Dívidas deixam futuro do "Dinossauro da Bundesliga" incerto
19 de maio de 2014Na última rodada da Bundesliga, no domingo (11/05), o técnico do Hamburgo, Mirko Slomka, substituiu Pierre-Michel Lasogga a fim de preservar o atacante para as duas partidas da repescagem contra o terceiro colocado da segunda divisão, Greuther Fürth.
Lasogga é a principal força ofensiva no elenco, mas sofreu com constantes problemas musculares durante a temporada. A aposta tática se mostrou acertada. Um único gol de Lasogga, aliado às excelentes atuações do goleiro reserva Jaroslav Drobný, mantiveram o Hamburgo na Primeira Divisão do Campeonato Alemão.
Com os dois empates – 0 a 0 em Hamburgo e 1 a 1 na Baviera – o clube mantém a tradição de ser o único a ter disputado todas as 51 temporadas da Bundesliga, sem nunca ter sido rebaixado. O cofundador da Bundesliga se safou do rebaixamento graças à regra do gol fora de casa. Depois de uma temporada catastrófica, com apenas 27 pontos em 34 partidas, a defesa mais vazada do campeonato (75 gols) sofridos, e impressionantes 19 rodadas entre os três últimos colocados na tabela de classificação, o Hamburgo respira aliviado – ao menos por enquanto.
"Estou em outro planeta. Mais uma temporada que nem essa eu não suporto. Se não corro o risco de cometer suicídio. Nós tivemos muita sorte, que depois de uma temporada tão horrível não fomos rebaixados. Eu me alegro mais pelos nossos torcedores. Eles mereceram", declarou o capitão da equipe, Heiko Westermann.
"Estamos muito felizes. Foi um parto e tanto. Alguns disseram que é constrangedor poder jogar a repescagem com 27 pontos. Mas eu não me importo", disse um aliviado Oliver Kreuzer, diretor esportivo do Hamburgo, depois da partida.
"Entre as decisões possíveis, essa definitivamente foi a mais apertada. Mas a nova temporada começa na segunda-feira. As perspectivas são muito boas. O Hamburgo tem um ótimo ambiente. Mas precisamos de uma nova organização e de novos jogadores para que a próxima temporada não termine como a atual", alertou Slomka. O treinador esteve em situação semelhante em 2010, quando salvou o Hannover do rebaixamento.
Dívidas e briga política
Mas o futuro do "Dino" da Bundesliga é incerto. Politicamente o clube está um caos. Entre os principais problemas está uma dívida de quase 100 milhões de euros. Até o final de junho, o clube precisa dar garantias financeiras para não correr o risco de não receber a licença da DFL (Liga do Futebol Alemão, em tradução livre), que rege o futebol profissional na Alemanha, para disputar a Bundesliga.
Muitas decisões dependem dos resultados da assembleia dos sócios no próximo domingo (25/05). De um lado a iniciativa HSVPlus planeja desmembrar o futebol profissional do clube e abrir o departamento para investidores. O milionário Klaus-Michael Kühne, acionista majoritário de uma empresa de logística, entraria com o dinheiro, e o ex-jogador do Hamburgo e hoje diretor esportivo do Zenit St. Petersburg, Dietmar Beiersdorfer, seria o novo presidente do clube. Para tal, a HSVPlus necessita de dois terços dos votos.
Porém, nos bastidores há uma forte campanha contra o HSVPlus. Membros do conselho fiscal, ex-jogadores, presidentes e membros do conselho de honra criaram a HSV-Allianz e querem evitar que o clube caia nas mãos de um acionista.
As brigas políticas dificultam definir os membros da direção do clube para a próxima temporada. O chefe executivo do clube, Carl E. Jarchow, e o diretor esportivo, Oliver Kreuzer, não continuariam caso a HSVPlus vença as eleições. Do contrário, o diretor de marketing, Joachim Hilke, estaria desempregado caso a HSV-Allianz conquiste a maioria no plenário.
Contratos expirando
Indecisões que paralisam o Hamburgo e dificultam o planejamento com elenco, comissão técnica, entre outros. O salvador da pátria, Lasogga, estava no Hamburgo por empréstimo e vai voltar ao Hertha BSC Berlin. Os contratos dos volantes Tomás Rincon e Robert Tesche terminam no mês que vem. E alguns dos principais jogadores têm contrato apenas até metade de 2015: Raffael van der Vaart, Heiko Westermann, Marcell Jansen, Tolgay Arslan, Michael Mancienne, Jaroslav Drobný, Milan Badelj e Ivo Ilicevic. Se n]ao renovarem, esses atletas estarão livres para assinar com outro clube já no final deste ano, sem que o Hamburgo receba um centavo sequer.
E a promessa Hakan Çalhanoğlu, autor de 11 gols na temporada e com contrato até 2018, pode estar de saída para o Bayer Leverkusen. Segundo a mídia alemã, o Leverkusen teria oferecido 12 milhões pelo jovem meia-atacante. "O Bayer é um clube que joga os torneios continentais. E nós pensamos a médio e longo prazo. E jogar a Liga dos Campeões é o próximo passo", disse Bektas Demirtas, empresário de Çalhanoğlu.
O presidente Jarchow obviamente não quer liberar o atleta, mas ele também sabe que o Hamburgo precisa, e muito, desse dinheiro no momento. Também porque a classificação final no campeonato define o montante de dinheiro dos direitos de transmissão que cada clube recebe. E com os cerca de 20 milhões de euros pelo 16º lugar, fica mais complicado em preencher a lacuna do salário anual dos jogadores: 44,5 milhões de euros.
Já não é de hoje que o Hamburgo se sustenta em sua tradição. Segundo levantamento da Forbes, revista de negócios e economia, o Hamburgo está entre os 20 clubes mais valiosos do mundo – como valor similar ao do campeão espanhol e finalista da Liga dos Campeões, Atlético de Madrid. Mas o campeão europeu de 1983 não disputa um torneio continental desde a temporada 2008/2009.
Com todos estes problemas, não é de se espantar que, mesmo com concorrentes do nível de Paderborn, Freiburg e Augsburg, o Hamburgo seja sério candidato a perambular pelas posições inferiores da tabela.
Uma enquete no portal esportivo alemão Kicker levantou a questão se o Hamburgo permanecerá na primeira divisão também na próxima temporada. Cerca de 40% dos leitores acreditam que o clube não manterá a sua tradição e será rebaixado. Até lá, o relógio na Imtech Arena continuará contabilizando a vida do "Dinossauro" na primeira divisão da Bundesliga.