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Delator diz que Temer pediu R$ 10 milhões a Odebrecht

10 de dezembro de 2016

Segundo imprensa brasileira, ex-executivo da empreiteira afirma, em depoimento à Lava Jato, que valor foi negociado pelo presidente em 2014. Cunha e advogado José Yunes, assessor de Temer, teriam recebido repasses.

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Temer entre Renan Calheiros e Rodrigo Maia, também citados pelo ex-funcionário da OdebrechtFoto: REUTERS/U. Marcelino

Um ex-executivo da Odebrecht relatou, em depoimento à força-tarefa da Operação Lava Jato, que o presidente Michel Temer pediu, em 2014, 10 milhões de reais ao herdeiro da empreiteira, Marcelo Odebrecht. O conteúdo foi divulgado pela imprensa brasileira nesta sexta-feira (09/12).

O autor da declaração é o ex-vice-presidente de Relações Institucionais da empresa Cláudio Melo Filho, um dos 77 funcionários que assinaram acordos de delação premiada com a Lava Jato.

A revista Veja, que disse ter tido acesso às 82 páginas da delação de Melo Filho, afirmou que o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, era o operador dos repasses da Odebrecht. "Sempre soube que Eliseu Padilha representava a figura política de Michel Temer", disse o executivo, segundo a Veja.

De acordo com vários veículos brasileiros, o delator revelou que participou, em maio de 2014, de um jantar ao lado de Temer, Padilha e Marcelo Odebrecht no Palácio do Jaburu, em Brasília – Temer era vice-presidente na época. Na reunião, o peemedebista teria solicitado "direta e pessoalmente" a Odebrecht um apoio financeiro para as campanhas eleitorais de seu partido naquele ano.

"No jantar, acredito que considerando a importância do PMDB e a condição de possuir o vice-presidente da República como presidente do referido partido político, Marcelo Odebrecht definiu que seria feito pagamento no valor de R$ 10 milhões", diz a delação, segundo o portal de notícias G1.

Dos 10 milhões de reais, de acordo com Melo Filho, Padilha ficou responsável por receber e distribuir 4 milhões de reais. O delator afirmou que, desse valor, cerca de 1 milhão foi destinado ao deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso em Curitiba pela Lava Jato. A outra parte teria sido entregue no escritório do advogado José Yunes, amigo e assessor de Temer, afirmou a Veja.

"Compreendi que os outros R$ 6 milhões, por decisão de Marcelo Odebrecht, seriam alocados para o sr. Paulo Skaf", afirmou o executivo, citado pelo G1. Skaf, que é presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), foi candidato ao governo paulista pelo PMDB em 2014.

O ex-funcionário revelou ainda que esses repasses eram feitos regularmente a diversos políticos, que, em troca, atuavam na aprovação de medidas que interessavam a Odebrecht. Era, segundo ele, "uma espécie de contrapartida institucional esperada entre público e privado". 

O jornal Folha de S. Paulo disse que foram mencionados por Melo Filho na delação mais de 20 políticos, entre eles, outros caciques do PMDB, como Renan Calheiros, Moreira Franco, Eunício Oliveira e Romero Jucá. Também surgiu o nome do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Planalto repudia acusação

Em nota, o Palácio do Planalto diz que "o presidente Michel Temer repudia com veemência as falsas acusações do senhor Cláudio Melo Filho". "As doações feitas pela construtora Odebrecht ao PMDB foram todas por transferência bancária e declaradas ao TSE [Tribunal Superior Eleitoral]. Não houve caixa 2, nem entrega em dinheiro a pedido do presidente", afirma o comunicado.

O ministro Padilha também negou que tenha recebido recursos ilícitos da Odebrecht. "Não fui candidato em 2014. Nunca tratei de arrecadação para deputados ou para quem quer que seja. A acusação é uma mentira. Tenho certeza que, no final, isto estará comprovado", diz ele em nota.

Acordos de delação e leniência

Os depoimentos dos executivos da Odebrecht à Lava Jato tiveram início nesta semana, mas a maioria está prevista para a semana que vem, incluindo a de Marcelo Odebrecht. Ele já foi condenado a 19 anos de prisão pelos crimes de corrupção passiva, associação criminosa e lavagem de dinheiro.

A empresa também assinou um acordo de leniência com a Lava Jato – uma espécie de delação, mas para empresas, em que garante o direito de continuar sendo contratada pelo poder público.

Além de revelar aos investigadores práticas ilícitas cometidas por diretores e funcionários, a construtora se compromete a pagar uma multa de 2,5 bilhões de dólares (cerca de 6,8 bilhões de reais). O valor será dividido entre Brasil, que deve ficar com maior parte, Estados Unidos e Suíça.

EK/abr/lusa/ots