DaimlerChrysler é investigada no escândalo do Petróleo por Comida
10 de agosto de 2005O escândalo do programa das Nações Unidas de troca de petróleo iraquiano por comida começa a respingar numa empresa de porte mundial – a DaimlerChrysler. A revista alemã Stern informa em sua edição que chega às bancas nesta quinta-feira (10/08) que, desde julho passado, a Comissão de Valores Mobiliários e de Câmbio dos EUA (SEC) investiga o envolvimento da montadora teuto-norte-americana no caso.
A SEC suspeita que a DaimlerChrysler pagou propina para fornecer caminhões ao Iraque. Segundo a Stern, o país do ex-ditador Saddam Hussein encomendara 150 veículos do modelo Actros, dos quais 50 teriam sido fornecidos em 2002 através de uma firma russa sediada em Moscou.
A montadora confirmou à revista que recebeu um pedido de esclarecimento por escrito da SEC. A autoridade norte-americana estaria interessada também em conhecer detalhes dos negócios da DaimlerChrysler em Gana e no Irã.
Mar de lama na ONU
O programa Petróleo por Comida da ONU, em vigor de 1996 a 2003, permitia ao governo de Saddam Hussein vender quantidades limitadas de petróleo para poder garantir o abastecimento básico de alimentos e remédios à população.
Um relatório divulgado na última segunda-feira (08/08), em Nova York, indica que essa brecha no cerco das sanções internacionais impostas ao ditador iraquiano deu origem ao maior escândalo de corrupção da história da ONU. Só o ex-diretor-executivo do programa, Benon Sevan, e um funcionário do setor de licitações, Alexander Yakovlev, teriam embolsado propinas no valor de US$ 1 milhão.
"Empresa de licitações era o gargalo"
Todas as encomendas iraquianas no âmbito do Petróleo por Comida eram analisadas pela respectiva comissão da ONU em Nova York, que encarregou a empresa de licitações Coctena, em Genebra, de fiscalizar os passos seguintes. Esta liberava os pagamentos de uma conta em Paris, onde entravam os recursos oriundos da venda de petróleo do Iraque.
"A Coctena era o gargalo nos negócios com o Iraque", disse um empresário alemão ouvido pela Stern. "Mesmo que a ONU tivesse dado luz verde, havia uma fila de 500 a 1000 empresas à espera da credencial para receber o pagamento. Isso podia demorar até um ano ou mais. Pagava-se uma propina e se furava a fila."
De acordo com a Stern, a SEC investiga se a Mercedes também pagou propina à Coctena, o que representaria uma transgressão às leis anticorrupção dos EUA. Nessa firma trabalhava Kojo Annan, filho do secretário-geral da ONU, Kofi Annan, cuja família vem de Gana. A DaimlerChryler admitiu no anexo de seu último balanço trimestral, apresentado no dia 28 de julho passado, que está sendo investigada pela SEC.
Desmontagem de Annan
Segundo a comissão independente que apura o escândalo do Petróleo por Comida, presidida pelo ex-chefe do Tesouro norte-americano Paulo Volker, até duas mil empresas podem ter pago propina para fazer negócios com o Iraque. Em abril deste ano, o jornal Süddeutsche Zeitung informou que várias firmas alemãs estariam envolvidas no caso, mas não mencionou nomes.
Volker ainda não conseguiu apresentar provas de que também o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, esteja envolvido na corrupção, mas disse que "o secretário-geral ainda não está exonerado pelas apurações".
Na avaliação do analista da Deutsche Welle especializado em assuntos da ONU, Klaus Dahmann, as investigações do escândalo do Petróleo por Comida só têm um objetivo: desmontar o secretário-geral Kofi Annan, considerado uma pedra no sapato da linha dura em Washington, desde que ele se posicionou claramente ao lado dos adversários da guerra no Iraque. "Já agora é evidente que a imagem do secretário-geral está arranhada" conclui Dahmann.