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De olho na reconstrução do Iraque

Steffen Leidel (gh)20 de março de 2003

Alemanha é contra a guerra no Iraque, mas governo e empresas têm interesse em participar da futura reconstrução do país. Alemães temem ser discriminados pela administração norte-americana.

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Poços de petróleo do Kuweit em chamas na Guerra do Golfo de 1991Foto: AP

Enquanto militares norte-americanos escolhem os alvos de destruição do Iraque, autoridades de alto escalão de governos e empresas ocidentais já elaboram os planos de reconstrução do país após a guerra. Oficialmente, o governo alemão se negava a falar no assunto até o início da guerra, por haver se posicionado contra ela e jamais quis indicar que o conflito era inevitável, mas nos bastidores de Berlim já se discutia uma participação em programas de ajuda humanitária e até o envio de mil soldados em missão de paz.

Segundo cálculos de uma comissão de especialistas internacionais, o custo total da reconstrução do Iraque poderá ser de 200 bilhões de dólares (cerca de 2,5 bilhões de dólares ao ano no período pós-guerra).

O governo dos Estados Unidos supostamente já teria planos para licitações no valor de 900 milhões de dólares. Seria o maior programa do gênero desde a reconstrução da Alemanha e do Japão após a Segunda Guerra Mundial. No Iraque, os EUA estariam dispostos a investir o dobro dos recursos que injetarão no Afeganistão até 2004.

Segundo a revista Der Spiegel, internamente o governo alemão já admite ajudar com recursos do Instituto de Crédito para a Reconstrução (Kreditanstalt für Wiederaufbau) e enviar até mil soldados para integrar as tropas de paz. "Tudo depende de quem fizer o pedido. Se ele vier das Nações Unidas, Berlim dificilmente negará a ajuda", disse um membro do governo.

Oportunidade de negócio -

Segundo informações obtidas pela DW-WORLD, alguns empresários alemães vêem na reconstrução do Iraque uma boa oportunidade de negócios, embora evitem dizer isso publicamente. O pior cenário imaginável para essas empresas é que militares dos Estados Unidos sucedam o regime de Saddam Hussein no governo iraquiano e controlem as licitações para reconstruir o país.

Os empresários ouvidos pela DW-WORLD manifestaram-se indignados com o fato de que somente firmas norte-americanas e inglesas possam participar de licitações feitas pelo governo dos Estados Unidos. "Pois são justamente os EUA que costumam insistir na internacionalidade das licitações", disse um empresário.

Comércio bilaterial - O interesse das empresas alemãs no Iraque não é novo. Produtos Made in Germany são muito cobiçados pelos iraquianos. Muitas fábricas do Iraque estão equipadas com tecnologia alemã.

As relações comerciais teuto-iraquianas tiveram seu auge nos anos 80, quando a Alemanha exportou produtos no valor de aproxidamente quatro bilhões de euros para o Iraque. O embargo econômico, imposto pelas Nações Unidas após a Guerra do Golfo de 1991, arruinou o comércio bilateral, mas muitos empresários alemães mantiveram os contatos pessoais com seus colegas iraquianos, na esperança de um dia poderem retomar os negócios.

Especialistas prevêem, porém, que, após a deposição de Saddam Hussein, alemães, franceses e russos não serão os primeiros da fila, e sim, os americanos. Desta forma, os EUA se vingariam da oposição que enfrentaram no Conselho de Segurança da ONU.

Fatias do bolo - Os projetos mais lucrativos provavelmente serão abocanhados pelos norte-americanos. Segundo o Wall Street Journal, a Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID) já teria enviado propostas de licitação secretas a empresas de construção civil, entre elas, a empreiteira Bechtel, da Califórnia, que participou da reconstrução do Kuweit em 1991.

Uma subsidiária da companhia petrolífera texana Halliburton, a Kellog Brown & Root, dirigida até 2000 pelo atual presidente dos EUA, Dick Cheney, teria recebido uma encomenda muito especial da Secretaria da Defesa norte-americana: elaborar um plano para combater possíveis incêndios em poços de petróleo do Iraque.

Especialistas calculam que pelo menos cinco bilhões de dólares serão necessários para recuperar a infra-estrutura de extração do petróleo. Além disso, deverá ser reconstruído todo o sistema de abastecimento de água. Bush quer também comprar livros para 25 mil escolas e investir 100 milhões de dólares no sistema de saúde iraquiano. O que Bush não apresentou até agora é um plano para financiar a reconstrução. Parte do dinheiro deverá vir da venda de petróleo iraquiano no mercado mundial.