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Denúncias de espionagem dificultam acordo de livre comércio UE-EUA

Christian Ignatzi (ca)9 de julho de 2013

União Europeia e Estados Unidos iniciaram as negociações para um acordo de livre comércio apesar das críticas de muitos políticos europeus, irritados com as denúncias de espionagem pelos americanos.

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Foto: Getty Images

Negociar ou não negociar? Após as revelações do ex-consultor da CIA Edward Snowden, a comissária europeia da Justiça, Viviane Reding, exigiu a paralisação das negociações sobre o acordo de livre comércio entre a União Europeia (UE) e os EUA até que seja esclarecido se a Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) realmente espionou instituições europeias. Trata-se de um acordo para facilitar o comércio, abolir tarifas alfandegárias e criar milhares de postos de trabalho.

Mas as conversações começaram, como planejado, nesta segunda-feira (08/07) – apesar das denúncias de que os serviços de inteligência dos EUA teriam feito escutas clandestinas nas representações da UE em Washington.

O candidato dos liberais à Chancelaria Federal alemã, Rainer Brüderle, defendeu que as negociações fossem abertas com o tema da espionagem econômica. "De nada adianta reduzir tarifas e, ao mesmo tempo, espionar empresas", disse Brüderle à emissora alemã ARD, acrescendo que não pode haver nenhum acordo sem que a questão da espionagem econômica seja esclarecida.

Paralelamente às questões comerciais, um grupo de trabalho iniciou discussões sobre as acusações de espionagem, anunciou a representação da UE em Washington. As discussões em nível oficial abordarão, primeiramente, questões de datas e procedimentos. Mais detalhes não foram revelados.

Políticos alertam contra a espionagem industrial

A denúncia de que a NSA interceptou o tráfego de dados também na Alemanha causou grande alvoroço no país. Políticos temem que os americanos não estejam interessados somente no combate ao terrorismo, mas também em informações sobre empresas.

Rainer Brüderle schweigt
Rainer Brüderle alerta para a espionagem econômicaFoto: dapd

Em entrevista ao jornal Rheinische Post, o líder da bancada conservadora no Parlamento alemão, Volker Kauder, disse que espionar a economia dos parceiros não combina com a ideia de uma zona de livre comércio. No jornal Süddeutsche Zeitung, a ministra alemã da Justiça, Sabine Leutheusser-Schnarrenberger, exigiu que as negociações devessem discutir, primeiramente, a situação dos segredos comerciais e operacionais.

A China sempre foi considerada o país número 1 em termos de espionagem empresarial. Essa situação não mudou, disse o especialista Gabriel Felbemayr, do instituto de pesquisas econômicas IFO, de Munique.

Ele disse não ver nenhuma conexão entre a espionagem econômica e o futuro acordo de livre comércio entre os Estados Unidos e a União Europeia. Se há algo negativo no acordo, não seria a espionagem econômica, disse o especialista, mas a concorrência cada vez mais feroz para as empresas menores. "Elas terão dificuldades no futuro", avaliou Felbemayr. Mas o especialista do IFO está certo de que "os benefícios prevalecerão, de qualquer forma."

Relação entre Alemanha e EUA

Mas há especialistas que acusam agências ocidentais de inteligência de espionar sistematicamente empresas alemãs. Isso não é sem fundamento. O serviço de inteligência britânico GCHQ é expressamente responsável também pelo "bem-estar da economia". A frase "bem-estar econômico" se encontra no primeiro parágrafo da Lei do Serviço de Inteligência, de 1994. A lei britânica descreve as tarefas dos serviços de inteligência.

Barack Obama / Angela Merkel / Schloss Charlottenburg / Berlin
Encontro de Obama e Merkel em Berlim: tudo ainda estava em pazFoto: Reuters

Se as acusações são pertinentes ou não – fato é que as relações entre os EUA e a Alemanha estão tensas, disse o especialista político Stephan Bierling, da Universidade de Regensburg. "É claro que as relações estão abaladas. Os americanos foram longe demais com os métodos de escuta. Principalmente, é claro, a escuta da embaixada da União Europeia."

Bierling disse que isso não vai ser aceito sem reclamações pelos europeus. "Embora tenha de ser dito que todos aqui estão jogando um jogo de cartas marcadas." Isso fica evidente no acordo de cavalheiros que o Serviço Federal de Informações da Alemanha (BND, na sigla em alemão) tem com a NSA no que diz respeito à comparação de dados. "Os alemães também se beneficiam das informações recolhida pelos americanos", disse Bierling.

Negociações podem fracassar

No entanto, Bierling disse não acreditar que as relações entre a Alemanha e os EUA irão melhorar novamente em breve. "Já desde o fim da Guerra Fria os dois países não têm mais tanto interesse um no outro", afirmou. "Aos olhos dos americanos, os alemães são um parceiro pouco confiável." Ele cita como exemplos as intervenções no Afeganistão e na Líbia, quando os alemães mostraram reservas em relação a uma participação militar mais efetiva.

USA Hauptquartier NSA Fort Meade
Central da NSA em Fort Meade controla interceptação de dadosFoto: picture-alliance/dpa

Por outro lado, a Alemanha demonstra cada vez mais ceticismo em relação aos EUA. "Obama pode ter aludido aos valores comuns em seu discurso no Portão de Brandemburgo, Merkel pode ter recebido a Medalha da Liberdade do presidente americano, mas aquela parceria estreita e natural não existe mais."

A relação tensa entre as duas nações não deverá facilitar as negociações em torno de um acordo de livre comércio no âmbito da UE. "Mas isso não deverá ser motivo para que elas fracassem", avaliou Bierling. "Existem problemas muito maiores que podem levar a um fracasso, como a carne tratada com hormônios ou a exigência francesa de uma zona de proteção para conteúdos audiovisuais." Para Bierling, as chances de fracasso das negociações são relativamente altas, e o escândalo de espionagem é somente um pequeno problema entre muitos.