 300 pessoas, promete ser, portanto, um evento central da cúpula. Para Thomas-Greenfield, o fórum será uma boa oportunidade para falar sobre "boa governança" e combate à corrupção na África. "Quando a construção de uma empresa num país é interrompida 50 vezes, e só é possível continuá-la quando se paga propina, então, essa empresa vai procurar algum outro país vizinho para se instalar", diz a ex-embaixadora.
Por isso, ela espera que acordos sejam assinados entre os EUA e o maior número possível de países africanos durante a cúpula. "Daí os outros países vão ver o que é necessário para atrair investidores."
Direitos humanos
Organizações de direitos humanos reclamam, porém, que a cúpula dará muita importância ao comércio e terá pouco tempo para discutir a proteção das minorias. "Não tenho grandes expectativas sobre esse encontro", afirmou Carlos Quesada, porta-voz dos direitos de homossexuais e transgêneros da ONG Global Rights.
Além disso, a abordagem dos EUA ainda parece muito retraída, diz Quesada. "Muitos presidentes africanos são ditadores, há inúmeros problemas de direitos humanos. Apesar de sabermos que esse tema deverá ser discutido, achamos que essa conversa se dará a portas fechadas. E, enquanto essa discussão não for aberta, ela não terá qualquer influência na prática."
Sarah Margon, diretora do escritório da organização Human Rights Watch em Washington, concorda. Ela reconhece que a cúpula trará muitos enfoques positivos, mas que não foram pensados de maneira consistente para o futuro. Margon considera um erro as organizações de direitos humanos não terem sido incluídas como parte oficial do encontro.
"Haverá um fórum para a sociedade civil, mas como nós estamos vendo, os chefes africanos não vão participar dele. E esta é uma chance desperdiçada, porque aqui poderiam se juntar ONGs e líderes de governos", considera.
Futuro nas mãos dos jovens
Enquanto as expectativas de Quesada e de Margon são pequenas, Cyrus Salabwa Kawalya estava ansioso diante dos três dias de conferência. O fotógrafo de 33 anos, nascido na Uganda, criou um projeto que auxilia moradores de favela em seu país. Agora, ele e outros 500 participantes da África poderão estudar numa universidade americana.
O programa de intercâmbio é parte da Young African Leaders Initiative (Iniciativa de Jovens Líderes Africanos), pela qual jovens são preparados para assumir responsabilidades em seus países – seja na área econômica, na política ou como integrante de uma ONG.
Kawalya faz parte de um pequeno grupo de bolsistas que poderão participar da cúpula de governantes. Ele espera poder transmitir aos chefes de governo como a juventude africana está preparada para mudar o continente. "Nós, jovens africanos, estamos nos preparando mais. Sabemos como a geopolítica funciona. Por isso, queremos nos sentar também à mesa de negociações e conduzir um diálogo aberto."
Passy Mubalama Nabintu, da República Democrática do Congo, também gostaria de ir à cúpula. Entretanto, a jornalista e bolsista não foi convidada. Agora, ela espera que seus colegas possam apresentar por lá os problemas enfrentados pela juventude. "Para nós, esta seria uma boa oportunidade de enumerar os desafios de nosso continente e buscar soluções", acredita a jovem de 29 anos.