Debate na TV é marcado por críticas e ataques entre candidatos
27 de agosto de 2014Candidatos à Presidência brasileira enfrentaram-se pela primeira vez em debate televisionado na noite desta terça-feira (26/08). Passando por temas como segurança, economia, relações exteriores, saúde, aborto e drogas, os sete participantes responderam, durante quase três horas, a perguntas da população, dos jornalistas e também dos oponentes, gerando os primeiros embates diretos.
Seguindo a tradição, o primeiro debate foi promovido pela TV Band e mediado pelo jornalista Ricardo Boechat. O programa foi dividido em seis blocos. No primeiro, os candidatos responderam a uma das perguntas enviada por eleitores. A questão abordava índice de assassinatos em cidades brasileiras e a situação nos presídios, reacendida após rebelião na Penitenciária Estadual de Cascavel, no Paraná, no último fim de semana.
Marina Silva (PSB) usou grande parte do tempo inicial para se colocar como sucessora de Eduardo Campos, morto em acidente aéreo no último dia 13, e retomar o discurso da "nova política". Ao responder à questão dos eleitores, apresentou dados, mas não detalhou propostas concretas.
Já Aécio Neves (PSDB) foi direto ao ponto, destacando a experiência que teve à frente do governo de Minas Gerais e defendeu a criação de uma política nacional de segurança.
Em seguida, Dilma Rousseff (PT) propôs alteração constitucional para compartilhamento de responsabilidade entre união e Estados e falou do legado da Copa do Mundo na área de segurança.
Além dos três nomes com melhor desempenho nas últimas pesquisas, também participaram do debate candidatos com menor intenção de votos: Pastor Everaldo (PSC), Luciana Genro (PSOL), Eduardo Jorge (PV) e Levy Fidelix (PRTB).
Embates diretos
Na etapa de embates diretos entre candidatos, Dilma foi escolhida logo nos primeiros momentos para responder aos questionamentos. Por sorteio, Marina foi a primeira a perguntar e abordou os pactos firmados pela presidente após as manifestações de junho do ano passado.
Rebatendo as críticas de Marina, Dilma disse que "tudo deu certo". Ela citou medidas adotadas pelo governo ou iniciativas de mudanças na legislação – como na área de reforma política – enviadas para o Congresso. Em resposta, Marina disse que a atual presidente tem apresentado um Brasil "quase cinematográfico", tanto no debate, quanto nas propagandas eleitorais.
No embate entre Dilma e Aécio, a candidata à reeleição provocou o tucano com dados de desemprego durante o governo de Fernando Henrique Cardoso e pediu explicações sobre "medidas impopulares" que ele adotaria ao ser eleito. Ao responder, Aécio focou no papel da indústria para geração de vagas, setor que teria sido "sucateado" durante os governos petistas.
Dilma e Aécio voltaram a se enfrentar diretamente quando o tucano a desafiou a pedir desculpas pela "gestão temerária à frente da Petrobrás". Ao responder, a presidente explorou a descoberta do Pré-Sal, classificou como "leviandade" as acusações e disse empreender uma "luta incansável contra a corrupção".
Marina x Aécio
A pesquisa Ibope divulgada poucas horas antes do início do debate posicionou Marina dez pontos percentuais à frente de Aécio, o que coloca os dois em confronto direto pela vaga em um possível segundo turno.
Na primeira oportunidade que teve de escolher o oponente, Aécio atacou Marina e questionou a chamada "nova política", ressaltando as divergências internas na coligação que ela representa – tornadas mais evidentes após a morte de Eduardo Campos. "Reconheço que existem pessoas boas em todos os partidos", disse Marina.
Aécio insistiu, afirmou não entender a nova política e disse preferir a separação entre "a boa política e a má política". Marina insistiu e criticou a polarização PT x PSDB, que ela considera parte da "velha política".
Ao final do debate, o jornalista Boris Casoy perguntou a Marina sobre como ela recebe as críticas daqueles que a consideram uma ambientalista radical. Ao responder, a candidate disse que, enquanto ministra do Meio Ambiente, foi a responsável por viabilizar as "licenças mais difíceis dessa república". Neves, por outro lado, voltou a criticar o atual governo ao dizer que não foram exploradas formas alternativas de geração de energia, como biomassa.
Modelo de gestão
Outro tema bastante explorado pelos candidatos com maior expressão nas pesquisas foi o modelo de gestão no Executivo, de uma maneira geral, e mudanças em setores mais críticos, como saúde e transporte.
Assim como tem ocorrido nas propagandas no rádio e na TV, Dilma focou nos programas de governo criados nos anos de gestão do PT, especialmente o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida.
Aécio voltou a defender um modelo de meritocracia na administração pública e citou ações implementadas no governo estadual de Minas Gerais. O candidato também falou em mudanças na gestão do transporte público, prometendo parcerias com o setor privado, "com regras absolutamente claras".
Ao ser perguntada sobre a organização dos ministérios, Marina defendeu uma visão estratégica e disse que fechará ministérios – sem dizer quais.
Candidatos de menor expressão
Apesar de não alcançarem percentual significativo nas pesquisas de intenção de voto, a participação dos candidatos com menor expressão deu dinamismo ao debate presidencial. Luciana Genro (PSol) adotou a estratégia de apontar as semelhanças entre os três candidatos mais fortes. Ao responder perguntas de jornalistas, defendeu, entre outras coisas, reforma agrária, "demarcação imediata" de terras indígenas e debate sobre drogas nas escolas.
Levy Fidelix (PRTB) apresentou propostas como diminuição da maioridade penal, aumento no orçamento de segurança e permissão de posse de arma pelo cidadão comum.
O candidato Eduardo Jorge (PV) fez breve apresentação de sua biografia e entre suas propostas estava a legalização de drogas como maneira de cortar o fluxo de dinheiro para facções criminosas.
Já o Pastor Everaldo (PSC) prometeu, entre outras coisas, cortar para 20 o número de ministérios, criar uma pasta exclusiva para a segurança pública e fazer uma reforma previdenciária.