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De olho nas eleições, Timochenko ainda não empolga manifestantes

Roman Goncharenko (msb)24 de fevereiro de 2014

Recém-libertada da prisão, ex-premiê, antes símbolo da oposição, enfrenta resistência por parte do movimento que tirou Yanukovitch do poder. Passado ligado a escândalos pode minar seu caminho à presidência da Ucrânia.

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Foto: Reuters

Uma Mercedes preta é parada no meio da rua. A janela traseira direita se abre e revela o rosto da recém-libertada Yulia Timochenko – ex-primeira-ministra ucraniana, durante anos principal figura da oposição e que estava há dois anos e meio presa.

"Você não vai esquecer quem fez essa revolução, não?", questionou um homem, em tom levemente ameaçador. "Eu não vou esquecer, essa é a coisa mais importante para mim", respondeu Timochenko, aparentemente surpresa.

Os homens que pararam o comboio da ex-primeira-ministra e de Arseni Yatsenyuk, líder da bancada parlamentar de seu partido, Pátria, pertencem ao grupo oposicionista Autodefesa da Maidan (a praça que se tornou epicentro dos protestos). Um deles disse que a forma "autoritária" como os dois políticos se comportaram ao serem interpelados não agradou.

A cena da noite do último sábado (22/02) em Kiev é simbólica: mostra a postura da população diante daquela que já foi uma das mais importantes líderes da oposição. Em sua primeira aparição na Praça da Independência (Maidan), logo após ser libertada, Timochenko, de 53 anos, anunciou a intenção de concorrer à Presidência. As eleições antecipadas estão previstas para o fim de maio.

Ukraine Julia Timoschenko Rede Maidan 22. Feb. 2014
Cartazes com foto de Timochenko eram visto por todos os lados durante os protestos em KievFoto: Reuters

Mas a empolgação de milhares de ucranianos com a aparição de Timochenko foi limitada. "Já chega de Yulia", escreveu o jornalista Serhi Leshtchenko, colunista do jornal Ukrainska Pravda. Segundo ele, o processo contra a ex-premiê teve, sim, motivações políticas, mas não é o momento de ela comandar o país.

O novo líder ucraniano, defende Leshtchenko, precisa ser alguém limpo de denúncias de corrupção. Ele refere-se provavelmente ao passado de Timoshenko como diretora de uma companhia de gás nos anos 1990 marcada por escândalos. "Maidan fez nascer centenas de líderes que não vão governar de maneira pior que Timochenko", diz o articulista.

Conflito em potencial

"Querida Yulia Timochenko, nós não protestamos por sua causa na Praça Maidan, tampouco por seu representante Alexander Turtchinov", escreveu uma ativista no Facebook, refletindo uma opinião cada vez mais disseminada na Ucrânia. "E não foi por você que pessoas perderam as vidas nas barricadas", continuou. Para ela, é melhor que a ex-premiê vá receber tratamento médico na Alemanha e fique longe da presidência da Ucrânia.

No domingo, Turtchinov foi designado pelo Parlamento como presidente interino. Apenas um dia antes ele havia sido eleito para comandar o Legislativo. Com os dois cargos, o braço-direito de Timochenko é hoje o homem mais poderoso da Ucrânia.

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Novo presidente interino Turtchinov é aliado de primeira ordem de TimochenkoFoto: imago/ITAR-TASS

O retorno de Timochenko à política tem um grande potencial de conflito, afirmam observadores em Kiev. Apesar de a imagem Timochenko, com as tranças loiras em volta da cabeça, ter sido exibida com frequência em cartazes durante os protestos, sua libertação nunca esteve entre as principais exigências dos manifestantes.

Nem o controverso processo contra a líder da oposição, nem a sentença por ela recebida no segundo semestre de 2011 motivaram a mobilização das massas.. Ao que parecia, o destino da política era mais alvo de preocupação do Ocidente do que de seu próprio povo.

Muitos ucranianos a consideram culpada pelo fracasso da chamada Revolução Laranja, em 2004, da qual Timochenko foi uma das figuras centrais. Eles também não se esquecem de que em 2009 ela tentou abertamente chegar a um acordo com Yanukovytch no Parlamento para mudar a Constituição. O pacto não foi acertado porque, no fim, o próprio presidente foi contra.

Disputa com Klitschko

Também paira uma ameaça de conflito entre Timochenko e Klitschko no ar. Há anos o relacionamento dos dois oposicionistas é tenso. Quando o ex-pugilista concorreu a prefeito de Kiev em 2008, a ex-primeira-ministra não apenas não deu seu apoio a Klitschko como ainda lançou seu vice, Turtchinov, para o cargo. Os dois perderam.

Tanto Timochenko quanto Klitschko têm ambições presidenciais – e já deixaram isso claro puiblicamente. Apesar de não haver pesquisas de opinião recentes, levantamentos anteriores mostram que Klitschko tem vantagem no quesito confiança.

Ukraine Krise Vitali Klitschko 22.02.2014
Klitschko coordenou os protestos na Ucrânia de olho na presidênciaFoto: Reuters

Diferentemente de Timochenko, que estava na prisão, o ex-lutador participou ativamente dos protestos e até tentou evitar o banho de sangue. Agora, é possível que ele se sinta passado para trás.

No sábado, porém, a líder oposicionista relativizou suas intenções políticas. Não seria o momento, segundo ela, de falar de corrida presidencial. Mas ainda é muito cedo para descartar Timochenko. Entre os atuais integrantes da oposição, ela é a mais experiente e dona da retórica mais afiada. Apesar da pouca empolgação despertada, não seria surpresa vê-la eleita em maio.