Ministro em xeque
29 de agosto de 2011A mais recente crise em torno do ministro do Exterior da Alemanha, Guido Westerwelle, começou domingo (28/08), quando ele declarou que as sanções da Alemanha desempenharam um papel-chave na vitória da rebelião na Líbia, sem citar as ações da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Diante do mal-estar, Westerwelle, que é considerado o ministro alemão do Exterior mais impopular desde a Segunda Guerra Mundial, viu-se forçado a se retratar e reconhecer publicamente que "foram os líbios, com a ajuda da intervenção militar internacional, que derrubaram o regime de Muammar Kadafi".
Nesta segunda-feira, em uma conferência para 200 embaixadores alemães em Berlim, Westerwelle tentou contornar o imbróglio diplomático. Ele disse estar satisfeito que o regime de Kadafi tenha chegado ao fim. E declarou ainda que, "precisamente porque avaliamos de forma diferente as oportunidades e os riscos, nós respeitamos a França e nossos aliados por aplicarem a Resolução 1973", disse ele.
O ministro francês do Exterior, Alain Juppe, participou da conferência como convidado e criticou Westerwelle indiretamente. Em Berlim, Juppe disse que "foi apenas graças à intervenção da comunidade internacional que foi evitado um verdadeiro banho de sangue".
Erro diplomático
Guido Westerwelle desempenhou um papel central na decisão da Alemanha de não se envolver militarmente na campanha da Líbia. No dia 17 de março, por orientação de Westerwelle, o embaixador da Alemanha na ONU se absteve de votar quando o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou a Resolução 1973, que autorizou a Otan a impor uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia com o intuito de proteger civis.
A abstenção incomodou os aliados e foi criticada por muitos alemães. A Alemanha, que ocupa um dos assentos rotativos no conselho, foi o único país europeu, e também o único membro da Otan, a se abster de votar. O ex-ministro alemão do Exterior Joschka Fischer, do Partido Verde, chamara a abstenção da Alemanha de "o maior erro diplomático do país em seis décadas".
As declarações deste fim de semana isolaram Westerwelle politicamente, já que tanto a chanceler federal Angela Merkel quanto o ministro da Economia, Philipp Rösler, elogiam a Otan publicamente. Com a turbulência, Westerwelle, que renunciou em abril ao cargo de líder do partido liberal (FDP, do alemão), enfrenta agora novas dúvidas a respeito de seu futuro.
Na avaliação do Partido Verde, a permanência de Westerwelle no Ministério do Exterior não seria mais viável. "Nós temos um ministro do Exterior que goza de prestígio zero em nível internacional e que agora também perdeu o apoio do próprio partido e do governo federal", disse a presidente dos verdes, Claudia Roth, que exige a renúncia imediata de Westerwelle.
Mas apesar de assumir uma posição diferente da do seu colega da pasta do Exterior em relação à intervenção militar, o ministro da Economia, Philipp Rösler, que assumiu a liderança do FDP no lugar de Westerwelle, rejeitou os chamados para demitir o ministro. E para evitar mais lenha na fogueira, o partido cancelou uma conferência de imprensa marcada para esta segunda-feira.
O porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, também disse nesta segunda-feira que os relatos de uma possível renúncia de Westerwelle são "fictícios", acrescentando que Merkel deposita "total confiança nele".
"O fim está próximo"
Na imprensa alemã, o ministro recebeu críticas de todos os lados. "Um ministro à prova", dizia a manchete desta segunda-feira do jornal conservador Die Welt.
No diário de esquerda Tageszeitung, a capa trazia a pergunta "Quem vai primeiro?", com as fotos de Westerwelle e Kadafi lado a lado.
O Leipziger Zeitung escreveu que, ao finalmente reconhecer o papel de liderança da Otan, Westerwelle "provavelmente ganhou mais algum tempo como ministro do Exterior. Mas seu fim político, de acordo com alguns líderes de seu partido, está próximo".
O jornal Kölner Stadt-Anzeiger publicou que o líder do partido liberal, Philipp Rösler, teria sugerido o secretário de Estado da pasta do Exterior, Werner Hoyer, para o cargo de Westerwelle. Mais tarde, a informação seria negada por Rösler.
Observadores políticos acreditam que o partido estaria preocupado que a demissão de Westerwelle possa levar os liberais a perder votos em duas eleições estaduais, marcadas para o mês que vem.
FF/dpa/rtr/afp
Revisão: Roselaine Wandscheer