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Cúpula no Panamá pode marcar nova era na América Latina

Astrid Prange (md)9 de abril de 2015

Em meio ao processo de reaproximação entre Washington e Havana, reunião da OEA, que pela primeira vez terá presença cubana, pode entrar para a história como marco do realinhamento das relações interamericanas.

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Foto: Reuters/Mariana Bazo

O anúncio foi claro: "A próxima cúpula não seria realizada sem Cuba", declararam os 35 membros da Organização dos Estados Americanos (OEA) em sua última reunião, em 2012, em Cartagena, na Colômbia. E eles tinham razão. Desta vez, a América Latina prevaleceu, e não os Estados Unidos.

A sétima edição da Cúpula das Américas, realizada nesta sexta e sábado no Panamá, vai entrar nos livros de história. Pela primeira vez, um presidente americano e um cubano vão apertar as mãos no encontro, do qual o país caribenho nunca participou. O fórum reúne, desde 1994, os líderes dos países que integram a OEA, da qual a ilha foi suspensa em 1962. Em 2009, a decisão foi revogada, mas Cuba se abstinha de participar. Agora, depois de mais de 50 anos, os dois arqui-inimigos políticos estão em processo de reatar as relações diplomáticas.

"A Guerra Fria no Caribe chega ao fim. Para Cuba, foi um triunfo político quando Obama declarou fracassada a política americana dos últimos 55 anos para a ilha", avalia Bert Hoffmann, do instituto alemão Giga, sediado em Hamburgo. O especialista em Cuba, que acompanha o desenvolvimento político e econômico no país desde a década de 90, se diz convencido de que ambos os lados têm "intenções sérias".

Desafio para Havana

Mas por trás do aparente triunfo de Cuba, não se esconde, na opinião de Hoffmann, fraqueza alguma de Washington, e sim um desafio político para Havana. "Até agora, o confronto com os Estados Unidos era fundamental para a legitimidade do sistema de partido único de Cuba", explica. O conflito exterior parecia não permitir o pluralismo no interior do país. "O relaxamento em relação aos EUA aumenta agora as expectativas de participação política e transparência na ilha", prevê.

A cúpula não será importante apenas para a reaproximação histórica entre os dois arqui-inimigos ideológicos, mas também para o realinhamento das relações interamericanas como um todo. Porque a imagem dos EUA como um inimigo em comum está empalidecendo. O apoio às ditaduras militares latino-americanas por parte de Washington virou coisa do passado.

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Barack Obama e Raúl Castro: no Panamá, líderes vão se sentar pela primeira vez numa mesma mesaFoto: picture-alliance/dpa/Michael Nelson/Alejandro Ernesto

"A reaproximação elimina um dos grandes temas da esquerda latino-americana", opina o especialista em América Latina Oliver Stuenkel, da Fundação Getúlio Vargas. "Isso vai fortalecer o papel dos EUA na América Latina e melhorar as dinâmicas regionais."

Relações com o Brasil

Ponto central dessa melhora é também a reaproximação entre os EUA e o Brasil. As relações entre os dois países tinham se deteriorado de forma dramática, quando foi revelado, em outubro de 2013, que a NSA grampeara telefonemas da presidente Dilma Rousseff. Ela e Obama marcaram uma conversa a dois durante a cúpula.

A relação tensa entre Brasil e Estados Unidos também é um dos exemplos para as discordâncias entre os EUA e o restante do continente. As sanções impostas pelos EUA contra sete políticos de alto escalão do governo da Venezuela não são criticadas só por Dilma, mas também por outros países latino-americanos.

Eles defendem o princípio da não ingerência em assuntos internos de seus vizinhos e não querem se submeter aos ditames de Washington em relação a quem pode ou não fazer negócios ou manter relações diplomáticas – seja democrata ou ditador.

Não só o líder cubano Raúl Castro se beneficia desta diretriz, como também seu aliado Nicolás Maduro. O presidente da Venezuela vai usar a cúpula para atiçar a velha hostilidade em relação aos Estados Unidos. Ele já planejou com antecedência grandes protestos contra as sanções americanas.

Fim de velhos estereótipos

Mas a realidade política e econômica do continente já se emancipou há muito tempo dos velhos estereótipos. A Venezuela reduziu drasticamente o fornecimento de petróleo a Cuba, pois não quer mais ser paga com serviços, e sim com dólares. Já o Brasil passou a ser o segundo maior exportador para Cuba, depois da China. Pequim, por sua vez, já tomou o lugar dos EUA como mais importante parceiro comercial do Brasil.

Bert Hoffmann não tem dúvida de que uma nova era está começando, mesmo que Havana insista em pisar, vez por outra, nos freios. "Raúl Castro está tentando abafar as expectativas de mudança do sistema político", diz o especialista. "Mas o que vai acontecer com a lógica da fortaleza sitiada, quando o inimigo desistiu do cerco e se torna agora vizinho, parceiro comercial e investidor? O que acontecerá com Davi, quando Golias não mais ameaçar, mas tentar atraí-lo com dólares?"