De olho em matérias-primas, Alemanha se volta para a América do Sul
17 de abril de 2013Cobre e lítio do Chile, minério de ferro do Brasil, ouro do Peru: cada vez mais a indústria alemã se volta para a América do Sul em busca de matérias-primas. Nada mais natural, portanto, que tanto política como economicamente o interesse por parcerias na região seja, também, cada vez maior.
A ofensiva alemã começou no início deste ano, com a visita da chanceler federal Angela Merkel ao Chile. Ela participou da reunião de cúpula entre a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a União Europeia (UE), em Santiago.
Até então, Merkel tinha demonstrado pouco interesse pela América Latina. Desde a posse, em 2005, ela havia visitado o subcontinente apenas uma vez. Três meses após a cúpula em Santiago, o segundo encontro já está na agenda: nesta quarta-feira (17/04), a líder alemã recebe o presidente do Equador, Rafael Correa, em Berlim.
Destino de investimentos
Chile e Brasil estão entre os oito maiores produtores de minérios do planeta. Juntamente com Canadá, Estados Unidos, Austrália, África do Sul, China e Rússia, são responsáveis por 50% da produção mundial de matéria-prima.
"Além do Chile e do Brasil, o Peru é muito atraente, pois é um país estável com um grande potencial de recursos", diz Peter Buchholz, chefe da Agência Alemã de Recursos Naturais (Dera, da sigla em alemão). Justamente por causa da alta concentração de algumas matérias-primas em poucos países, a estabilidade política é um fator crucial nesse mercado.
O interesse pela região parece estar apenas começando. Além de cobre, lítio e ferro, o subcontinente também tem imensas reservas de zinco, chumbo e metais usados na produção de aço, como manganês, cromo, níquel e molibdênio.
Conforme a Dera, a América Latina concentra 25% do investimento mundial para a descoberta de novos depósitos de materiais brutos. Só a América do Norte recebe mais investimentos: 26% do total. "Para toda a África flui apenas 15% do investimento mundial do setor. Esses números acentuam a grande importância da América Latina para a mineração e exploração", diz Buchholz.
Em novembro de 2012, uma pesquisa realizada pela Confederação da Indústria Alemã (BDI, da sigla em alemão) mostrou que Brasil, China e Estados Unidos são os três maiores fornecedores de matéria-prima para a indústria do país europeu. Chile e México estão entre os dez primeiros.
Dependência alemã
Ainda assim, a Alemanha precisa avançar na corrida por recursos naturais. "A Alemanha é dependente dos mercados internacionais de matérias-primas", explicou Buchholz.
Os maiores concorrentes são Canadá, Austrália, Estados Unidos e especialmente a China. Os asiáticos se tornaram o principal parceiro comercial de Brasil, Equador e Chile, com fortes investimentos em mineração. A maioria das empresas alemãs de mineração, ao contrário, encerrou as atividades nos anos 1990, devido à queda nos preços no setor. Desde 2003, elas tentam recuperar o terreno perdido.
Como consequência dessa situação, as empresas alemãs precisam se abastecer no mercado de commodities e estão sujeitas às flutuações de preços. De acordo com o Instituto Federal de Geociências, os gastos externos da Alemanha com matérias-primas subiram 25% em 2011, apesar de o volume de importação ter sido praticamente o mesmo.
Segundo a pesquisa da BDI, 61% das empresas esperam mais apoio político na questão. Pesos-pesados, como ThyssenKrupp, Bayer, Bosch, Volkswagen e BMW, formaram uma aliança para tratar do assunto, cujos primeiros resultados já são visíveis: desde o começo do ano, o governo alemão está concedendo mais garantias de empréstimo para projetos no setor. Além disso, as chamadas parcerias com países ricos em recursos naturais devem ajudar as empresas alemãs a encontrar potenciais parceiros comerciais nesses países.
Riscos para o meio ambiente
ONGs veem a corrida pelos recursos naturais com ceticismo. "O resultado é sempre a contaminação de rios e lençóis d'água e a poluição do ar", critica Pirmin Spiegel, diretor da organização católica Misereor, que recentemente divulgou o estudo Do minério ao automóvel, feito em parceria com a organização não governamental Brot für die Welt, ligada à igreja evangélica alemã. O estudo analisa a cadeia produtiva do setor de matérias-primas.
Diante de denúncias de violações dos direitos humanos e das más condições de trabalho, os autores defendem um maior controle sobre as empresas. "O governo alemão e a União Europeia devem obrigar as empresas a divulgar seu gastos com matérias-primas e a origem destas", diz Cornelia Füllkrug-Weitzel, presidente da Brot für die Welt.
Segundo ela, a defesa dos direitos humanos e a proteção ambiental são diretrizes essenciais para a sustentabilidade no setor de matérias-primas. Essas diretrizes, afirmou a diretora da Brot für die Welt, deveriam orientar a Alemanha na sua busca por parcerias em outros países.